Rui Rio em pouco mais de 20 minutos de entrevista atacou a Procuradora-Geral da República, contrariou o jurista-Presidente Marcelo, apelou a que a lei não fosse alterada, revelou que falou com Luís Montenegro e disse ainda não ter ambições de voltar à política. Em entrevista à SIC, o ex-presidente do PSD voltou a insistir que os atos que levaram a buscas da Polícia Judiciária na sua casa é “uma prática transversal a todos os partidos desde sempre” e que “nos anos 80 já era assim”.

Rio atacou o Ministério Público da base ao topo, apontando baterias a Lucília Gago: “A primeira pergunta que gostava que a senhora Procuradora-Geral da República respondesse é, se esta é prática transversal a todos os partidos, porquê só ao PSD? E, se é só ao PSD, porquê só entre 2018 e 2021, que é exatamente o período que fui eu e só eu presidente do partido?”

Rui Rio explicou depois que brincou com o caso para mostrar o “ridículo” da situação — numa alusão às declarações humoradas da varanda da sua casa — mas que agora era tempo de “falar a sério” porque o assunto é “grave”.

O ex-presidente do PSD admite que “o facto de uma prática errada ser praticada por todos, não a torna certa”. Mas insiste na não legalidade. O ex-líder social-democrata diz que, ao contrário do que disse o Presidente da República, “não há zona cinzenta nenhuma“, porque o grupo parlamentar e o PSD “são uma só entidade”, com um único número fiscal.

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Para demonstrar que o ato já dura há muitos anos, Rui Rio lembra que a foram como a sua assessora (Florbela Guedes) recebe exatamente como o histórico assessor Zeca Mendonça. E pergunta: “Também vão a casa do presidente da altura que era Cavaco Silva? Ou do atual Presidente da República, que era presidente do partido quando eu fiz?” Indignado, Rio chega a desabafar: “Isto não é país que se apresente em lado nenhum”.

Rio: “Se não dissermos basta, os portugueses vão dizer Chega”

Rui Rio diz que a denúncia foi uma “vingança” de pessoas “inimputáveis” a quem baixou os salários no partido. O ex-líder do PSD diz ainda que a lei não deve ser alterada: “Para ser sincero, não fazia nada. Isto está claro. A atuação que defendo era ao nível da justiça, do MP, era pôr ordem nisto. Vai agora estar-se a agachar? O que o MP quer fazer é dizer que os políticos são todos uns gatunos, são todos uns aldrabões.” E acrescentou: “Se o poder político não tiver a capacidade de dizer basta, as pessoas vão dizer chega”, numa alusão ao partido de André Ventura.

O ex-líder do PSD diz que vê a “democracia a ser enterrada todos os dias” e contou detalhes das buscas. Diz que lhe copiaram documentos do computador e lhe levaram a agenda de 2022, apesar de os factos investigados serem entre 2018 e 2021.

Rio revelou ainda que não tem ambições de voltar à política (já que é apontado como possibilidade para Belém) ao atirar: “A forma como estou a reagir é de alguém que não está muito interessado em voltar a isto”. O antigo líder social-democrata diz que “entretanto” conseguiu falar com Luís Montenegro, mas que a conversa não teve “nada de especial”, sugerindo que o atual líder do PSD concorda que isto é de “deitar as mãos à cabeça” e terá lamentado as 19 horas que os inspetores estiveram na sede do PSD.

Ao longo da entrevista à SIC, Rio lamentou ainda ter de voltar à vida pública: “O Miguel Veiga dizia que eu picado funciono melhor. Eu estava sossegado e vieram-me picar.”