Alinhar o nosso propósito com as necessidades do Planeta deve ser, cada vez mais, uma prioridade. Tornarmo-nos mais ecológicos, promover e implementar medidas mais sustentáveis são alguns dos passos que devem ser dados não só pelos indivíduos, mas também por organismos como as próprias empresas. Sabemos que não podemos continuar a consumir mais recursos do que a sua capacidade de reprodução natural, que é preciso reduzir a poluição, o desperdício e as emissões de gases com efeitos de estufa. As políticas públicas são fundamentais, mas não chegam. Assim, que papel têm desempenhado as empresas neste caminho? E que passos ainda ficam por dar? A inovação e a tecnologia são aliados da sustentabilidade? De que forma? São algumas das perguntas que deram o pontapé de partida para o Webinar, Conversas Com Eco, no passado dia 12 de setembro.

Foi no estúdio do Observador que se juntaram à conversa Emanuel Proença, CEO da Prio, Ana Barbosa, sustainability manager na IKEA e Joana Guerra Tadeu, ativista pela justiça climática. O encontro foi moderado por Paulo Ferreira, host da Rádio Observador, que não tardou em lançar o tema com a pergunta: Quais são as prioridades?

No setor da mobilidade, Emanuel Proença começa por dizer que “há imenso por fazer. E esse imenso por fazer resulta de, no fundo, três variáveis. A primeira, o facto de a mobilidade ser tão crítica para a sociedade. Nós precisamos de nos mover para fazer acontecer praticamente tudo, desde momentos felizes a momentos de economia e desenvolvimento. Segundo, por reconhecermos que é um setor de uma grande dimensão…para ter ideia só em Portugal no modal rodoviário – camiões, carros, carrinhas – consomem mais de 6 mil milhões de litros de gasóleo e gasolina por ano. E neste número não está ainda o consumo dos aviões, os consumos dos navios e por aí adiante. São muitos litros de problema, de origem fóssil em grande parte. É realmente preciso transformar as soluções de mobilidade, trazendo para bordo todas as soluções que possam escalar e que possam manter boa mobilidade, a um bom custo, com valor acrescentado para o país e com uma solução ecológica muito mais equilibrada do que a atual”.

Acrescenta em seguida que o projeto Prio tem sido traçado nesse sentido, fazendo-se valer do facto de ser uma empresa nova. “É uma empresa do século XXI. Nós temos 16 anos apenas de atividade e, portanto, começámos com a sorte de ter empreendedores visionários. Começou a ficar evidente que tínhamos uma oportunidade enorme de transformar o setor por dentro. E acho que estar nessa posição obriga-nos a uma grande responsabilidade e coloca-nos um grande desafio, mas coloca-nos também uma oportunidade enorme de o transformarmos e, idealmente, transformarmos e resolvermos um dos grandes problemas da sociedade”, afirma.

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Com o exemplo da Prio, uma conclusão tornou-se óbvia ao longo da conversa: a sustentabilidade não deve ser apenas um tema debatido, ela deve estar integrada naquilo que é o plano de negócios. “Se a sustentabilidade não estiver no plano de negócios, tudo é greenwashing. Se uma empresa está a gastar mais dinheiro a comunicar a sustentabilidade do que nas operações para que elas sejam sustentáveis, está a fazer greenwashing”, Joana Tadeu não hesita em sublinhar, continuando: “Até agora nós não temos maneira de não ter impacto negativo com as nossas atividades económicas. E temos que as ter e vamos ter que lidar com este impacto de alguma forma. Mas acho que esta lucidez das metas que foram aqui transmitidas e esta lucidez de que ou está alinhado com o plano de negócio ou não vai acontecer é fundamental, porque nós não podemos andar aqui românticos a achar que as empresas vão salvar o planeta. Não, as empresas, por muito que sejam feitas por pessoas e possa haver pessoas muito boas dentro de uma empresa, o objetivo da empresa é crescer”.

