Depois de anos a alargar a oferta de modelos 100% eléctricos das suas diferentes marcas recorrendo à adaptação de plataformas projectadas para veículos a combustão e não a bateria, a Stellantis vira a página. A STLA Medium que acaba de ser apresentada abre um novo capítulo na estratégia de electrificação do grupo liderado pelo português Carlos Tavares, sendo a primeira de quatro plataformas concebidas especificamente para veículos eléctricos a bateria (BEV), o que implica um brutal investimento na reconfiguração das fábricas, a começar pela Europa. Mas, em contrapartida, lança as bases para a produção de modelos mais competitivos do ponto de vista da autonomia, do tempo de carregamento, da performance e do consumo. Isto é, à partida mais eficientes.
A nova arquitectura modular foi projectada para modelos com um comprimento total entre os 4,3 e os 4,9 metros e uma distância entre eixos que pode variar entre os 2,7 e os 2,9 metros. Medidas que se encaixam nos segmentos C e D, os quais representaram 45% dos 78,5 milhões de veículos vendidos a nível mundial no ano passado. A STLA Medium tem a vantagem de simplificar o esquema produtivo – e tanto assim é que o grupo estima fabricar até 2 milhões de unidades sobre esta base por ano – sem, no entanto, comprometer a liberdade criativa, com os designers a terem carta branca para idealizar diferentes tipos de carroçaria, de automóveis a SUV e crossovers. Mas, pelas tendências dos consumidores e pela indicação facultada pela própria Stellantis de que a distância ao solo vai ser “superior a 220 mm, para assegurar uma capacidade e desempenho fora de estrada”, somos levados a crer que o enfoque de lançamentos vai apontar sobretudo aos SUV.
Conjecturas à parte, a realidade é que ainda faltam (muitos) meses para vermos na estrada o primeiro modelo construído sobre a STLA Medium, o que não impede a Stellantis de colocar a fasquia bem lá em cima, prometendo “soluções best-in-class em termos de autonomia, superior a 700 quilómetros, tempo de carregamento, desempenho, eficiência, acessibilidade e prazer de condução”. E se já acha muitas promessas de uma só vez, junte-lhe outra: “o melhor custo de pack de baterias da sua classe, factor que permite, também, aumentar os volumes de produção”.
Que tipo de BEV vai esta nova plataforma originar?
Para já, há duas garantias: a primeira é que o espaço a bordo vai sair beneficiado (mais habitabilidade para o mesmo comprimento, face a um modelo a combustão) e o comportamento também. E isto graças ao pack de baterias, cuja instalação por si só resulta num centro de gravidade mais baixo, o que favorece a maneabilidade. Por outro lado, a Stellantis garante que os diferentes componentes da plataforma foram concebidos para minimizar o consumo energético. E esta preocupação estendeu-se à escolha dos materiais, tendo presente que o peso é inimigo da eficiência. Daí a alegada “utilização extensiva de materiais leves e rígidos, para optimizar a autonomia”.
Importa sublinhar que o alcance entre recargas será, à partida, capaz de superar a barreira dos 700 km com uma condição: o pack Performance associado a um acumulador com uma capacidade útil de 98 kWh (o máximo na STLA Medium). De resto, com o pacote de células standard, as visitas aos postos de carregamento deverão acontecer ao fim de “mais de 500 km”, de acordo com o protocolo europeu Worldwide Harmonized Light Vehicles Test Procedure (WLTP), com a arquitectura eléctrica a 400V a permitir à Stellantis anunciar 20% a 80% de carga em 27 minutos, a um ritmo de 2,4 kWh/minuto.
Então, e a potência? Com tracção dianteira ou integral, os BEV construídos sobre a STLA Medium oferecerão mecânicas que vão de 160 kW/218 cv a 285 kW/387 cv, registando um consumo que, “dependendo da aplicação, pode ser inferior a 14 kWh/100 km, o melhor da sua classe em termos de eficiência energética”, afirma a Stellantis.
De recordar que, actualmente, a Stellantis oferece um total de 26 modelos a bateria nos segmentos C e D, veículos esses assentes em plataformas que não foram projectadas de raiz para maximizar o potencial da tecnologia eléctrica, ao contrário da nova STLA Medium. Esta arquitectura vai receber a companhia de mais três novas plataformas dedicadas a BEV, nomeadamente a Small, a Large e a Frame – um avanço que se enquadra num investimento global de 30 mil milhões de euros em electrificação e software, até 2025. E, para garantir que esse investimento não é desperdiçado, as plataformas que estão na calha “são concebidas tendo em consideração futuras evoluções ao nível da química de baterias, incluindo baterias sem níquel e sem cobalto e baterias de estado sólido”. Tal dará margem de manobra ao grupo para fazer opções num racional de custo/benefício.