Às vezes a fartura também pode ser um problema e, por razões distintas, a Liga da Arábia Saudita começa a mostrar isso mesmo. No Al-Ittihad, Jota, avançado internacional Sub-21 português contratado ao Celtic, está em vias de ser emprestado ao Al Shabab de Marcel Keizer porque os adeptos preferem nomes mais sonantes e o número de jogadores estrangeiros é limitado. No Al Nassr, o problema nesta fase é outro: com apenas cinco vagas para jogadores que tenham nascido fora do continente asiático mais um jogador de um país que seja membro da Confederação Asiática, Luís Castro teria de fazer um corte para o playoff de acesso à Liga dos Campeões asiática deixando de fora o brasileiro Anderson Talisca de fora em detrimento de Ronaldo, Sadio Mané, Brozovic, Alex Telles e Fofana, numa informação que seria mais tarde desmentida.

A possibilidade de saída do antigo jogador do Benfica já antes tinha sido falada mas, qualquer que fosse o cenário futuro em torno de Talisca, o Al Nassr não deixou de continuar no mercado em busca de jogadores que possam melhorar a equipa após o início dececionante de Campeonato com derrotas frente ao Al-Ettifaq (fora) e o Al-Taawon (casa). Foi nesse contexto que acabou por renascer o interesse em Otávio, médio do FC Porto. Luís Castro entendia que, além de um central que pudesse ser o “patrão” da defesa (e o mesmo, o espanhol Aymeric Laporte do Manchester City, estará a caminho de Riade), necessitava de um jogador com as características do portista para fazer a ligação entre meio-campo e ataque com os respetivos equilíbrios com e sem bola. A fatura desse “atraso” custou 20 milhões mas foi mesmo paga.

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Depois de uma abordagem não concretizada antes de 15 de julho, altura em que a cláusula de rescisão de Otávio era ainda de 40 milhões de euros, os últimos dias trouxeram uma nova e decisiva ofensiva que levou mesmo o número 25 para a Arábia Saudita por 60 milhões de euros. Havendo acordo entre clube e jogador em relação ao salário, que irá triplicar nas próximas três temporadas à razão de 13 milhões por época (fora todas as regalias que os jogadores estrangeiros recebem ao aceitar a mudança para o país), o Al Nassr esteve depois em negociações com o FC Porto em relação às formas de pagamento para evitar o pagamento total da cláusula numa só tranche, ficando assim acordado a liquidação de uma parte substancial e o restante em duas prestações no futuro. Entre sexta-feira e sábado o acordo ficou fechado em definitivo.

Otávio esteve ao corrente de todos esses avanços e já não treinou no sábado, na última sessão de trabalhos antes da receção ao Farense. O médio esteve no Olival, começou a levar alguns pertences, despediu-se dos companheiros e fez as malas para rumar à Arábia Saudita na companhia do empresário, Israel Oliveira, do agente António Teixeira e do advogado José Mendes. A viagem, à tarde, fez com que já não estivesse no Dragão para assistir ao encontro do FC Porto com os algarvios, onde houve uma homenagem ao minuto 25 por parte dos adeptos dos azuis e brancos – retribuída por Otávio quando fez escala em Madrid a caminho do Dubai, onde realizou os exames médicos antes de assinar contrato depois na Arábia Saudita.

Do “Imortal por direito” ao “Para sempre dragão”: a despedida de Otávio, entre o Dragão e uma escala em Madrid

O internacional português torna-se assim a maior venda de sempre do FC Porto, superando os 50 milhões pagos pelo Real Madrid em 2019 após jogar uma temporada no Dragão. A SAD dos azuis e brancos tinha 67,5% do passe do jogador após a última renovação mas um acordo com o Coimbra Esporte Clube, que tinha a restante percentagem dos direitos económicos, vai permitir que o encaixe final seja de 47,5 milhões.

“A Futebol Clube do Porto – Futebol, SAD vem informar o mercado que chegou a acordo com o Al-Nassr Football Club para a cedência, a título definitivo, dos direitos de inscrição desportiva do jogador profissional de futebol Otávio Edmilson da Silva Monteiro (“Otávio”) pelo valor de 60M€ (sessenta milhões de euros), deduzido do valor de solidariedade devido a terceiros. Mais se informa, que foram renegociados os direitos económicos do jogador que estavam na posse do Coimbra Esporte Clube (32,5%), passando estes para o valor fixo de 12.750.000€ (doze milhões setecentos e cinquenta mil euros). Adicionalmente informa-se que os encargos associados a esta transação já se encontravam imobilizados, aquando da renovação com o jogador em março de 2021″, explicou a FC Porto SAD em comunicado enviado à CMVM.

Não foi por 40 milhões, sai agora por 60 milhões: Otávio vai reforçar Al Nassr de Ronaldo e já não joga mais pelo FC Porto

Aos 28 anos, Otávio vai jogar no terceiro país diferente na carreira, quebrando um período de sete épocas no FC Porto e nove em Portugal. Nascido em João Pessoa, o médio começou a jogar no Santa Cruz mas foi no Internacional que deu nas vistas, chegando em 2014 ao Dragão para reforçar inicialmente a equipa B dos azuis e brancos. Após alguns meses, saiu para o V. Guimarães, onde ficou um ano e meio antes de voltar ao FC Porto para o conjunto principal em 2016/17. Otávio ganhou um total de dez títulos (três Campeonatos, três Taças de Portugal, três Supertaças e uma Taça da Liga), sendo o único jogador que esteve em todos os plantéis de Sérgio Conceição desde que regressou ao Dragão como treinador, no verão de 2017.

“O FC Porto deu-me tudo, sou o que sou por causa deste clube. Saio muito feliz com tudo o que conquistei e como sempre quis, que era sair a bem para os dois lados. Chegou o momento de ir mas sempre com o coração aqui”, começou por referir Otávio em lágrimas aos meios do FC Porto na despedida. “Cheguei aqui e era só mais um, com o passar do tempo fui conquistando o meu espaço. Fui emprestado e dei tudo para poder voltar. Hoje, ao olhar para tudo o que passei, a família que criei… Vou embora mas vou estar sempre por aqui. Vou ser portista sempre, os meus filhos mais ainda. Vou sempre viver por aqui. Passei algumas dificuldades no começo mas fui sempre atrás do sucesso. Com trabalho tudo se conquista”, acrescentou.

“Recordo-me de tudo, de todos os títulos que conquistei. É um ciclo da vida. Apareceu uma oportunidade para mudar a minha vida, nunca sairia bem só para mim, o FC Porto também merecia por tudo o que me deu. Foi bom para todos, é seguir a vida. Se Deus quiser, no final da época quero desejar um ‘chora, bebé'”, concluiu o internacional português, recordando um festejo que ficou conhecido no título de 2022.