Os parques solares do Conde e de Algeruz, no distrito de Setúbal, que estão em operação, têm 30 colmeias instaladas. Este é o resultado de um acordo entre o operador Iberdrola e um apicultor da região, a Coolbelha, que deu apoio na identificação dos locais mais adequados para a instalação das colmeias, sem por em causa a segurança dos equipamentos das centrais e dos trabalhadores da operação e manutenção.
Esta ação, refere a Iberdrola em comunicado, insere-se nos projetos de integração paisagística das centrais fotovoltaicas que vão incluir igualmente o cultivo de espécies aromáticas específicas (melíferas) com o objetivo de reforçar a qualidade do mel, promovendo ainda uma “completa simbiose entre a atividade apícola e todo o envolvimento da central”.
Além da produção de mel, as abelhas funcionam como agentes de polinização num raio de pelo menos um quilómetro a partir das colmeias, promovendo a biodiversidade e a sua manutenção em espaços que para acolher os painéis fotovoltaicos têm de ser alvo de desmatação e decapagem dos solos.
A instalação de colmeias em parques solares tem sido uma das medidas de mitigação de impactes ambientais negativos proposta pelos promotores para obter a autorização ambiental para projetos de grande dimensão que são inseridos na paisagem rural. Um deles é o mega-projeto também ligado à Iberdrola que vai implicar o abate de mais de meio milhão de eucaliptos em Santiago do Cacém.
João Casaca, secretário-geral da Federação Nacional dos Apicultores Portugueses, diz ao Observador que esta atividade é compatível com um espaço rural ou agrícola, que não seja de cultura intensiva, e são também esses os espaços que têm vindo a ser ocupados por painéis fotovoltaicos. Para o apicultor, a exploração de colmeias nestes parques solares é bem vinda desde que não seja apenas para cumprir as condicionantes da autorização ambiental, mas que permita uma apicultura que seja sustentável do ponto de vista ambiental, social e económico. E isso implica que exista nas proximidades dos painéis vegetação adequada como plantas que produzam flor como arbustos autóctones muito usados pelos apicultores, como o rosmaninho e o alecrim. Se esses arbustos não existirem perto das colmeias em quantidade suficiente devem ser reforçados.
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O secretário-geral da Federação de Apicultores refere outros exemplos da combinação da apicultura com outras atividades, neste caso agrícolas em que as colmeias são levadas para as plantações de amendoal para promover a polinização num período do ano em que há poucos insetos e assim ajudar a produção de amêndoa. O amendoal é uma das culturas que mais tem crescido em Portugal à boleia do perímetro de rega do Alqueva. O laranjal é outra árvore de fruto que se dá bem com a apicultura.
Os apicultores profissionais exploram a partir de 500 colmeias que na maioria dos casos não estão em terrenos seus.
Para além das colmeias, a promoção da biodiversidade nos parques solares passa ainda pelo uso do espaço livre para pastoreio de ovelhas, atividade que tem vindo a ser desenvolvida nos parques da Iberdrola. O parque do Conde tem uma potência instalada de 14 megawatts. Já o parque de Algeruz tem quase o dobro da potência, o que equivale a mais de 50 mil módulos fotovoltaicos.