Pedro Santana Lopes admite estar a equacionar seriamente uma candidatura à Presidência da República nas próximas eleições agendadas para 2026. “Não se devem tomar decisões antes do tempo, mas é algo que não está excluído. Isto só se resolve com pessoas incomuns. Tenho currículo e vontade. Se houver condições para vencer essa disputa, poderei estar lá”, garante o antigo primeiro-ministro ao Observador.
O primeiro sinal, de resto, foi dado esta quinta-feira. O atual presidente da Câmara Municipal da Figueira da Foz foi o convidado especial do “Senado”, grupo de jovens de direita que já juntou algumas das figuras mais influentes da política portuguesa em reuniões informais. E foi aí que manifestou essa mesma intenção de, pelo menos, encarar com maior seriedade a oportunidade de entrar na corrida. Horas antes, Santana Lopes aproveitava as suas redes sociais para deixar um outro sinal: a música “The Long And Winding Road“, dos The Beatles.
É dessa forma — “uma longa e sinuosa estrada” — que Santana Lopes encara a possibilidade de vir a entrar na corrida a Belém. “O tempo passa a correr. O atual Presidente da República já está a meio do segundo mandato. Quem quiser ganhar as próximas eleições tem de trabalhar. É um caminho”, nota. Para o antigo primeiro-ministro, são precisas três condições para ser um bom candidato presidencial: currículo, vontade e condições políticas; Pedro Santana Lopes acredita reunir à partida as duas primeiras; falta trabalhar para a terceira. E esse trabalho começa agora.
Aliás, em abril, em entrevista à RTP3, o autarca foi cristalino em relação à avaliação que faz dos seus potenciais adversários, à direita. “Não vejo ninguém com maior ou melhor currículo do que eu no espaço do centro-direita [para ser Presidente da República]. Não há um dia que ande na rua e não me falem disso”, atirou, antes de lembrar que não serão os desaires políticos que sofreu a impedirem a prossecução desse caminho. “Quase todos os Presidentes da República tiveram momentos difíceis antes de lá chegarem”, argumentou Santana Lopes.
Esta possibilidade tem feito parte das cogitações de Pedro Santana Lopes desde há muito. Em outubro de 2020, em entrevista ao Observador, o antigo primeiro-ministro já admitia o cenário sem grandes reservas. “Do ponto de vista político e de balanço pessoal que eu faça, não há nada que me impeça de ser candidato em 2026. Já tive falhanços grandes e já tive vitórias grandes. Como dizia ao Miguel Sousa Tavares, é como um escritor: há livros que são grandes sucessos, há outros que correm muito mal. Se uma corrida a Belém podia ser a minha obra-prima? Podia. Vamos ver, vamos ver.”
Nessa mesma entrevista, Pedro Santana Lopes não deixou de ser provocado com uma eventual candidatura de Luís Marques Mendes, a figura do centro-direita apontada com maior insistência à corrida à sucessão de Marcelo Rebelo de Sousa — excecionando Pedro Passos Coelho, claro, que nunca deu sinais nesse sentido. Mas não foi a hipótese “Marques Mendes” que demoveu o antigo primeiro-ministro. “Acho que vocês já me vão conhecendo: eu, quando vou, normalmente não olho para o lado. Vou. Independentemente de quem esteja na linha de partida. Se acho que devo ir, vou.”
Estas declarações de Santana Lopes aconteceram ainda antes da sua candidatura vitoriosa à Figueira da Foz. Nas eleições autárquicas de 2021, o antigo militante do PSD impôs-se contra a vontade de Rui Rio, que, apesar das conversas que foi mantendo com Santana Lopes, optou por apoiar outro candidato. Daí para cá, fruto da relação que vai mantendo com Luís Montenegro, Santana tem feito um caminho de aproximação ao PSD. Ainda recentemente, autarca e direção nacional fizeram um acordo que, do ponto de vista aritmético, garantiu a maioria absoluta ao autarca.
Não é segredo para ninguém, aliás, que Montenegro gostava de promover a refiliação de Santana Lopes. O atual líder social-democrata já admitiu abertamente que gostava de contar com o regresso do autarca à sua família política de sempre ainda a tempo de disputar as próximas eleições autárquicas. Acontece que Santana pode trocar as voltas a Montenegro e ensaiar outros voos — o que daria uma grande dor de cabeça ao presidente do PSD, historicamente próximo de Luís Marques Mendes. Mas isso são outros quinhentos. O caminho é longo e quem quiser ter aspirações de chegar a Belém tem de se fazer à estrada. Santana, pelo menos, já o fez.