Os portugueses João Vieira e Inês Henriques desistiram esta quinta-feira da prova de 35 quilómetros marcha dos Mundiais de atletismo Budapeste2023.
É bastante duro [desistir], para quem pensava terminar a prova com um excelente resultado. Não me senti muito bem no aquecimento, fiquei um pouco mal disposto, senti-me bastante cansado durante a competição e não deu para prosseguir porque entrei num estado de exaustão acentuada”, explicou o marchador.
O veterano atleta de 47 anos abandonou a prova depois de ter cumprido sete quilómetros no circuito citadino, após pouco mais de meia hora, quando seguia a 2.24 minutos da liderança.
“Fadiga, o sistema nervoso não funcionou e vomitei após o aquecimento, tudo isso contribuiu para o mau dia de esta quinta-feira, mas tenho de levantar a cabeça. Já são muitos anos e quero continuar a dar alegrias ao povo português e é isso que vou continuar a fazer”, prometeu.
Na zona mista, o atleta do Sporting admitiu ter-se ressentido do esforço da prova dos 20 quilómetros, disputada no sábado passado, após a viagem atribulada de Lisboa, com pernoita forçada em Frankfurt, na Alemanha.
A aposta era fazer um bom resultado nos 20 quilómetros, porque só vai haver essa distância nos Jogos Olímpicos Paris2024, mas com as condições que tive de viagem, falta de descanso e abastecimentos sem serem os apropriados, numa prova em que tive esforços bastante intensos, paguei a fatura agora nos 35“, recordou João Vieira.
O atleta de Rio Maior enfrentava a competição da mais longa da marcha, depois de ter conquistado a medalha de prata em Doha2019, quando se tornou no medalhado mais velho de sempre [aos 43], e a de o bronze nos 20 em Moscovo2013.
Portugal em 16.º e último na inédita presença na estafeta mista 4×400 nos mundiais de atletismo/
Vieira cumpriu em Budapeste2023 a sua 13.ª presença em Mundiais, igualando o recordista absoluto, o espanhol e também marchador Jesus Ángel García Bragado, que terminou a carreira em Tóquio2020, aos 51, dois anos depois de ter somado a 13.ª presença seguida em Campeonatos do Mundo, em Doha2019, então como o mais velho de sempre, com 49 anos e 347 dias.
Um campeão olímpico, mundial e europeu de fora: Pichardo falha Mundiais de Budapeste por lesão
Também a marchadora português Inês Henriques lamentou o seu dia duro e triste vivido na despedida dos 35 quilómetros, com a desistência no terço inicial da prova.
Aos 43 anos, Inês Henriques abandonou a competição disputada no centro da capital húngara, com partida e chegada à Praça dos Heróis, na sua despedida da distância, após 14 quilómetros, quando seguia a 6.44 minutos da liderança.
Foi um dia duro e um dia triste, porque queria terminar. Por mim, pelo meu treinador de sempre [Jorge Miguel], que infelizmente não pôde estar por doença, pela minha família, por todo o apoio que me tem dado, e por ser a última prova de 35 quilómetros”, afirmou a atleta natural de Rio Maior, aludindo à retirada da distância do programa olímpico para Paris2024.
A ribatejana cumpriu a sua 11.ª presença em Mundiais, igualando a conterrânea e também marchadora Susana Feitor, naquela que foi apenas a sua segunda desistência, depois de ter abandonado nos extintos 50 quilómetro em Doha2019 — também não terminou os 20 em Edmonton2001, mas por desqualificação.
Inês Henriques, campeã do mundo dos 50 quilómetros em Londres2017, parou após uma hora de prova, tentando retomar a marcha, para cumprir o objetivo de “chegar ao fim”.
Era querer terminar, mas o corpo não reagia. Nas provas longas é complicado termos problema logo ao início, porque faltam muitos quilómetros, quando se tem problemas aos 25/30 quilómetros, ainda se aguenta, é muito difícil chegar ao fim”, admitiu.
A atleta do CN Rio Maior reconheceu ter sentido dificuldades muito cedo na prova, dificultando a “sobrevivência”.
“Procurei ser prudente, mas o meu corpo não reagia. Ainda era muito cedo, ainda faltava muito, eu parei, tentei retomar, mas não reagia, e, quando o corpo não responde, a cabeça também não deixa. É uma bola de neve e não conseguimos sair dali”, resumiu.
Apesar disso, Inês Henriques juntou-se a Susana Feitor no grupo de atletas com 11 presenças em Campeonatos do Mundo, nos quais podem ser igualadas em Budapeste2023 pelo maratonista mongol Bat-Ochiryn Ser-Od, de 41 anos.