Décadas de trabalho conjunto com as comunidades locais no restauro de ecossistemas vitais valeram o Prémio Gulbenkian para a Humanidade a três ativistas, no sudeste asiático, em África e na América do Sul. O prémio, no valor de um milhão de euros (a repartir de igual forma pelos três), foi anunciado esta quarta-feira.
Bandi “Apai Janggut”, líder da comunidade Sungai Utik no Bornéu, Cécile Bibiane Ndjebet, ativista e agrónoma nos Camarões, e Lélia Wanick Salgado, ambientalista, designer e cenógrafa no Brasil, recebem este prémio “pela sua relevância na liderança climática de mulheres e de populações indígenas e pela importância do envolvimento das comunidades nos esforços de restauro ecológico”, lê-se no comunicado de imprensa.
Acreditamos que os vencedores do Prémio vão continuar a inspirar outros e a desencadear futuras iniciativas climáticas positivas, em todo o mundo”, disse Angela Merkel, líder do júri.
O júri liderado pela antiga chanceler alemã, Angela Merkel, avaliou 143 nomeados oriundos de 55 países em todos os continentes. Merkel destaca que o júri reconheceu na atividade destas três personalidades “um trabalho de grande transformação no Sul Global, levado a cabo por comunidades que, apesar de serem as mais afetadas pelas alterações climáticas, foram as que menos contribuíram para as causar”.
Bandi “Apai Janggut”, o líder que conseguiu que a comunidade tivesse direito à terra
Foram precisos 40 anos, mas Bandi “Apai Janggut” conseguiu, em 2020, que o governo indonésio reconhece-se o direito do seu povo à terra que ocupam, no total de 9.500 hectares. Bandi é o líder tradicional da comunidade indígena Dayak Iban Sungai Utik Long House, situada na floresta tropical de Kalimantan, no Bornéu. Nestas décadas, o guardião da floresta Sungai Utik, tem lutado contra a desflorestação ilegal, a produção de óleo de palma e os interesses corporativos.
Cécile Bibiane Ndjebet e a luta pela igualdade de género na gestão das florestas
Cécile Bibiane Ndjebet luta pelos direitos das mulheres em relação à posse da terra há 30 anos. A ativista conseguiu também que as mulheres fossem reconhecidas pelo seu papel na recuperação dos ecossistemas vitais, na luta contra a pobreza e no combate às alterações climáticas. A intervenção da agrónoma levou ao restauro de mais de 650 hectares de terra em estado de degradação. Cécile tem tido impacto não só nos Camarões, mas tem liderado os esforços para influenciar políticas de igualdade de género na gestão das florestas em 20 países africanos.
Lélia Wanick Salgado e o trabalho para salvar a Mata Atlântica
Ambientalista, designer e cenógrafa, Lélia Wanick Salgado estudou arquitetura e planeamento urbanístico em Paris e desde 1970 dedica-se à fotografia. O Instituto da Terra — que fundou com o marido, o fotógrafo Sebastião Salgado —, já conseguiu plantar quase três milhões de árvores na Mata Atlântica, tornando-se uma referência mundial em termos de restauro dos ecossistemas e de recuperação e preservação ambientais.
O Prémio Gulbenkian para a Humanidade reconhece a contribuição de pessoas ou organizações para enfrentar as alterações climáticas e perda de biodiversidade, dois grandes desafios da humanidade. A jovem ativista sueca, Greta Thunberg, foi a primeira a ser distinguida com o prémio, em 2020, seguindo-se o Pacto de Autarcas para o Clima e Energia (que reúne 10.600 cidades e governos locais de 140 países), em 2021, e duas organizações intergovernamentais, em 2022, o Painel Intergovernamental sobre Mudanças Climáticas (IPCC) e a Plataforma Intergovernamental sobre Biodiversidade e Serviços Ecossistêmicos (IPBES).
Na cerimónia que anuncia o prémio, esta quarta-feira, estarão presentes o Presidente da República Marcelo Rebelo de Sousa, o primeiro-ministro António Costa, o presidente da Fundação Calouste Gulbenkian, António Feijó e a presidente do júri, Angela Merkel.