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Hamish Harding, Paul-Henry Nargeolet, Shahzada e Sulaiman Dawood e Stockton Rush. São estes os cinco tripulantes do submersível Titan, que no passado domingo desapareceu, durante uma expedição aos destroços do Titanic.
A bordo da embarcação fechada, de 6,7 metros de comprimento por apenas 3 metros de largura, seguirá o fundador e CEO da Ocean Gate, a empresa que organiza viagens de oito dias aos destroços do navio que naufragou na madrugada de 14 de abril de 1912, depois de chocar contra um icebergue, no Atlântico Norte, a cerca de 640km da ilha canadiana de Terra Nova.
Stockton Rush, de 61 anos, é também o chefe da equipa de pilotos de teste da Ocean Gate, ao que tudo indica a única empresa no mundo a oferecer, pela quantia de 250 mil dólares por cabeça, viagens ao fundo do mar, para ver, ao perto, o que resta do navio inglês que se afundou na viagem inaugural, provocando a morte de 1.517 pessoas.
Antes de se dedicar à exploração das profundezas do oceano, Rush foi piloto de aviação — de acordo com o site da Ocean Gate, tinha apenas 19 anos quando, em 1981, completou a formação aos comandos de um DC-8, tornando-se o “piloto de transporte a jato mais jovem do mundo”.
Licenciado em engenharia aeroespacial em Princeton e engenheiro no programa de caças dos EUA, confessou em várias entrevistas sempre ter sonhado ser astronauta — mas acabou por descobrir que, por causa dos problemas de visão, nem para piloto da Força Aérea seria elegível, revelou em 2017 ao britânico Independent. “Pensei: ‘Vou ganhar dinheiro suficiente para comprar a minha entrada no espaço'”, disse na altura que chegou a equacionar, mas, com o tempo e a chegada da Virgin Galactic de Richard Branson ao turismo espacial, acabou por virar-se para o mar.
Depois de uma passagem pela banca de investimento, ganhou dinheiro suficiente para, em 2009, fundar a Ocean Gate. “Apercebi-me de que o que eu realmente queria fazer era explorar. Queria ser o Capitão Kirk e, na nossa vida, a última fronteira é o oceano”, disse, também em 2017, à Fast Company.
Mergulhador certificado desde os 14 anos, Stockton Rush já era adulto, casado e pai de dois filhos quando percebeu que havia “uma maneira melhor de explorar o oceano” e se estreou no mundo dos submersíveis. Depois de um primeiro curso de um dia, no Maryland, comprou o seu primeiro submersível, que modificou e melhorou, e nunca mais parou.
No passado domingo, antes de submergir ao largo da ilha da Terra Nova, terá cumprido os rituais de sempre, que revelou em 2020 numa entrevista ao blog da sua própria empresa: dormir muito bem na noite anterior, comer pouco nas 24 horas anteriores e deixar de ingerir líquidos uma hora antes. Terá aconselhado o mesmo aos restantes tripulantes do Titan.
Hamish Harding será o mais parecido com o CEO da Ocean Gate: tambem ele piloto de jatos, com 16 recordes de velocidade aérea, foi o primeiro britânico a ultrapassar a Linha de Karman, numa viagem de 11 minutos a bordo da Blue Origin, de Jeff Bezos.
Aos 58 anos, também casado e com dois filhos, vive no Dubai, onde estabeleceu a sede da Action Aviation, a empresa que fundou e que dirige que se dedica à compra e venda de jatos executivos.
Formado em Cambridge, milionário, Hamish Harding é essencialmente conhecido como “aventureiro”: para além de deter três recordes mundiais do Guinness, um deles pelo mergulho de quatro horas e 15 minutos que fez na Fossa das Marianas, o local mais profundo dos oceanos; e outro pela circum-navegação mais rápida da Terra numa aeronave, através dos polos norte e sul, também recebeu o prémio Living Legends of Aviation.
Assinalou o Telegraph no perfil que esta terça-feira publicou, Richard Branson, Jeff Bezos, Elon Musk e Buzz Aldrin foram algumas das outras personalidades agraciadas com o galardão. Em 2016, o britânico estava com o mítico astronauta, então com 86 anos, na expedição que fez dele o homem mais velho a pisar o Polo Sul. Quatro anos mais tarde, Harding repetiu o feito, com outra companhia: levou o filho Giles, então com 12, que se tornou assim o mais jovem de sempre a chegar à Antártida.
Se nesta expedição aos destroços do Titanic o milionário britânico não levou nenhum dos filhos, Shahzada Dawood, empresário com residência no Reino Unido que é um dos homens mais ricos do Paquistão, fez-se acompanhar do primogénito, Suleiman, de apenas 19 anos.
“Estamos muito gratos pela preocupação demonstrada pelos nossos colegas e amigos e gostaríamos de pedir a todos que rezem pela segurança deles e que garantam a privacidade da família neste momento”, pediu a família, num comunicado emitido esta terça-feira de manhã.
Bacharel em Direito pela Universidade de Buckingham, no Reino Unido, e mestre em Marketing Têxtil Global pela Universidade de Filadélfia, nos EUA, Shahzada Dawood fez parte da lista de Jovens Líderes Globais do Fórum Económico Mundial em 2012 e hoje, além de membro do Conselho Consultivo Global do Prince’s Trust International, a instituição de caridade fundada pelo agora rei Carlos III, faz parte dos conselhos de administração de uma série de empresas da família.
Um dos netos de Seth Ahmed Dawood, o industrial e filantropo nascido na Índia britânica que em 1947, logo após a fundação do Paquistão, se mudou para o país, onde deu seguimento ao império têxtil que começou a fundar há mais de um século, Shahzada é ainda, aos 48 anos, um dos administradores do SETI, o instituto que se dedica à investigação da vida extraterrestre e de que Carl Sagan fez parte até morrer.
O francês Paul-Henry Nargeolet, de 73 anos, também dedicou a vida à investigação, mas justamente sobre o Titanic. Nascido em Chamonix, passou a infância e parte da adolescência em África. De regresso a Paris, acabou os estudos e ingressou na Marinha — onde permaneceu durante os 22 anos seguintes e chegou a comandante.
Considerado uma das maiores autoridades mundiais (senão a maior) no naufrágio do Titanic, Nargeolet liderou várias expedições aos destroços do navio — nomeadamente a primeira expedição de recuperação, em 1987, estava já no Ifremer, o Instituto Francês para a Exploração do Mar.
Ao todo, supervisionou o resgate de cerca de cinco mil artefactos do navio, incluindo um grande pedaço do casco, de cerca de 20 toneladas. Seria, a bordo do Titan, a pessoa com mais experiência ao nível de mergulhos em submersíveis — diz a sua página no site do E/M Group, a entidade onde trabalha agora, como diretor de Pesquisa Subaquática, completou 35 mergulhos em batiscafo (assim se chamam os veículos submersíveis para exploração dos oceanos em águas ultra-profundas), nomeadamente no famoso Nautile e no Cyana.