Apesar de ser uma prova de estrada, a Vuelta mais parece uma corrida de obstáculos. Muito longe da linearidade que a estrada por vezes apresenta, as consequências dos episódios inesperados de uma etapa afetam sempre a corrida seguinte. Não se trata apenas de contar os segundos para ordenar a classificação geral, mas também do que precisa o corpo de um ciclista para continuar em prova.

Mesmo que tenha forçado a continuidade, o corpo de Rúben Guerreiro (Movistar) não resistiu a uma fratura na clavícula e o português foi forçado abandonar, tal como Bryan Coquard (Cofidis) e Kobe Goossens (Intermarché-Wanty). “Como consequência da queda sofrida pelo Rúben Guerreiro durante a quarta etapa da Vuelta, o ciclista português sofreu uma fratura na clavícula esquerda e não vai partir esta quarta-feira”, comunicou a Movistar.

Com a saída de cena do corredor que também tinha abandonado o Tour, o contingente português da Vuelta fica assim ainda mais reduzido, pois já antes da primeira etapa Ivo Oliveira (UAE Team Emirates) não reuniu condições físicas para partir. Sobram assim João Almeida e Rui Oliveira (UAE Emirates). Nelson Oliveira (Movistar). André Carvalho (Cofidis) e Rui Costa (Intermarché-Wanty).

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Apesar de tudo, o acidente que assinalou a etapa quatro da Vuelta não trouxe só aspetos negativos. João Almeida (11.º lugar no início da etapa cinco) beneficiou com as quedas da concorrência e colocou-se à porta do top 10 da classificação geral, sendo imediatamente precedido pelos colegas de equipa Marc Soler (10.º) e Juan Ayuso (9.º). A camisola vermelha continuava a ser de Remco Evenepoel (Soudal Quick-Step).

Kaden Groves (Alpecin-Deceuninck) venceu ao sprint em Tarragona e expressou um desejo. “Tem sido um bom ano, com uma vitória numa etapa do Giro e na Vuelta bastante cedo, espero que não seja a última”. A quinta tirada podia ser novo dia para uma chegada em conjunto.

Fugiram ao óleo, mas ainda houve um escorregão: Kaden Groves vence ao sprint e João Almeida fica à porta do top 10

Ainda antes da partida oficial para os 186,5 km entre Morella e Burriana, Eddie Dunbar (Jayco AlUla) teve um acidente que o forçou a entrar na lista de saídas forçadas da competição. Depois das tentativas falhadas de fuga por parte de vários elementos do pelotão, o uruguaio Eric Fagundez (Burgos-BH) avançou a solo ao quilómetro 16 e colocou-se a quatro minutos do grupo principal.

A 80 quilómetros do fim, Fagundez começava a sentir a falta de auxílio, mas ainda estava com três minutos de avanço do pelotão que era liderado pela Alpecin-Deceuninck, equipa que procurava deixar Kaden Groves em posição de vencer pelo segundo dia consecutivo. No entanto, o uruguaio já não chegou como líder ao topo de Collado de la Ibola. Eduardo Sepúlveda movimentou-se no início dos 11,4 km da subida de segunda categoria para defender a camisola da montanha (luta para a qual amealhou mais cinco pontos) e aproveitar o embalo para tentar vencer a etapa, algo que o argentino tem tentado com insistência nos últimos dias. Pelo meio, mais más notícias para a Jayco que, no mesmo dia em que perdeu Eddie Dunbar, ficou também sem Filippo Zana, que se queixou de dores no estômago.

A descida que se seguia podia permitir que Fagundez se colasse a Sepúlveda e juntos cooperassem até à meta, o que acabou por não acontecer devido ao trabalho do pelotão. A 37 quilómetros do fim, foram ambos engolidos. Quando a UAE Emirates se juntou à Alpecin-Deceuninck, montava-se o cenário para a desforra entre Sebastian Molano e Kaden Groves. Antes disso, Remco Evenepoel fez por passar em primeiro no sprint intermédio, onde ganhou seis segundos de bonificação, somando já 16” no global da Vuelta. Kaden Groves juntou 17 pontos à luta pela camisola verde.

Quando uma queda a cerca de três quilómetros numa das muitas rotundas que antecederam a meta aconteceu, Molano já era uma carta fora do baralho. Kaden Groves tinha tudo para também não chegar aos metros finais com o melhor apoio, visto que a Alpecin-Deceuninck perdeu um homem no acidente. Milan Menten (Lotto Dstny), um dos candidatos, também esteve envolvido no problema. Filippo Ganna (INEOS Grenadiers) por pouco não ficava com a etapa cinco, mas Groves fez mesmo o bis antes da chegada em alto no Observatório Astrofísico de Javalambre. João Almeida entrou no top 10 fruto de uma quebra de Romain Bardet que terminou a 5′ 29” do australiano e chegou apenas no 167.º lugar.