Os números não poderiam jogar mais a favor. E não, não era apenas a vantagem de 2-1 que vinha da Pedreira com todos os golos a surgirem na segunda parte da primeira mão. Facto 1: nunca o Panathinaikos conseguira ganhar a uma equipa portuguesa em casa em quatro jogos, sendo que o único desaire que sofreu surgiu na sequência de uma vitória nas Antas que não chegou para afastar o FC Porto de José Mourinho nos quartos da Taça UEFA de 2002/03. Facto 2: nunca o Sp. Braga tinha sofrido uma derrota na Grécia, com duas vitórias e um empate nos três encontros feitos no país. Facto 3 (este mais recente): nas duas partidas feitas fora esta temporada, os minhotos tinham ganho e marcado quatro golos frente a Backa Topola e Desp. Chaves.

Abel Ruiz nem precisou de se ver grego para marcar (a crónica do Sp. Braga-Panathinaikos)

Se os números contassem, os Guerreiros do Minho podiam começar a preparar o fato de gala para o regresso à fase de grupos da Liga dos Campeões mais de uma década depois. No entanto, o remate de Daniel Mancini no quinto minuto de descontos a anular a desvantagem de dois golos, a entrada dos gregos no jogo e aquele falhanço incrível de Sporar no segundo tempo eram mais do que sinais para as dificuldades que se poderiam antever no Spyros Louis, com cerca de 60.000 adeptos helénicos que confiavam na reviravolta.

PUB • CONTINUE A LER A SEGUIR

“Não acho que haja favoritos. O que me preocupa na mesma medida que no primeiro jogo é o coletivo do Panathinaikos. Somos uma equipa que vai precisar e procurar fazer golos para vencer e consolidar a vantagem mas neste momento sinto extrema confiança em relação ao que podemos fazer e à qualidade do plantel. Queremos demonstrar o melhor de nós para atingirmos um objetivo que é de extrema importância. Disse antes do primeiro jogo que esta seria uma das eliminatórias mais importantes da história recente do Sp. Braga. Estamos a meio, com uma vantagem conseguida com justiça e empenho, mas nada fechado. Portanto, a ambição e determinação têm de ser as mesmas da primeira mão”, apontara o técnico Artur Jorge, que voltou a reforçar essa vontade de jogar pela vitória para garantir uma vaga na Champions.

“Preparação? O pensamento foi o de tentar desvalorizar a vantagem, que foi conseguida com justiça. Sabemos que não podemos de forma alguma ficar encostados a uma vantagem mínima mas sim com ambição de olharmos para um Sp. Braga que se quer capaz de lutar pela vitória. Temos de ser uma equipa que tenha a capacidade de poder jogar contra um ambiente adverso, contra um adversário com qualidade coletiva. Queremos trazer ao de cima o que temos de melhor. Esta é a grande preocupação olhando só para o jogo. A vantagem é uma vantagem mas será importante se conseguirmos mantê-la ou ampliá-la”, acrescentara.

O Sp. Braga tinha 90 minutos que podiam não definir a época mas que iriam definir o patamar onde está o projeto desportivo. Existia sempre uma vertente financeira pelo meio, com uma diferença de mais de 15 milhões entre o que representaria uma entrada na Liga dos Campeões ou uma queda na Liga Europa, mas era a presença entre os maiores da Europa com um plantel que conta com sete internacionais portugueses e que vai dando passos cada vez mais seguros para se colocar perto do topo do futebol nacional que acabava por representar o maior dos prémios, tal como se viu em 2010/11, quando os minhotos fizeram nove pontos na fase de grupos e bateram o Arsenal, ou em 2012/13, quando uma derrota por 3-2 em Old Trafford frente ao Manchester United após Alan ter bisado nos 20 minutos iniciais condicionou o resto da campanha. No final, carimbou o passaporte para a terceira presença de sempre na competição 11 anos depois. E se Matheus voltou a ser decisivo, a jogada do único golo mostrou bem a qualidade que o plantel dos minhotos dispõe…

Entre uma interrupção logo no minuto inicial pela utilização de lasers por parte dos adeptos, o que levou a um primeiro “aviso” do árbitro italiano Daniele Orsato, o encontro começou com lances de perigo junto das duas balizas entre uma saída mal medida de Matheus da baliza que por pouco Fotis Ioannidis não conseguiu aproveitar e um remate de Vítor Carvalho à entrada da área após jogada de Bruma que bateu em Álvaro Djaló quando ia ameaçar Brignoli. O jovem avançado era uma das alterações de Artur Jorge para o encontro na Grécia, entrando para o lugar de Pizzi (André Horta substituiu o lesionado Al Musrati), e deixava a ideia de que os minhotos queriam apostar nas transições rápidas para aproveitarem o risco dos visitados.

Aos poucos, o gás foi acabando e o terreno inclinou para a baliza de Matheus. Por um lado, a capacidade de saída dos minhotos foi perdendo pragmatismo, entre uma ou outra jogada de Bruma ou Ricardo Horta que levava a bola até ao último terço mas sem finalização; por outro, o Panathinaikos ganhou outro protagonismo pelos corredores laterais, com dois cruzamentos que passaram toda a área sem que ninguém conseguisse o desvio para a baliza. Ainda assim, e até ao intervalo, houve apenas duas oportunidades e divididas, a começar por um remate cruzado de Abel Ruíz na área defendido por Brignoli (32′) e uma grande intervenção de Matheus após cabeceamento de Vagiannidis na área na sequência de um ressalto após canto (45′).

Continuava tudo na mesma, com a segunda parte a começar com a lesão de Niakaté e a entrada de Sardar para o eixo defensivo dos minhotos e com uma oportunidade flagrante de Palacios, em mais uma boa jogada pela direita com remate cruzado para grande defesa com a ponta dos dedos de Matheus (54′). Artur Jorge ia pedindo calma, concentração e cabeça à equipa mas o Panathinaikos subia linhas para um derradeiro ataque à baliza contrária que permitisse pelo menos levar a eliminatória para prolongamento. Seria esse o ponto fulcral nos minutos finais: aguentar a pressão, conseguir ter bola de preferência longe da área, esticar o jogo até à baliza contrária para que a defesa dos gregos não subisse tanto. E foi assim que chegou a jogada olímpica do 1-0 que fechou a eliminatória, com Pizzi a dar em Ricardo Horta, o capitão a assistir Bruma e o extremo a rematar em arco descaído sobre a esquerda sem hipóteses para Brignoli (83′).