A presidente da Sociedade Portuguesa de Transplantação defendeu esta quarta-feira uma alteração da lei que permita a recolha de órgãos a pessoas que estão em fim de vida, nos cuidados intensivos, a quem não chega a ser declarada morte cerebral.

“Infelizmente, em Portugal e no mundo inteiro, há falta de órgãos para transplante, porque também não recolhem ainda a todos os que falecem”, afirmou Cristina Jorge, apontando o caso das pessoas em “paragem cardiocirculatória controlada”.

“Os dadores em paragem cardiocirculatória controlada são pessoas que estão nos cuidados intensivos, em situações de fim de vida e a quem se desligam os aparelhos de suporte, porque não há hipótese nenhuma para aquela pessoa”, explica a presidente da SPT.

A especialista lembra que, em Portugal, estas pessoas não são consideradas dadoras — porque não chega a ser declarada a morte cerebral — e estes órgãos acabam por não ser aproveitados, ao contrário do que acontece, por exemplo, com os dadores em “paragem cardiocirculatória não controlada”.

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“Estas são pessoas que estão na sua vida normal e que sofrem uma paragem cardíaca e são reanimadas e levadas ao hospital. Se aquela reanimação não for bem sucedida, elas podem ser consideradas dadoras e pode-se aproveitar os seus órgãos”, explicou.

Para que pudessem ser aproveitados os órgãos nos casos dos dadores “em paragem cardiorrespiratória controlada”, Cristina Jorge disse que a lei teria de ser alterada.

“Noutros países isto já acontece”, disse a especialista, lembrando: “Muitas vezes, não se chega àquela situação de morte cerebral”.

Para a presidente da SPT, que falava à Lusa no âmbito do Dia Nacional da Doação de Órgãos e da Transplantação, que se assinala na quinta-feira, uma alteração na lei poderia aumentar o número de dadores e de órgãos disponíveis para transplante.

Em Portugal, todos os cidadãos podem ser considerados potenciais dadores de órgãos, desde que não expressem oposição à dádiva no Registo Nacional de Não Dadores.

Os dados do Instituto Português do Sangue e da Transplantação (IPST) divulgados em abril indicam que, no ano passado, se fizeram 814 transplantes de órgãos, mais 15 do que em 2021. Os números apontam ainda para o maior número de sempre de pulmões transplantados – 76 órgãos em 39 doentes.

Investigação pode ajudar a resolver escassez de órgãos para transplante

Portugal ocupou em 2021 o 4.º lugar no ranking mundial da doação de órgãos de dador falecido, com 29,6 dadores por milhão de habitantes (pmh).