Primeiro Tomás Tavares, depois o capitão Fábio Vieira. É normal haver uma mudança grande ou quase total entre convocatórias de uma para outra fase final do Campeonato da Europa de Sub-21 pelos limites de idade mas, no caso português, havia dois nomes que podiam transitar da edição de 2021 em que a Seleção voltou a uma final perdida frente à Alemanha. O lateral do Spartak foi o primeiro a cair, com uma lesão grave nos ligamentos do joelho contraída num treino após vários meses em que conseguiu recuperar de outro problema complicado. Mais recentemente, também o médio ofensivo do Arsenal não deu as indicações desejadas em termos físicos e caiu da lista, sendo substituído por Diego Moreira. Entre uma convocatória praticamente “nova” a comprar com a derradeira fase final, saía o jogador mais cotado e MVP da prova em 2021.

Fábio Vieira, um MVP português depois de Figo e William: “Somos vice-campeões europeus mas sabe a pouco”

“Os números demonstram-no. É um jogador muito influente na nossa equipa e na forma de jogar, que já está connosco desde a geração passada e teve uma ótima fase final em 2021. É claro que nos fará falta, tal como nos fariam outros jogadores que estiveram nesta qualificação e se lesionaram. Lamento muito que não possam estar cá. As lesões condicionaram-nos mas continuamos a ter uma excelente Seleção. É lógico dizer que, se não tivessem existido estas lesões, o grupo eventualmente não seria este, mas acredito bastante e estou contente com o comportamento de quem cá está. Como jogadores de qualidade que são, acredito que teremos um bom desempenho”, apontou Rui Jorge, explicando ainda que Diego Moreira podia não ser uma opção imediata para o lugar de Fábio Vieira mas recordando que estava em ação pelos Sub-19 nesta fase.

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Era neste contexto que chegava o dia de estreia para a Seleção Sub-21 em Tbilisi frente a uma das anfitriãs, a Geórgia, a quem Portugal tinha ganho em setembro do ano passado por 4-1 num jogo particular colocado entre a qualificação para a fase final. Apesar desse resultado volumoso, o técnico português não acreditava em facilidades antes de um encontro com um contexto diferente e que traria outro tipo de obstáculos.

“Sabemos que teremos dificuldades. Não posso dizer antes de o jogo começar que um 0-0 seja um mau resultado. Queremos sempre vencer, mas vai depender muito de como este duelo decorrer. São duas equipas diferentes. Creio que a Geórgia é fisicamente superior, mas temos melhores jogadores em termos técnicos. Conhecemos bem a Geórgia e sabemos que há jogadores da seleção principal que podem descer e acrescentar qualidade à equipa que, por norma, compete pelos Sub-21. Têm centrais fortes fisicamente e valorosos a sair a jogar, agressividade no meio-campo e um atleta versátil e com muita qualidade de passe na posição 10″, comentou sobre uma equipa que não contaria também a estrela Khvicha Kvaratskhelia.

As diferenças entre os dois conjuntos, tal como tinha sido previsto na antecâmara, não poderiam ter ficado mais à vista ao longo dos 90 minutos. No entanto, acabou por haver uma nuance que fez toda a diferença na partida contra Portugal: a vertente física do jogo da Geórgia conseguiu superar a qualidade técnica da equipa de Portugal, que melhorou a pique depois das alterações ao intervalo mas não o suficiente para desfazer os males que vinham dos últimos dez minutos da primeira parte e que sentenciaram o resultado numa noite para esquecer de Tomás Araújo, central conhecido pela sua eficácia a ditar regras no eixo recuado que se viu envolvido numa autêntica lei de Murphy onde tudo o que podia correr mal, correu ainda pior.

Rui Jorge manteve-se fiel ao 4x4x2 losango que tem utilizado há largos anos nos Sub-21, com uma linha de quatro defesas com Zé Carlos, Alexandre Penetra, Tomás Araújo e Nuno Tavares que tinha à frente Tiago Dantas mais recuado, João Neves (a fazer a estreia nos Sub-21) e André Almeida como interiores e Afonso Sousa mais próximo no apoio a Pedro Neto e Vitinha, que tão depressa abriam para a subida pelo meio do médio ofensivo do Lech Poznan como jogavam mais por dentro para serem os laterais a dar profundidade. E os primeiros minutos foram mostrando isso mesmo, com muito mais bola para uma equipa nacional que se sentia confortável em posse, com muitos passes, a assumir protagonismo, a recuperar muitas vezes no meio-campo adversário e a quem só falta outro peso e presença na área para a criação de oportunidades.

Aliás, essa foi uma imagem de marca ao longo da primeira parte, com o domínio de Portugal a não ter depois qualquer chance para visar a baliza contrária e a Geórgia a fazer imperar a vertente mais física do jogo para chegar mesmo à vantagem também no primeiro remate que fez à baliza, com Gagua a ser lançado longo na profundidade, a empurrar Tomás Araújo numa carga de ombro nas costas que ficou por assinalar (talvez se o central tivesse caído a decisão fosse outra…) e a rematar forte de pé esquerdo sem hipóteses para Celton Biai (37′). Afonso Sousa ainda tentou remar contra a maré num tiro de meia distância para defesa com os punhos de Kutaladze (41′) mas a Geórgia não perdoou mais uma falha defensiva na zona de um canto onde Tomás Araújo voltou a ficar mal na fotografia, permitindo o cabeceamento de Sazonov para o 2-0 (45+1′).

Rui Jorge não perdeu tempo e mudou tudo ao intervalo, passando para um 4x3x3 com Francisco Conceição na direita do ataque e Henrique Araújo na posição de 9 em vez de Vitinha. E foi o avançado que esteve cedido pelo Benfica ao Watford a deixar o primeiro sinal de perigo, com um desvio na área que passou perto da baliza de Kutaladze (48′), sendo que logo depois também o agora extremo do Ajax teve um cruzamento ainda desviado num defesa que bateu na trave e um remate para defesa por instinto do guarda-redes georgiano (53′). As oportunidades sucediam-se, também com André Almeida a testar por mais de uma vez a sua meia distância, mas os minutos passavam-se sem um golo que reduzisse a desvantagem entre novas tentativas de Samu Costa (72′) e Nuno Tavares (73′), sendo que, como um mal nunca vem só, houve ainda o vermelho direto de novo a Tomás Araújo, que carregou Gagua quando seguia isolado para a baliza nacional (77′).