Um, dois, três, 12. Desde que teve início este histórico Campeonato do Mundo de futebol feminino que veio consolidar de vez (e com números palpáveis) o crescimento e desenvolvimento da modalidade, os Estados Unidos mostraram sempre que tinham a formação mais forte desta fase final. Pela capacidade individual, pela organização coletiva, pela dinâmica de jogo. A isso, aliavam uma outra arma que todos conheciam mas ninguém conseguia travar – chegar à vantagem nos primeiros 12 minutos, como aconteceu com Tailândia, Chile, Suécia, Espanha, França e Inglaterra. Na hora das decisões, a Holanda quebrou a “regra”.

Até no Parque do Olympique Lyon as europeias estavam em desvantagem, com cinco mil adeptos da Laranja a tentarem combater com 20 mil americanos e 35 mil franceses (ou meros adeptos de futebol). No entanto, a grande revelação da competição que veio a território gaulês confirmar que o título europeu de 2017 foi tudo menos obra do acaso chegou a esta final com legítimas ambições de fechar da melhor forma um período de ouro na sua seleção, o que foi valendo vários destaques até na imprensa norte-americana, como se viu no Washington Post ou na CNN. Os Estados Unidos podiam ser favoritos mas havia 90 minutos por disputar. E este duelo traduzia dois caminhos completamente distintos de como chegar ao mesmo fim.

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A Holanda participava apenas na sua segunda fase final do Campeonato do Mundo, num trajeto em crescendo que teve a face real dos seus frutos nos últimos dois anos. Já a formação dos Estados Unidos, que chegaram pela terceira vez seguida à final depois da derrota em 2011 com o Japão nas grandes penalidades (2-2, 3-1) e o triunfo em 2015 frente às nipónicas (5-2), atravessam um espécie de terceiro grande ciclo nacional, tentando manter a herança das campeãs de 1991 como Michelle Akers-Stahl, Carin Jennings ou April Heinrichs e tendo como grande inspiração a geração que ganhou em 1999 no próprio país com Mia Hamm como principal referência. Aliás, como explicava este domingo o La Vanguardia, Megan Rapinoe, principal face desta equipa, decidiu arriscar uma aventura no soccer exatamente durante essa febre de 1999 no país.

Os Estados Unidos foram melhores, reconquistaram o título com um triunfo por 2-0 e passaram a somar quatro Campeonatos do Mundo em oito edições da prova. Ainda assim, tão ou mais importante, as jogadoras americanas ganharam além do Mundial uma voz, corporizada muitas vezes na figura de Rapinoe mas transversal a um conjunto de atletas que pretende fazer desta edição de 2019 um sucesso a longo prazo que possa mudar em definitivo perceção e regras em torno do futebol feminino em comparação com o masculino. Da base de recrutamento à competitividade desportiva, o modelo americano resulta e os números estão à vista; agora, o triunfo em França servirá de forma inevitável como base para outras conquistas fora de campo.

Como Megan Rapinoe foi de nota de rodapé a capa de revista: entre Kaepernick, Trump e o hino nacional

Julie Ertz, numa insistência na área após canto onde conseguiu ganhar uma segunda bola e rematar de primeira, teve a primeira oportunidade aos 27′, permitindo o primeiro momento de destaque para a grande figura dos 45 minutos iniciais: a guarda-redes e capitã holandesa, Van Veenendaal. Os Estados Unidos tinham mais bola, conseguiam domínio territorial mas encontravam de forma incontornável grandes dificuldades para superar a organização coletiva das holandesas, muito bem no plano defensivo mas demasiado recuada para poder dar o melhor seguimento às transições rápidas que de quando em vez arriscavam. No entanto, e em menos de três minutos, o golo esteve próximo para as campeãs do mundo noutras tantas ocasiões.

Aos 38′, em mais um grande cruzamento de Rapinoe (que foi crescendo com o passar dos minutos) da esquerda, Mewis desviou de cabeça na área e Van Veenendaal defendeu com a anca mais pelo mérito que ocupar aquela posição na altura do remate do que propriamente pela intervenção em si. Ainda no mesmo minuto, mais um cruzamento tendo de Rapinoe, toque de Alex Morgan ao primeiro poste e defesa por instinto com o pé da guarda-redes holandesa a contar ainda com a ajuda do poste. Aos 40′, de novo Alex Morgan ganhou espaço fora da área, arriscou a meia distância e Van Veenendaal afastou para canto. Os Estados Unidos melhoraram, tiveram oportunidades mas não conseguiram marcar e acabaria por ser a Holanda a ter o seu primeiro remate nos descontos, com a tentativa de Spitse a bater numa defesa americana antes de sair para canto (45+2′).

No segundo tempo, tudo mudou num lance onde o VAR foi determinante: Van der Gragt deu um pontapé desnecessário em Alex Morgan na área, o canto transformou-se em grande penalidade e Rapinoe inaugurou o marcador aos 61′, saltando também para a liderança das melhores marcadoras da competição à frente da compatriota de Alex Morgan. Menos de dez minutos depois, e com a Holanda a não conseguir reagir ao revés sofrido pouco depois da hora de jogo, Lavelle aproveitou uma autoestrada no corredor central para entrar na área e rematar colocado de pé esquerdo para o 2-0 que “sentenciou” a final (69′). E seria Van Veenendaal a evitar que a vantagem ganhasse outras proporções ao evitar o terceiro golo de Dunn isolada na área.