Em atualização
O diretor de infecciologia do Hospital de Santa Maria, Álvaro Ayres Pereira, disse na manhã desta sexta-feira que os bebés internados na unidade de Neonatologia, onde foi detetado um surto com uma bactéria multirresistente, estão estáveis. O médico adiantou ainda que, para já, este serviço — que se mantém aberto — não vai aceitar novas admissões.
“A abertura da unidade tem a ver com o número destas crianças, à medida que elas vão tendo alta, e com a capacidade de reforçarmos a equipa médica, de enfermagem e de assistentes operacionais”, explicou o médico no primeiro ponto de situação do dia. Horas mais tarde, manteve as mesmas declarações. Explicou que o primeiro caso surgiu há cerca de 15 dias, na ramela de um recém nascido e, a partir daí, foram feitos testes para perceber se havia mais bebés afetados.
O serviço de Neonatologia do Hospital de Santa Maria, em Lisboa, foi encerrado na quinta-feira para novas admissões devido a um surto de Klebsiella pneumoniae, que pode provocar pneumonia, infeções da corrente sanguínea ou meningite. Desde a semana passada, a unidade teve 15 bebés internados colonizados com a bactéria multirresistente, sendo que três tiveram alta e um morreu. Estão agora internados 11 bebés colonizados com a bactéria.
É a prematuridade que torna os bebés mais frágeis
Sobre o bebé que morreu, na atualização feitas às 13h00 de sexta-feira, não foram avançados mais detalhes. De resto, Ayres Pereira explicou que todos os bebés internados são prematuros e isso torna-os mais frágeis.
“Estes bebés estão em risco pela sua prematuridade, como qualquer doente débil tem maior risco de infeção, quer com esta bactéria, quer com outras”, explicou o médico aos jornalistas. De resto, há “uma panóplia de bactérias” que podem infetar os prematuros e há “procedimentos para evitar infeções”.
Quanto à alta, o médico não avançou com prazos, mas explicou que não será esta infeção a determinar quando os bebés poderão ir para casa. “Estes bebés terão alta quando o seu desenvolvimento for adequado e a bactéria nada terá a ver.”
Colonizados, não infetados
Álvaro Ayres Pereira explicou, durante a primeira atualização desta sexta-feira, que os bebés estão colonizados e não infetados: ou seja, foi detetada a bactéria, mas não provocou uma infeção.
Questionado sobre quando é que os recém-nascidos poderão ter alta, Álvaro Ayres Pereira disse que, sendo a maior parte deles prematuros, ainda estão “muito dependentes dos cuidados médicos”, tal como voltou a explicar na segunda atualização do dia. “Os bebés terão alta ou não, independentemente da bactéria. Muitos de nós têm esta bactéria e estão na rua. Terão alta se o seu desenvolvimento permitir uma autonomia que permita que estejam em casa com os pais”, afirmou. Acrescentou ainda que estão a receber visitas, mas de forma escalada.
Sobre uma possível admissão de grávidas, Álvaro Aires Pereira garante que, caso apresentem o “mínimo risco”, serão desviadas para outros hospitais. “Em casos extremos, de grávidas que estão à porta do hospital em trabalho de parto, os bebés serão recebidos na ala de não colonizados”, acrescentou.
O diretor do serviço de infecciologia disse ainda que estão em vigor as medidas adequadas à situação. “Esta é uma bactéria que, infelizmente, já é endógena, não só no nosso hospital, mas em muitos hospitais do país. Neste momento, por este surto, não foi necessário fazer mais nada noutros serviços, porque já têm protocolos que estamos a seguir e não houve maior incidência desta bactéria”, explicou.
Em declarações aos jornalistas na quinta-feira, o responsável já tinha detalhado que a partir do momento em que o hospital teve conhecimento dos casos, há mais de uma semana, foram “tomadas atitudes” progressivas, desde logo, por exemplo, a separação entre os bebés positivos e negativos, que “ficavam isolados”.
Também na quinta-feira, André Graça, diretor do serviço hospitalar, já tinha indicado que a decisão de encerrar a Neonatologia foi tomada após o surto ter alastrado a outras salas. “A partir do momento que não conseguimos manter as salas ‘limpas’, a opção foi, neste momento, durante um período que ainda não está bem definido, manter a unidade encerrada para novas admissões”, disse.
Segundo André Graça, não é ainda possível saber quando é que o serviço será reaberto, o que só acontecerá quando todos os bebés infetados tiveram alta, o que pode demorar “muito tempo”. Sobre os recém-nascidos hospitalizados, o diretor disse que, apesar de não se poder considerar que estejam “estáveis” por estarem internados num serviço de cuidados intensivos, espera-se que não desenvolvam outras complicações de saúde.
O Centro de Prevenção e Controlo de Doenças dos EUA explica que a bactéria Klebsiella pneumoniae é, por norma, encontrada no intestino humano, “onde não causa doença”, e em fezes. Em unidades de saúde pode ser transmitida através do contacto entre pessoas (por exemplo, de doente a doente através das mãos contaminadas de profissionais de saúde) ou pela contaminação do ambiente (algo que é menos comum).
No caso dos doentes que se encontram em unidades de saúde, detalha o Centro de Prevenção e Controlo de Doenças norte-americano, esses podem estar mais expostos à bactérias quando estão ligados a ventiladores ou têm cateteres intravenosos ou feridas (causadas quer por lesões, quer por cirurgias).
Ouça aqui o presidente do Colégio de Pediatria da Ordem dos Médicos, Jorge Amil Dias
André Graça confirmou à RTP a morte de um recém-nascido que testou positivo à bactéria. Além disso, explicou que, neste momento, não há dados que possam esclarecer se a morte esteve relacionada com o surto no hospital. “Prefiro não comentar”, disse.
Por sua vez, Álvaro Ayres Pereira deu mais detalhes, ao indicar que “a criança quando faleceu nem tinha suspeitas de infeção”. “Os estudos post mortem mostraram presença da bactéria, mas não existe uma relação direta entre a bactéria e a morte da criança”, afirmou o diretor do serviço de infecciologia do Hospital de Santa Maria, que acrescentou que o bebé não estava “a fazer nenhum antibiótico”.
Neste momento não pode mesmo haver falhas”, disse Álvaro Ayres Pereira após explicar que existe risco de infeção “quer do ambiente, quer do staff“, pelo que estão a ser adotados os “procedimentos adequados”, incluindo “limpezas mais frequentes”.
Em declarações à Lusa, o Centro Hospitalar Universitário Lisboa Norte (CHULN) disse que “o Grupo Coordenador Local do Programa de Prevenção e Controlo de Infeções e de Resistência aos Antimicrobianos do CHULN está a acompanhar a situação de acordo com as normas da Direção-Geral da Saúde”, informou.
O serviço de Neonatologia está encerrado para novas admissões e os bebés “não foram nem vão ser transferidos” para outros hospitais, declarou a mesma fonte. “A resposta nesta área é assegurada por meios internos do CHULN e através de articulação com a rede durante os procedimentos de boas práticas necessários para resolver a situação”, acrescentou.