Na Suécia desde este sábado de manhã, para discutir “parcerias, cooperação em matéria de defesa, integração da UE e segurança comum euro-atlântica”, foi Volodymyr Zelensky quem fez saber ao mundo o que tinha acabado de acontecer a quase 1.400 quilómetros de distância, em Chernihiv, cidade no norte da Ucrânia a cerca de 50 quilómetros da fronteira com a Bielorrússia.

“É isto que é uma vizinhança com um Estado terrorista, é contra isto que unimos o mundo inteiro. Um míssil russo acertou mesmo no centro da cidade, na nossa Chernihiv. Uma praça, a universidade politécnica, um teatro. Um sábado normal, que a Rússia transformou num dia de dor e perda”, acusou o Presidente ucraniano no Telegram, pouco depois do meio-dia, menos duas horas em Portugal, a acompanhar um vídeo onde se pode ver a destruição, sobretudo material, provocada pelo ataque, mas que termina com a imagem de uma pessoa tombada no lugar do condutor, dentro de um carro semidestruído.

https://twitter.com/ZelenskyyUa/status/1692830218338107595

Na altura, Zelensky avançou imediatamente que o míssil, disparado em plena luz do dia, tinha causado vítimas — “Há mortos, há feridos”, escreveu, sem contabilizar. Ao longo das horas que passaram entretanto, já através das autoridades locais da cidade cerca de 150 quilómetros a norte de Kiev, os números não pararam de aumentar.

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Oleksandr Lomako, presidente da Câmara Municipal de Chernihiv, fez a atualização mais recente, também através do Telegram: “Às 15h25, 117 pessoas tinham sido atingidas pelo ataque terrorista ao centro de Chernihiv, sete das quais morreram”.

Entre as 7 vítimas fatais do ataque perpetrado este sábado, perto da hora de almoço, justamente numa altura em que as pessoas se encaminhavam para as igrejas, para celebrar o feriado religioso desta semana, explicou entretanto o Ministério do Interior ucraniano, há uma criança de apenas 6 anos.

No momento em que o edifício do Teatro Taras Shevchenko foi atingido, a menina estava com a mãe, que também ficou gravemente ferida na explosão. Entre os 110 feridos já identificados, há ainda outras 12 crianças, uma delas em estado considerado grave e já transportada de ambulância para Kiev.

No total, entre os feridos estarão ainda 10 agentes da polícia.

As imagens virais do momento em que um míssil atingiu o Teatro Taras Shevchenko

“O inimigo bombardeou o centro de Chernihiv. Provavelmente um míssil balístico. Fiquem nos abrigos. Detalhes mais tarde.”

Foi assim que, escassos minutos depois do ataque, ainda sem saber ao certo o que tinha acabado de acontecer, o governador da região, Vyacheslav Chaus, tentou acalmar e proteger a população local.

Mas, apesar das recomendações para se manterem nos abrigos, os habitantes de Chernihiv, mostram os vários vídeos publicados entretanto nas redes sociais, preferiram manter-se nas ruas, a ajudar as operações de resgate ou à procura de amigos e familiares.

https://twitter.com/Irina_Krupka/status/1692842182238204012

O momento do ataque em si também terá sido captado em vídeo, com as imagens de uma mulher de vestido branco, com o teatro em fundo a iluminar-se subitamente por um clarão de explosão, a tornar-se virais de forma imediata — e a serem republicadas por meios de comunicação como BBC, depois de garantida a sua autenticidade.

Também segundo o correspondente da BBC em Chernihiv, no momento em que tudo aconteceu, decorria na zona histórica da cidade, justamente sobre o edifício do teatro, uma demonstração de drones, que contava com a presença de vários fabricantes.

Alertas de ataque aéreo soaram minutos antes do embate, diz organizadora de “reunião fechada de engenheiros, militares e voluntários”

Em declaração publicada entretanto Facebook, Maria Berlinska, diretora do Air Reconnaissance Support Centre, responsável pelo evento, e funcionária da Dignitas (“organização de beneficência dedicada à vitória da Ucrânia e à construção de uma nação forte”), garantiu que o encontro em causa, que já antes terá acontecido em moldes idênticos em cidades como Kiev, Lviv, Dnipro e Kharkiv, sempre “em coordenação com as autoridades locais”, não era uma “exposição comercial”, como aliás a BBC escreveu, mas antes uma “reunião fechada de engenheiros, militares e voluntários sobre o tema das tecnologias militares para a linha da frente”.

Na mesma publicação, Berlinska assegurou ainda que todos os participantes foram identificados e investigados a priori e sujeitos a controlo policial à entrada e que, apesar de ter sido divulgado publicamente e com antecedência, só horas antes do evento é que os participantes foram informados do local exato, em Chernihiv, em que se iria realizar — descartando assim qualquer responsabilidade no ataque.

Ainda segundo a diretora do Air Reconnaissance Support Centre “assim que o ataque aéreo foi anunciado, o evento foi interrompido e os participantes foram avisados várias vezes para se abrigarem”, conselho que ela própria terá seguido ao contrário de alguns dos presentes.

“Infelizmente, algumas pessoas saíram à mesma. Todas as pessoas que foram para o abrigo estão a salvo. Eu, pessoalmente, fui para o abrigo um minuto antes do ataque“, explicou, nos pontos 3 e 4 de uma publicação que diz que fez para “evitar manipulações por parte dos bloggers”.

As Nações Unidas, através de Denise Brown, responsável na Ucrânia, já emitiram um comunicado a condenar o ataque — que a Rússia ainda não reconheceu. “Estou extremamente perturbada com as notícias de mais um ataque russo que atingiu há pouco tempo o coração de Chernihiv, no norte da Ucrânia, deixando dezenas de civis mortos e feridos, incluindo crianças. É hediondo atacar a praça principal de uma grande cidade, de manhã, enquanto as pessoas estão a passear, algumas a ir à igreja para celebrar um dia religioso para muitos ucranianos.”

Oleksandr Lomako anunciou esta tarde que a cidade vai observar três dias de luto, em honra e memória das vítimas “do ataque terrorista da Federação Russa”.