O Presidente do Brasil, Lula da Silva, disse esta quarta-feira, na Cimeira da Amazónia, que os países em desenvolvimento não podem aceitar “um neocolonialismo verde” com a desculpa de “proteger o meio ambiente”.

“Não podemos aceitar um neocolonialismo verde que, a pretexto de proteger o meio ambiente, impõe barreiras comerciais e medidas discriminatórias, desrespeita os marcos regulatórios e as políticas nacionais“, disse Luiz Inácio Lula da Silva no segundo dia da Cimeira da Amazónia, na cidade de Belém.

O chefe de Estado brasileiro tem sido muito crítico nos últimos meses às exigências ambientais que a União Europeia (UE) anexou ao acordo comercial que alcançou com o Mercosul (Argentina, Brasil, Paraguai e Uruguai) firmado em 2019.

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Essas novas garantias verdes, que os países europeus querem incluir e que Lula da Silva qualifica como ameaças paralisaram mais uma vez o processo de ratificação do acordo, negociado há quase um quarto de século.

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Em nova crítica aos países classificados como desenvolvidos, Lula da Silva comentou que os países detentores de florestas tropicais, como a Amazónia, “herdaram do passado colonial um modelo económico predatório”, baseado “na exploração irracional dos recursos naturais, na escravidão e exclusão sistemática das populações locais”.

“Os efeitos são sentidos por nossos países até hoje”, declarou no âmbito da cimeira da Organização do Tratado de Cooperação Amazónica (OTCA), estendida esta quarta-feira a países como República do Congo, República Democrática do o Congo e a Indonésia, que têm grandes áreas de floresta tropical.

Nesse sentido, Lula da Silva destacou que “não se pode falar de florestas tropicais e mudanças climáticas sem abordar a responsabilidade histórica dos países desenvolvidos“.

“Foram eles que, ao longo dos séculos, mais desperdiçaram recursos naturais e mais poluíram o planeta. Os 10% mais ricos da população mundial concentram mais de 75% da riqueza e emitem quase metade de todo o carbono lançado na atmosfera “, mencionou o chefe de Estado brasileiro.

“Não haverá sustentabilidade sem justiça. Também não haverá sustentabilidade sem paz”, concluiu.

Na terça-feira, líderes e ministros de oito nações amazónicas assinaram uma declaração que estabelece planos para impulsionar o desenvolvimento económico nos seus países, ao mesmo tempo que se evita que o desaparecimento da Amazónia “chegue a um ponto sem volta”.

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Alguns cientistas dizem que quando 20% a 25% da floresta for destruída, as chuvas cairão drasticamente, transformando mais da metade da floresta tropical em savana tropical, com imensa perda de biodiversidade.

As oito nações – Bolívia, Brasil, Colômbia, Equador, Guiana, Peru, Suriname e Venezuela – são membros da OTCA, e expressaram esperança de que uma frente unida lhes dê uma voz importante no meio ambiente global antes da conferência do clima (COP28) em novembro.

Vários grupos ambientalistas expressaram frustração com a declaração conjunta de terça-feira, dizendo que era em grande parte uma compilação de boas intenções com poucos objetivos e prazos concretos. No entanto, a maior organização indígena da região elogiou a inclusão de duas de suas principais reivindicações.

A cimeira reforça a estratégia de Lula da Silva de alavancar a preocupação global com a preservação da Amazónia. Encorajado por uma queda de 42% na desflorestação durante seus primeiros sete meses no cargo, o Presidente brasileiro buscou apoio financeiro internacional para a proteção da floresta.

A Amazónia estende-se por uma área com o dobro do tamanho da Índia. Dois terços estão no Brasil, com outros sete países e o território da Guiana Francesa partilhando o terço restante.

Todos os países amazónicos ratificaram o acordo climático de Paris, que exige que os signatários estabeleçam metas de redução de emissões de gases de efeito estufa.