A Polícia Federal do Brasil cumpre nesta sexta-feira mandados de busca e apreensão que visam aliados de Jair Bolsonaro, num caso sobre desvio e venda ilegal de joias dadas ao ex-presidente brasileiro por autoridades do Governo da Arábia Saudita.

Os principais alvos são o general do Exército Mauro Lourena Cid, pai do ex-ajudante de ordens de Jair Bolsonaro Mauro Barbosa Cid, o advogado Frederick Wassef e o tenente do Exército Osmar Crivelatti.

Num breve comunicado, a autoridade policial brasileira informou que cumpriu quatro mandados de busca na operação Lucas 12:2 que “tem o objetivo de esclarecer a atuação de associação criminosa constituída para a prática dos crimes de peculato e branqueamento de capitais“.

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“Os investigados são suspeitos de utilizar a estrutura do Estado brasileiro para desviar bens de alto valor patrimonial, entregues por autoridades estrangeiras em missões oficiais a representantes do Estado brasileiro, por meio da venda desses itens no exterior,” acrescentou.

Segundo a Polícia Federal, os valores obtidos dessas vendas de joias, incluindo a venda de um relógio da marca Rolex recebido por Bolsonaro quando era Presidente do Brasil, foram convertidos em dinheiro e ingressaram no património pessoal dos investigados por meio de pessoas interpostas e sem utilizar o sistema bancário formal, com o objetivo de ocultar a origem, localização e propriedade dos valores.

Os media locais citam a decisão do juiz do Supremo Tribunal Federal (STF) Alexandre de Moraes, que autorizou a operação, na qual os investigadores afirmam ter identificado que Bolsonaro e seus auxiliares retiraram do Brasil, no avião presidencial, pelo menos quatro conjuntos de bens recebidos em viagens internacionais na condição de chefe de Estado.

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“As diligências realizadas indicam que Jair Messias Bolsonaro e sua equipa utilizaram o avião presidencial, no dia 30/12/2022, para evadir do país os bens de alto valor desviados, levando-os para os Estados Unidos da América“, refere a decisão de Moraes.

O general Cid tornou-se investigado depois de a polícia descobrir, no telemóvel do seu filho que trabalhava com o ex-presidente, indícios de que teria tentado vender presentes recebidos dos sauditas pelo ex-presidente nos Estados Unidos. A polícia também encontrou uma foto de uma caixa de joias tirada pelo general, na qual aparece no reflexo do objeto, que é espelhado.

Entre os objetos que podem ter sido vendidos ilegalmente estão um Rolex supostamente recebido dos sauditas como presente, que acabou na posse de uma loja especializada em revenda de objetos de luxo nos Estados Unidos. O dinheiro da venda do relógio e de algumas joias, segundo a Polícia Federal, foi depositado numa conta do general Cid, na Florida.

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Já o advogado Wasseff tornou-se alvo de buscas porque teria viajado para os Estados Unidos para comprar novamente o Rolex para que Bolsonaro pudesse entregá-lo ao Tribunal de Contas da União (TCU), após o órgão abrir uma investigação e ordenar a devolução do objeto que, segundo a lei brasileira, deveria ter sido incorporado no património público.

A investigação do TCU e da polícia brasileira sobre itens valiosos dados à família Bolsonaro pelos sauditas começou depois de os media locais divulgarem informações sobre um outro conjunto de joias alegadamente enviado pelos sauditas à ex-primeira dama Michelle Bolsonaro, que ficou retido na Receita Federal do Brasil.

Na época em que o primeiro caso veio a público, Bolsonaro afirmou não ter pedido nem recebido qualquer tipo de presente em joias do Governo da Arábia Saudita. Em depoimento à Polícia Federal, o ex-presidente alegou ter tido conhecimento sobre as joias destinadas à antiga primeira-dama, apreendidas na Receita Federal, 14 meses após o ocorrido.

A revelação do caso motivou uma série de investigações que se desdobraram na ação desta sexta-feira. O nome da operação é uma alusão ao versículo 12:2 da Bíblia, que diz: “Não há nada escondido que não venha a ser descoberto, ou oculto que não venha a ser conhecido”.