Efeito Fujiwhara. Bloqueio em Ómega. É provável que nunca tenha ouvido falar de nenhum destes termos. Mas eles estão e vão continuar a marcar a meteorologia dos próximos dias. E o maior problema é que os dois fenómenos não são muito frequentes e, pior, são muito imprevisíveis. Sendo que o primeiro deles, batizado por um meteorologista japonês, pode trazer bastante chuva a Portugal (e de novo a Espanha) a partir de sexta e até domingo.

Indo por partes. Ou pelo que mais diretamente nos afetará: o efeito Fujiwhara. Acontece quando uma tempestade mais forte ‘engole’ uma mais fraca. Ora, é precisamente o que está a acontecer com a depressão atmosférica, DANA — ou gota fria — que inundou grandes partes de Espanha e também causou estragos em Portugal — no último fim de semana e os restos do furacão Franklin, que se formou no Caribe (chegou à categoria 4) e subiu depois até às nossas altitudes, posicionando-se ao largo dos Açores.

Quando se pensava que a depressão ‘espanhola’ tinha desaparecido, depois de deixar também chuvas fortes no Norte de Portugal e na Galiza, eis que ela foi de encontro ao Franklin, agora já uma depressão pós tropical. Se se fundirem — que, ao que tudo indica neste momento é o que vai acontecer nas próximas 48 horas (os vários modelos meteorológicos apontam todos no mesmo sentido) — formarão uma nova tempestade.

Se isso se concretizar, o Franklin pode ressuscitar como ciclone tropical ou subtropical. As possibilidades disso acontecer estiveram nos 20% e baixaram depois para apenas 10%, segundo o National Hurricane Center dos EUA, que monitoriza os furacões no Atlântico Norte (e tem agora como grande preocupação o Lee, o primeiro da temporada que pode atingir a categoria máxima de 5).

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Mas esta quarta-feira subiram para 30%, apontando assim para que o Franklin volte a ganhar força e características de ciclone tropical ou subtropical.

Contudo, não se prevê um fenómeno como o que afetou Espanha ou está a afetar a Grécia (e a Turquia e Bulgária). No entanto, trará bastante chuva e trovoada (com mais granizo, como o que já causou grandes estragos no último fim de semana), a partir desta quinta-feira à noite e até domingo de manhã. Serão quatro dias de mau tempo que afetarão sobretudo o Minho e a Beira Alta, com acumulação de chuva prevista entre 50 e 100 mm.

O resto do país estará igualmente com chuva e vento até ao início da semana (muitas vezes também em forma de trovoada) e o sol e o calor só devem voltar a partir de terça.

O problema deste efeito meteorológico, batizado pelo meteorologista japonês Sakuhei Fujiwara no início dos anos 20, é que não é previsível perceber de imediato o que acontece quando a tempestade mais forte (neste caso o Franklin) aglutina a mais fraca (a gota fria que deixou chuvas fortíssimas em Espanha), o que acontece quando estão a cerca de 2 mil quilómetros uma da outra. Tudo depende do local onde isso vai acontecer (deverá ser a noroeste de Portugal) e da temperatura ao nível do mar, que é chave para perceber como as tempestades se movimentam, com que velocidade e que dimensão ganham.

Se apanhar ar quente, as coisas podem complicar-se. Se entrar no fluxo de ar frio polar, até se pode dissipar e quase não produzir efeitos. Por isso o melhor é ir estando atento aos avisos meteorológicos. Sendo que é aconselhável não fazer planos para ir à praia. Até porque além da chuva, as temperaturas devem voltar a baixar (em relação a esta quarta e quinta).

O efeito Ómega

E o que é isso de fluxo de ar frio polar? Pois é aqui que entra o segundo termo meteorológico que está no início deste artigo, e efeito Ómega (como a letra grega). E Portugal, ou melhor, a Península Ibérica, está também sob o seu efeito.

A corrente polar determina na prática o clima do hemisfério Norte: trata-se de um fluxo de ar frio que gira à volta do Polo Norte, com maior velocidade e mais consistência no inverno e mais lentamente, o que provoca mais ‘ondas’ no verão. Sempre que uma destas ondulações desce para latitudes mais baixas, traz mais frio (e neve) à Europa. Se uma bolsa de ar frio se solta do fluxo acontece o mesmo.

O que está a acontecer deste o fim de semana passado é que a Península Ibérica esteve primeiro sob efeito da gota fria e chuvosa e agora vai ser afetada pelos restos do Franklin. E, na outra ponta da Europa, a tempestade Daniel (um Medicane, o nome que se dão aos furacões do Mediterrâneo, cada vez mais frequentes e mais fortes) está a causar inundações e cheias por chuvas nunca antes vistas (chegaram aos 600/800 mm por m2 em 24h) na Grécia, Bulgária e Turquia. Ambos os casos são também alimentados pelo ar quente das águas do mar, que atingiram também temperaturas recorde.

Estas duas tempestades são duas ondulações do fluxo polar, e permitiram que pelo meio tenha subido uma onda de calor do Saara, que afeta a Europa central e até o Reino Unido, onde são esperadas temperaturas de 32ºC. Visualmente, formam uma ferradura, ou a letra ómega grega.

E depois? As suas tempestades, o Franklin nesta ponta da Europa, e o Daniel, na Grécia, devem dissipar-se até terça-feira. A partir daí, o sol deve voltar a todo o país e quarta as temperaturas deverão subir e colocar novamente todas as regiões com máximas perto dos 30ºC. Quanto às previsões para o resto do mês, o IPMA também já as colocou no seu site.

Para a semana de 11 a 17 de setembro, não há indicações de chuva e as temperaturas devem ficar até três graus acima do normal para esta altura do ano. O Instituto Português de Meteorologia aponta para uma situação idêntica, quer para a semana de 18 a 24, quer para a de 25 a 1 de outubro. Ou seja, vai ser um fim de setembro quente e seco.

Até lá, fique com as previsões de temperaturas para os próximos dias. No Continente e Ilhas.