Centenas de pessoas reuniram-se esta segunda-feira à tarde em frente ao edifício da Câmara Municipal do Porto, na Praça General Humberto Delgado, em defesa do centro comercial Stop, quase uma semana após a Polícia Municipal ter encerrado, por ordem da autarquia, mais de 100 salas por falta de licenciamento.
Os manifestantes começaram a reunir-se pelas 15h, antes de partirem rumo ao Stop, na Rua do Heroísmo, ao final da tarde. Pelas 19h30, cerca de 500 pessoas começaram a descer a Avenida dos Aliados. O número começou a aumentar logo que iniciaram a subida da Rua de Passos Manuel, chegando à Praça dos Poveiros com o dobro dos participantes, contabilizou a Lusa.
Ao longo do percurso, foram afixados, em postes, paredes e árvores, cartazes com a fotografia de Rui Moreira e que faziam referências à alegada falta de coragem do autarca portuense. Na Avenida Rodrigues de Freitas, foi colado um outro cartaz onde estava escrito “- turistas + artistas”.
O protesto terminou pelas 20h55, com a entrada de muitos dos manifestantes no centro comercial.
Uma manifestação “para mostrar a dimensão do centro comercial Stop”
Bruno Costa, presidente da Alma Stop, uma associação que representa os lojistas e músicos do Stop, destacou a importância do protesto desta segunda-feira em declarações à Rádio Observador.
“Uma coisa que ficou desde logo decidida na sexta-feira entre a comunidade é que, mesmo que houvesse aceitação imediata da proposta da Câmara Municipal do Porto, queríamos fazer a manifestação para mostrar a dimensão do centro comercial Stop e da comunidade que lá está — músicos, artistas, lojistas e também pessoas preocupadas com a Cultura”, afirmou o responsável, que espera que um número elevado de pessoas se junte ao protesto desta segunda-feira.
Músicos do Stop manifestam-se em frente à Câmara Municipal do Porto
Questionado se os lojistas e músicos já tinham chegado a um acordo sobre as propostas apresentadas na sexta-feira, Bruno Costa disse que estas ainda estão a ser analisadas e que é importante chegar a um consenso. O Observador sabe que uma das questões que tem gerado mais discordância entre os utilizadores do centro é o horário de funcionamento.
“Eu próprio já comuniquei essa mensagem [que ainda não chegámos a um acordo] ao senhor presidente [da câmara] e, nos próximos dias, teremos de falar sobre isso. A urgência de regressar ao Stop é real, não há qualquer duvida em relação a isso. Queremos ter a certeza de que fazemos as coisas bem feitas e que há unanimidade entre toda a gente e estamos a trabalhar nesse sentido. Ainda estamos a discutir essa proposta”, declarou.
O Stop “é algo pelo qual a cidade do Porto tem de lutar”
Ania Gonçalves, uma das manifestantes que se deslocou esta segunda-feira à tarde até à Câmara Municipal, explicou à Rádio Observador que decidiu juntar-ser ao protesto por o Stop ser um lugar que lhe é “caro” e também pelo desinteresse cada vez maior que a autarquia tem mostrado pela cultura “que não é saneada”.
“A nível autárquico, temos visto cada vez mais um desintersse pela cultura orgânica da cidade do Porto, a cultura que não é saneada pela câmara municipal. O meu marido é músico; os meus amigos são músicos; a minha família têm imensos músicos. Já tivémos salas no Stop; temos amigos que continuam a ter salas, outros que tiveram de sair. É algo que me é muito caro e muito grato. Acho que é algo pelo qual a cidade do Porto tem de lutar”, defendeu.
Descrevendo o Stop como um “sítio icónico” do Porto, Ania Gonçalves confessou que é um local que frequenta regularmente desde a “adolescência”, “em concertos, ensaios de amigos, gravações de videoclips“. “Mais do que um centro comercial, tornou-se um centro cultural e está a vista de toda a gente. Só não vê quem não quer.”
Entre os muitos que seguravam cartazes, João Alves, organizador de concertos, revelou à Lusa que existem “vários interesses, de várias pessoas” e que, por isso, é complicado encontrar uma solução . “O Stop tem muitos administradores e a câmara tem gente lá dentro que não se entende”, acusou. “Organizo concertos e ,se não há bandas não há concertos, mas se as bandas não tiverem onde ensaiar, não podem dar concertos.”
Francisca Oliveira, neta de um “proprietário de uma loja no Stop”, contou à Lusa que descobriu o centro comercial “quando era muito jovem” e que sempre gostou de “lá ir ouvir a música”. “Acho inadmissível a forma como são tratados os músicos e os trabalhadores, porque também há lá lojistas. Esta forma de forma de despejar as pessoas não é digna, ainda por cima pessoas que contribuem para a Cultura da nossa cidade”, declarou.
João Candal argumentou que “toda a gente que trabalhava no centro comercial tinha noção de que as condições de segurança não eram as ideais”, mas que “o protesto não é por causa disso, mas pela forma como a câmara geriu as coisas”.
“Se tinha noção de que o espaço estava nessas condições há décadas e reconhece ser um espaço valioso, por que não arranjou uma solução antes?”, questionou. No mesmo ímpeto, afirmou que o “Stop não é um caso isolado”, mas a “expressão de tudo o que tem acontecido nos últimos tempos [no Porto], seja com o jardim da Boavista, o que aconteceu com a marcha [LGBTQ] e com o matadouro, que afinal já não vai ser um espaço artístico”.
“Recorrentemente, a câmara está a secundarizar a Cultura para dar espaço ao crescimento de empresas de imobiliário”, disse.
Manifestantes reúnem-se no Rossio, em Lisboa, em solidariedade com protesto no Porto
Em Lisboa, na Praça D. Pedro IV, em frente ao Teatro D. Maria II, mais de uma centena de pessoas associou-se ao protesto no Porto com cartazes onde se lia “Stop é património cultural” e com a cara de Rui Moreira, presidente da Câmara do Porto, com orelhas gigantes.
No protesto estavam pessoas tanto de Lisboa como do Porto, incluindo alguns músicos.