Efeito Fujiwhara. Bloqueio em Ómega. É provável que nunca tenha ouvido falar de nenhum destes termos. Mas eles estão e vão continuar a marcar a meteorologia dos próximos dias. E o maior problema é que os dois fenómenos não são muito frequentes e, pior, são muito imprevisíveis. Sendo que o primeiro deles, batizado por um meteorologista japonês, pode trazer bastante chuva a Portugal (e de novo a Espanha) a partir de sexta e até domingo.
Indo por partes. Ou pelo que mais diretamente nos afetará: o efeito Fujiwhara. Acontece quando uma tempestade mais forte ‘engole’ uma mais fraca. Ora, é precisamente o que está a acontecer com a depressão atmosférica, DANA — ou gota fria — que inundou grandes partes de Espanha e também causou estragos em Portugal — no último fim de semana e os restos do furacão Franklin, que se formou no Caribe (chegou à categoria 4) e subiu depois até às nossas altitudes, posicionando-se ao largo dos Açores.
Quando se pensava que a depressão ‘espanhola’ tinha desaparecido, depois de deixar também chuvas fortes no Norte de Portugal e na Galiza, eis que ela foi de encontro ao Franklin, agora já uma depressão pós tropical. Se se fundirem — que, ao que tudo indica neste momento é o que vai acontecer nas próximas 48 horas (os vários modelos meteorológicos apontam todos no mesmo sentido) — formarão uma nova tempestade.
Ahí tenemos a ex #Franklin, queriendo resucitar como ciclón tropical o subtropical. Sigue habiendo un sistema convectivo de mesoescala adherido a un LLCC bien definido. Incluso con un buen outflow de cirros en su parte superior. Definitivamente, queriendo volver a ser alguien⬇️ pic.twitter.com/EjB7vIkLdC
— Pedro C. Fernández (@PedroCFernandez) September 6, 2023
Serias posibilidades de ex #Franklin de recuperar el estatus de ciclón subtropical, al menos. Véase la pelota convectiva que acompaña a su centro de circulación de niveles bajos. Su persistencia, permitiría perfectamente su clasificación. Veremos qué decide @NHC_Atlantic pic.twitter.com/ufqhhbgybT
— Pedro C. Fernández (@PedroCFernandez) September 6, 2023
Se isso se concretizar, o Franklin pode ressuscitar como ciclone tropical ou subtropical. As possibilidades disso acontecer estiveram nos 20% e baixaram depois para apenas 10%, segundo o National Hurricane Center dos EUA, que monitoriza os furacões no Atlântico Norte (e tem agora como grande preocupação o Lee, o primeiro da temporada que pode atingir a categoria máxima de 5).
Mas esta quarta-feira subiram para 30%, apontando assim para que o Franklin volte a ganhar força e características de ciclone tropical ou subtropical.
11AM AST Sep 6: #Lee is forecast to become a major hurricane by early Saturday. Swells are likely to cause life-threatening surf and rip currents across portions of the Lesser Antilles late this week. Stay up to date with the latest at https://t.co/tW4KeGdBFb pic.twitter.com/2CVr855fan
— National Hurricane Center (@NHC_Atlantic) September 6, 2023
Contudo, não se prevê um fenómeno como o que afetou Espanha ou está a afetar a Grécia (e a Turquia e Bulgária). No entanto, trará bastante chuva e trovoada (com mais granizo, como o que já causou grandes estragos no último fim de semana), a partir desta quinta-feira à noite e até domingo de manhã. Serão quatro dias de mau tempo que afetarão sobretudo o Minho e a Beira Alta, com acumulação de chuva prevista entre 50 e 100 mm.
O resto do país estará igualmente com chuva e vento até ao início da semana (muitas vezes também em forma de trovoada) e o sol e o calor só devem voltar a partir de terça.
O problema deste efeito meteorológico, batizado pelo meteorologista japonês Sakuhei Fujiwara no início dos anos 20, é que não é previsível perceber de imediato o que acontece quando a tempestade mais forte (neste caso o Franklin) aglutina a mais fraca (a gota fria que deixou chuvas fortíssimas em Espanha), o que acontece quando estão a cerca de 2 mil quilómetros uma da outra. Tudo depende do local onde isso vai acontecer (deverá ser a noroeste de Portugal) e da temperatura ao nível do mar, que é chave para perceber como as tempestades se movimentam, com que velocidade e que dimensão ganham.
Se apanhar ar quente, as coisas podem complicar-se. Se entrar no fluxo de ar frio polar, até se pode dissipar e quase não produzir efeitos. Por isso o melhor é ir estando atento aos avisos meteorológicos. Sendo que é aconselhável não fazer planos para ir à praia. Até porque além da chuva, as temperaturas devem voltar a baixar (em relação a esta quarta e quinta).
