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A antiga campeã Alemanha, a campeão olímpica Canadá e o sempre apontado a algo mais Brasil não foram sequer capazes de passar a fase de grupos. Os bicampeões mundiais EUA caíram logo nos oitavos, a melhor equipa em prova nos jogos iniciais, o Japão, ficou pelos quartos. Olhando para aquilo que poderia ser este Mundial de 2023, tudo o que devia ser, não aconteceu. Foi assim que subiram ao principal patamar as duas equipas que comportavam muitos “ses” e que fizeram um caminho a superar um “mas”. A Espanha que foi goleada pelo Japão na fase de grupos mostrou que teve apenas um dia mau, a Inglaterra que só mesmo nas meias-finais convenceu como fizera no Europeu também deu a sua resposta. Agora, apenas uma poderia ser pela primeira vez campeã mundial numa final em Sidney que fechava o melhor certame de sempre.

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Há muito dedo dos treinadores nestas campanhas de sucesso das equipas que teria agora um teste final. Do lado da Espanha, Jorge Vilda conseguiu aquilo que parecia no mínimo improvável, em quatro capítulos nas últimas semanas: juntou todas as peças depois dos estilhaços provocados pelo boicote das 15 (três voltaram atrás e estão neste Mundial) e criou um grupo mesmo percebendo que não era a figura mais querida entre algumas das jogadoras, recuperou da melhor forma a equipa após o copioso desaire com o Japão, consolidou a identidade tática muito em posse de um conjunto com muita qualidade individual e geriu a preceito aquele que é o atual momento de Alexia Putellas, sabendo também as melhores fases para ir apostando em Salma Paralluelo de início ou a partir do banco. Com isso, fez história. Mais história. E procurava ainda mais.

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Da parte de Inglaterra, Sarina Wiegman era, literalmente, a obreira da fase de ouro da seleção britânica. Antiga campeã europeia e vice-campeã mundial pelos Países Baixos, a treinadora assumiu o comando de um conjunto que progredia a olhos vistos a nível de liga nacional mas continuava sem ultrapassar esse obstáculo das meias-finais das grandes competições. Em dois anos, alcançou duas finais, sendo que em 2022 fechou a organização do Europeu no país com um triunfo diante da Alemanha e em 2023 atingiu de novo a decisão do Mundial por outra seleção. Mais do que isso, a técnica conseguiu uma autêntica metamorfose tática durante a competição que começava com algumas baixas importantes por lesão, passando para um 3x4x1x2 sem perder a matriz de jogo mais vertical. Quando parecia não “convencer” e perante as críticas, voltou a dar a volta.

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Havia contas por ajustar entre as duas seleções, depois da vitória de Inglaterra nos quartos do Europeu com a Espanha após prolongamento que deixou a Roja a perceber que poderia ter ido mais longe. Mais: a Espanha nunca tinha conseguido vencer as britânicas em cinco partidas oficiais. No entanto, a final de um Mundial é um encontro à parte de todos. Com uma história própria, com momentos próprios, com ambiente próprio. E aquilo que aconteceu, à sua medida e com as devidas diferenças, acabou por ser em parte um remake do que a seleção masculina fez em 2010 na África do Sul, com Olga Carmona a vestir o papel de Andrés Iniesta para ser a herói improvável que coroou um projeto que faz da bola a principal protagonista.

O encontro começou com as características que eram esperadas mesmo com a troca apresentada por Jorge Vilda no onze inicial, prescindindo de Alexia Putellas e apostando em Salma Paralluelo também para soltar Jenni Hermoso para um posicionamento mais recuado no corredor central: a Espanha a ter mais posse e a jogar de forma apoiada tendo aproximações interessantes mas que não se convertiam depois em chances de visar a baliza, a Inglaterra num estilo mais vertical em que colocava a bola no último terço em dois/três toques tendo as referências Lauren Hemp e Alessia Russo com o apoio de Ella Toone. Foi assim que Hemp teve as duas primeiras oportunidades do encontro, com um remate à figura de Cata Coll (5′) e um tiro que bateu com estrondo na trave após assistência de Daly (15′). Foi assim que Alba Redondo, depois de uma transição rápida com cruzamento da esquerda, desviou sozinha na área para defesa de Mary Earps (17′).

Havia ainda assim uma nuance que colocava a Espanha por cima: a forma como as duas alas inglesas demoravam a subir e a acompanhar a pressão alta que as unidades mais adiantadas faziam, o que criava espaços para a Roja sair em posse com outra qualidade. Quando juntou a isso o pragmatismo e a eficácia, marcou e de novo pela improvável Olga Carmona, a lateral do Real Madrid que até este Mundial tinha apenas marcado uma vez na seleção e que agora voltou a ser decisiva como tinha acontecido nas meias aproveitando um grande trabalho de Mariona Caldentey para o remate cruzado sem hipóteses (29′). A Inglaterra demorou a reagir a esse momento e foi mesmo a Espanha a ficar de novo perto do golo, com Ona Battle a aproveitar o tal espaço pelas laterais para cruzar para o remate ao poste de primeira de Salma Paralluelo (45+1′).

Sarina Wiegman tinha de mexer e fê-lo a vários níveis. Primeiro na troca de jogadoras, com as entradas de Chloe Kelly e Lauren James para as saídas de Rachel Daly e Alessia Russo. Depois na disposição tática, com o regresso a uma linha de quatro defesas e a colocação de unidades mais móveis no ataque. A Inglaterra tinha mais risco no jogo mas nem por isso ganhou muito mais volume ofensivo, com a primeira oportunidade do segundo tempo a pertencer a Mariona Caldentey para defesa de Mary Earps (50′) antes de mais um aviso de Lauren Hemp na área após cruzamento de Chloe Kelly que passou ao lado (55′). E seria mesmo a guarda-redes inglesa a segurar a equipa até aos minutos finais, após travar uma grande penalidade Jenni Hermoso por uma mão na bola de Keira Walsh que demorou muito tempo a ser analisada no VAR (69′).

Mesmo parecendo sempre mais forte em termos físicos, a Inglaterra sentia até mais dificuldades em chegar à área contrária do que tinha acontecido na primeira parte também pela forma como a Espanha evitava que as Lioness ligassem jogo entre setores. Ainda houve uma tentativa de Lauren James na área para defesa de Cata Coll para canto (75′) mas os minutos finais entre os 13 de compensação ficaram marcados pelas chances evitadas por Mary Earps, primeiro de Jenni Hermoso e depois de Ona Battle. A Roja jogava com o relógio, a Inglaterra tentava acertar os ponteiros mas a hora tinha chegado: a Espanha era campeã mundial.