O Qatar foi o epicentro do futebol quando organizou o Mundial em 2022. Tratou-se de um evento envolvido em polémica por questões relativas às mortes de trabalhadores na construção dos estádios, ao facto do país criminalizar a homossexualidade e ao desinteresse generalizado da população local em relação ao futebol.

Em março desse ano, Antero Henrique assumiu o cargo de diretor desportivo da Qatar Stars League, o campeonato local. Trata-se, como o próprio explicou no Thinking Football Summit — evento organizado pela Liga Portuguesa de Futebol Profissional que está a decorrer no Porto — de “um cargo público, associado a estruturas governamentais”. O dirigente explicou que o desenvolvimento do futebol qatari não terminou após a organização do Mundial, sendo que as funções que o português desempenha atualmente visam “uniformizar” processos de desenvolvimento e a liga do país, enquanto organismo, pode vetar contratações de jogadores e definir orçamentos para as equipas com base na meritocracia.

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“O grande desafio foi tornar a liga mais competitiva e desenvolver um conjunto de processos, com as pessoas adequadas, que levasse a que essa competitividade aumentasse. Tradicionalmente, estes mercados eram mercados de chegada. O Qatar é um país que investe largamente em desporto. Só em 2023 há 23 eventos internacionais”, referiu Antero Henrique.

“É um país que investe largamente em desporto, um país que gosta de desporto, que tem paixão por desporto. O futebol aparece como unidade mais visível, como sempre, do desporto mundial. Quando o Qatar investe em pessoas, processos e infraestruturas, significa que quer ser um player importante na plataforma mundial em que o futebol é independente da sociedade. O Qatar, a Arábia Saudita, os Estados Unidos… O futebol tem que viver em paralelo com as outras realidades existentes no mundo. Temos de manter a independência e jamais misturar o futebol com o que quer que seja. Como profissionais de futebol temos essa obrigação”, continuou.

Antero Henrique desmistifica que o Qatar invista muito dinheiro no futebol, considerando que entre Portugal e Qatar “não há muita diferença ao nível geral” relativamente à massa salarial. Ao mesmo tempo, o dirigente demarca-se do modelo posto em prática pelo país vizinho, a Arábia Saudita.

“O Qatar e a Arábia Saudita é completamente diferente. Não conheço a estratégia da Arábia Saudita. Sabemos que houve investimentos volumosos em quatro equipas. O nosso objetivo é ter uma liga equilibrada, o que, segundo percebi até agora, não é a grande preocupação da Arábia Saudita, lá chegarão. O nosso projeto é completamente diferente da MLS, como é diferente da Liga dos Campeões… O nosso projeto tem um caminho, uma linha diferente. A ideia não é alterar em função de maiores investimentos. Queremos ter uma liga realista”, apontou.