Cerca de uma dezena de tendas que estavam até esta manhã instaladas na Avenida Almirante Reis e na zona de Regueirão dos Anjos, ambas em Lisboa, e que seriam utilizadas como dormitório por pessoas em situação de sem-abrigo, foram retiradas esta manhã do local por técnicos da Higiene Urbana da Câmara Municipal de Lisboa. Ao Observador, a vereadora da Câmara de Lisboa, Sofia Athayde, rejeita qualquer relação com a Jornada Mundial da Juventude: “Todo este apoio à saúde pública — não só o apoio a pessoas em situação de sem-abrigo mas também a limpeza de grafitis, a reorganização do espaço público — tem vindo a ser feito no passado, é feito atualmente e vai ser feito no futuro. Nada tem a ver com um evento” que a cidade se prepare para receber.

Imagem retirada do vídeo divulgado nas redes sociais

A operação foi filmada por quem se encontrava a passar naquele local e publicada de seguida nas redes sociais. Nas imagens, é possível ver três carros carros dos serviços da Higiene Urbana da autarquia e cerca de uma dezena e meia de funcionários equipados com coletes refletores que retiram as tendas das arcadas de um prédio. Também é possível ver aquilo que parecem ser os ocupantes daquelas tendas a pegar nos seus bens pessoais e a sair do local.

Ao Observador, fonte oficial da Junta de Freguesia de Arroios — cujos funcionários também participaram na ação — disse que os materiais ali recolhidos não seriam devolvidos aos seus donos, ainda que os mesmos pudessem permanecer no local depois de a operação de limpeza ser realizada. Depois desse momento, diz a Junta de Freguesia, quem ali dormia poderá voltar a ocupar o mesmo espaço. “Não entendemos o porquê do vídeo do Instagram, nas imagens pode ver que as pessoas não foram expulsas, quem aceitou as condições da equipa da CML encaminhado”, reitera Carlos Rego.

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Mas a vereadora com o pelouro dos Direitos Sociais Humanos e Sociais da Câmara de Lisboa garante que as tendas não são retiradas de forma permanente, sendo devolvidas depois de a operação estar concluída. “As tendas estão lá, continuam lá”, assegura Sofia Athayde, sublinhando que os próprios visados “participaram na limpeza” daquele espaço.

“Semanalmente, são realizadas ações de limpeza na Almirante Reis e noutros pontos da freguesia, por uma questão de insalubridade, porque as pessoas que vivem em situação de sem-abrigo não têm as condições melhores nem os meios de higiene à sua disposição e acabam, até, por fazer algumas necessidades no local”, já tinha referido a Junta de Freguesia.

10 pessoas sem abrigo encaminhadas para serviços da autarquia

Ao final da manhã, fonte oficial da Junta de Freguesia de Arroios já tinha garantido ao Observador que este tipo de operações é realizada regularmente e não tem qualquer relação com a aproximação do início da Jornada Mundial da Juventude. “O Papa não veio a Lisboa no ano passado e isto já se fazia. Há uma tentação de colar tudo à JMJ, mas não estamos nesse tempo”, diz Carlos Rego, responsável de comunicação da Junta de Arroios.

A Junta de Freguesia de Arroios não soube indicar ao Observador quantas pessoas foram visadas na operação desta quinta-feira, mas garante que quatro delas — “as que aceitaram as condições [dos serviços sociais] da Câmara de Lisboa” — foram encaminhadas” e foi-lhes garantida habitação temporária. Segundo a vereadora dos Direitos Sociais, esse número é, no entanto, mais elevado: 10 pessoas em situação de sem-abrigo terão sido encaminhadas para os serviços sociais da autarquia, passando a ser acompanhadas em função da “especificidade” de cada caso. Esse acompanhamento pode passar por consultas com equipas de saúde e/ou formação profissional, sempre com vista à sua reintegração social.

A vereadora assinala, também, o “investimento” feito pela autarquia nestas equipas de apoio social. “O trabalho que desempenhamos é o de acolher, integrar, compreender cada caso clínico. Estas equipas trabalham há muito tempo, ajudam sempre o melhor que sabem, sempre com carinho”, refere Sofia Athayde. Na prática, isso tem-se traduzido num reforço dos equipamentos para acolher pessoas sem-abrigo (nomeadamente dormitórios), que neste momento abarcam um universo de cerca de 400 pessoas na cidade. Com uma ressalva: “Os que querem ser acolhidos, são acolhidos, mas isso depende sempre da vontade de cada um.”

Câmara recusou “falsa ideia” de aviso para sair

A ação desta quarta-feira surge uma semana depois de ter sido notícia que as pessoas em situação de sem-abrigo precisamente da Almirante Reis e de Regueirão dos Anjos estariam a ser notificadas de que, até 12 se julho (esta quarta-feira), teriam de abandonar o local que ocupavam. Motivo: era preciso realizar uma operação de limpeza.

Sem-abrigo da Almirante Reis recebem aviso para sair até 12 de julho. Câmara de Lisboa desmente Comunidade Vida e Paz

Em reação a essas notícias, a Câmara de Lisboa negou a “falsa ideia” criada pela Comunidade Vida e Paz. A organização, que trabalha no apoio a esta população carenciada, emitiu nessa altura um comunicado em que dizia que, “a exemplo de solicitações anteriores”, tinha sido contactada pela autarquia “para informar e sensibilizar as pessoas em situação de sem-abrigo de que irá ocorrer uma ação concentrada na Avenida Almirante Reis e na Rua Regueirão dos Anjos que visa uma limpeza das tendas existentes e demais pertences”.

É na sequência desse comunicado que a autarquia liderada por Carlos Moedas emite, também, um comunicado. “No âmbito destas intervenções, a CML rejeita, portanto, a falsa ideia que foi veiculada pela Comunidade Vida e Paz e já o transmitiu a esta entidade”, referia a nota tornada pública.

Texto atualizado às 16h37 de dia 13 de julho com novos dados da Câmara Municipal de Lisboa