Depois das lágrimas, os sorrisos. Podiam ser ainda mais sorrisos, já foram alguns sorrisos. Quando chegou a Tóquio em 2021 para os Jogos de 2020, Auriol Dongmo estava apostada em dar tudo e conquistar a primeira medalha olímpica, um objetivo reforçado pela vitória nos Europeus de Pista Coberta (que marcaram a estreia em grandes provas internacionais por Portugal). Ainda passou pelos lugares de pódio, mesmo com registos que ficavam atrás de Gong Lijiao e Raven Saunders, mas acabou por ver a experiente neozelandesa Valerie Adams ficar com o bronze com cinco centímetros a mais do que aqueles 19,57. A desilusão era evidente, a tristeza não tinha consolo e sobrava apenas essa promessa: o ano e meio seguinte seria de redenção.

Nem tudo foi perfeito mas Auriol Dongmo ganhou outro ânimo após a maior deceção da carreira desportiva: conquistou a medalha de ouro nos Mundiais de Pista Coberta com recorde pessoal e nacional a fulminar toda a forte concorrência (20,43), acabou em quinto nos Mundiais ao Ar Livre ao não conseguir superar os 19,62, venceu a medalha de prata nos Europeus ao Ar Livre perdendo apenas para a neerlandesa Jessica Schilder (que bateu o recorde pessoal e nacional com 20,24) e fechou o ciclo com a revalidação do título nos Europeus de Pista Coberta numa prova onde foi a única a passar a marca dos… 19 metros (19,76).

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A redenção depois da “coisa mais horrível da vida”: Auriol Dongmo sagra-se campeã mundial de Pista Coberta

Agora, no arranque de um ciclo que irá terminar nos Jogos Olímpicos de Paris, o grande foco de Auriol desde o frustrante quarto lugar em Tóquio-2020, sendo que antes tem outras grandes provas como os Mundiais ao Ar Livre de Budapeste, em agosto, os Mundiais de Pista Coberta de Glasgow, em março de 2024, e ainda os Europeus ao Ar Livre de Roma, em junho de 2024. Agora, as atenções da lançadora viravam-se para os Jogos Europeus de Cracóvia-Malopolska, uma espécie de Taça das Nações no caso do atletismo. E os indicadores eram positivos, não só a nível de marca mas também de resultados com a vitória nas Ligas Diamante de Rabat e Paris e da quinta posição em Oslo – o que vale nesta altura a liderança acumulada da prova.

Ganhou à Jessica, só faltou a Jéssica: Auriol Dongmo revalida título europeu em Pista Coberta aos 32 anos

No entanto, e apesar de um favoritismo repartido com Jessica Schindler à medalha de ouro, a prova nem começou da melhor forma para Auriol Dongmo, que liderou no final da primeira ronda mesmo com a (muita) modesta marca de 18,42 à frente da sueca Axelina Johansson (18,03), a outra atleta capaz de superar os 18 metros. O corte no final do terceiro ensaio já não tinha a portuguesa na liderança, com a alemã Yemisi Ogunleye na frente com 18,85 e com a atleta do Sporting a somar um 18,45 e um ensaio nulo. Apesar do nível global muito baixo até a nível de referências, Auriol Dongmo que ganhou em Paris com 19,72, necessitava de fazer algo mais para poder ascender ao primeiro lugar com respetiva medalha de ouro. E foi isso que fez.

Auriol Dongmo vence prova de peso da Liga de Diamante de Rabat

Apesar de não ter passado dos 19,07, nem mesmo no sexto e último ensaio quando já tinha ganho a prova, Auriol Dongmo terminou no primeiro lugar da 1.ª Divisão do lançamento do peso, superando Yemisi Ogunleye (18,85) e Axelina Johansson (18,32). Jessica Schindler não passou do quarto lugar com 18,27, tendo sofrido ainda uma entorse na última tentativa que obrigou a que fosse assistida na pista. A lançadora garantiu os oitos pontos para Portugal por equipas e a quarta medalha da Seleção nestes Jogos Europeus, a primeira no atletismo que ficou desfalcado nas últimas horas da grande figura, Pedro Pablo Pichardo.

“Quando não consigo lançar mais longe no primeiro ensaio, tenho um problema a gerir, depois. É mais difícil ficar focada, concentrar-me para poder responder. Não lancei bem nos três primeiros, fiquei um bocado desconfortável. Mas consegui responder e a marca, graças a Deus, foi suficiente para ganhar. Na altura certa, a marca desejada vai sair. Tenho de trabalhar mais na minha técnica, ficar mais forte e poderosa para lançar mais longe no Campeonato do Mundo”, comentou no final Auriol Dongmo à agência Lusa.