Nos próximos 4️⃣ dias prevê-se #chuva ou aguaceiros potencialmente acompanhados de trovoada e granizo ⛈️☄️ em boa parte de #Portugal continental.
Situação potencialmente adversa na Beira Baixa ⚠️???? e acumulações consideráveis no Minho e Douro Litoral (entre 50 a mais de 100 mm). pic.twitter.com/RrL9G4882U
— Meteored | Tempo.pt (@MeteoredPT) September 6, 2023
Nas próximas horas a gota fria e o ex-furacão #Franklin vão fundir-se ⛈️, originando um impressionante efeito #Fujiwhara ????. Saiba mais com @alfredomgraca95 ????https://t.co/GasG3ybQ3R
— Meteored | Tempo.pt (@MeteoredPT) September 4, 2023
O efeito Ómega
E o que é isso de fluxo de ar frio polar? Pois é aqui que entra o segundo termo meteorológico que está no início deste artigo, e efeito Ómega (como a letra grega). E Portugal, ou melhor, a Península Ibérica, está também sob o seu efeito.
Perfectament representat el bloc Omega i el perquè de les fortes pluges sobretot a Grècia i part de Turquia, i el perquè nosaltres i part d'Europa estem en una cúpula de calor i pols sahariana. #meteo https://t.co/erl54jJVyX
— Àlex Van der Laan (@alexmegapc) September 6, 2023
Bloqueio em ómega (Ω) na #Europa! Crista anticiclónica ladeada por duas depressões muito peculiares.
1️⃣ Uma é a fusão do ex-furacão Franklin com a gota fria ????, a oeste de #Portugal Continental.
2️⃣ A outra está no Mar Jónico e é responsável pela chuva torrencial ⛈️???? na #Grécia. pic.twitter.com/KVjzMByzSD— Meteored | Tempo.pt (@MeteoredPT) September 5, 2023
A corrente polar determina na prática o clima do hemisfério Norte: trata-se de um fluxo de ar frio que gira à volta do Polo Norte, com maior velocidade e mais consistência no inverno e mais lentamente, o que provoca mais ‘ondas’ no verão. Sempre que uma destas ondulações desce para latitudes mais baixas, traz mais frio (e neve) à Europa. Se uma bolsa de ar frio se solta do fluxo acontece o mesmo.
The blocked jet stream pattern with a ridge in northwest Europe is causing the September heatwave. Meanwhile the trough in the eastern Mediterranean is responsible for severe flooding from storm Daniel. The jet stream pattern is stuck for the next few days. pic.twitter.com/5a2P154tzz
— BBC Weather (@bbcweather) September 6, 2023
O que está a acontecer deste o fim de semana passado é que a Península Ibérica esteve primeiro sob efeito da gota fria e chuvosa e agora vai ser afetada pelos restos do Franklin. E, na outra ponta da Europa, a tempestade Daniel (um Medicane, o nome que se dão aos furacões do Mediterrâneo, cada vez mais frequentes e mais fortes) está a causar inundações e cheias por chuvas nunca antes vistas (chegaram aos 600/800 mm por m2 em 24h) na Grécia, Bulgária e Turquia. Ambos os casos são também alimentados pelo ar quente das águas do mar, que atingiram também temperaturas recorde.
Estas duas tempestades são duas ondulações do fluxo polar, e permitiram que pelo meio tenha subido uma onda de calor do Saara, que afeta a Europa central e até o Reino Unido, onde são esperadas temperaturas de 32ºC. Visualmente, formam uma ferradura, ou a letra ómega grega.
????️ Today has been the hottest September day since 2016 with Kew Gardens, London reaching 32.0°C
???? Temperatures will rise even higher over the coming days, and are likely to exceed the current UK top temperature of 2023 which stands at 32.2°C pic.twitter.com/PDTkxDFIDP
— Met Office (@metoffice) September 6, 2023
E depois? As suas tempestades, o Franklin nesta ponta da Europa, e o Daniel, na Grécia, devem dissipar-se até terça-feira. A partir daí, o sol deve voltar a todo o país e quarta as temperaturas deverão subir e colocar novamente todas as regiões com máximas perto dos 30ºC. Quanto às previsões para o resto do mês, o IPMA também já as colocou no seu site.
Para a semana de 11 a 17 de setembro, não há indicações de chuva e as temperaturas devem ficar até três graus acima do normal para esta altura do ano. O Instituto Português de Meteorologia aponta para uma situação idêntica, quer para a semana de 18 a 24, quer para a de 25 a 1 de outubro. Ou seja, vai ser um fim de setembro quente e seco.
Até lá, fique com as previsões de temperaturas para os próximos dias. No Continente e Ilhas.