Neste sentido, Ana Barbosa afirma que não é possível pensar-se em sustentabilidade apenas como “pessoas e planeta. Temos que ter o aspeto económico aqui também. Obviamente que as empresas não podem perder este aspeto do seu ponto de vista, o negócio tem que crescer, mas tem que crescer ao mesmo tempo que estamos a ter um impacto mais positivo e cada vez mais positivo nas pessoas e no planeta também”. Pegando no exemplo do trabalho desenvolvido pela IKEA nesse sentido, partilha uma das medidas implementadas: “Pegando um exemplo da mobilidade, nós, IKEA Portugal, trabalhamos com os nossos prestadores de serviços de entregas, com vista a chegar a entregas elétricas. Todas as nossas entregas deverão ser elétricas em 2025. Estamos a trabalhar nisto”. Este é apenas um pequeno exemplo de um grande trabalho que tem vindo a ser posto em prática há bastante tempo. E para que o resultado final seja possível de alcançar, a sustainability manager acredita que as parcerias terão aqui um papel de destaque. “Nunca conseguiremos atingir um objetivo comum, sozinhos”, remata.

Se a viagem não se faz sozinha, nesta que é a da sustentabilidade, qual é o papel do consumidor? De que forma vê o consumidor estas mudanças e até que ponto está disposto a fazer parte delas? E o impacto das políticas públicas neste sentido?

“Já não podemos alegar ignorância, já passamos essa fase. Mas acho que estamos muito paralisados. Enquanto pessoas, enquanto seres humanos. Estamos todos um bocadinho paralisados sem saber muito bem qual é o nosso papel, qual é o nosso dever e sem saber muito bem como é que podemos participar. Há uma ideia de que nós estamos na vanguarda, e estamos, Portugal a nível das políticas ambientais está à frente da Europa. Nós estamos à frente, mas é porque quem está atrás de nós não está a fazer nenhum. E é preciso termos consciência disto. Isto não é propriamente uma corrida e nós estamos a fazer muito, a comparar com os outros, mas não é muito a comparar com aquilo que é preciso fazer. Portanto, as políticas também têm que ser mais exigentes”, começa Joana Tadeu, sendo depois seguida das palavras de Ana Barbosa: “As pessoas associam a sustentabilidade a um custo. E temos ainda a tal exigência das empresas. Em Portugal, quase 80% das pessoas esperam que as empresas apresentem soluções. Há aqui uma vontade de, mas ao mesmo tempo dúvidas sobre como fazer. Eu creio que cada um na sua área pode aproveitar, tem a responsabilidade e a oportunidade de aproveitar precisamente esta necessidade. Nós tentamos fazê-lo com os nossos produtos, os nossos serviços, sempre que possível. E isto permite desbloquear o consumidor. Sempre que possível tentamos mostrar poupanças monetárias, trabalhamos muito para desmistificar esta ideia de que a sustentabilidade tem que ser mais cara. Todas as empresas que puderem trabalhar nesse sentido, trarão mais-valias naquilo que será a ação do consumidor”.

Já para Emanuel Proença, é necessário oferecer aos consumidores soluções e literacia. “Acho que é preciso dar às pessoas as soluções, permitir-lhes utilizá-las. É preciso trazer um bocadinho mais de explicação sobre como elas podem ser boas soluções. Para isso é preciso que haja alguma confiança entre empresas e sociedade. E essa confiança, por vezes, não está lá. Isso acaba por ser uma barreira”, declara.

É precisamente no sentido de oferecer soluções aos seus consumidores que a Prio lança o ECO Diesel, um combustível mais ecológico e inovador, que surge para oferecer uma melhor performance a veículos movidos a gasóleo, com 15% de energia renovável. “Ele mistura mais diesel biológico com menos diesel fóssil e consegue coisas fantásticas. Ele é melhor para o motor, gera maior durabilidade por ter mais lubricidade. Ele é melhor para o ambiente porque reduz em 18% o CO2, as emissões de CO2 associadas a um quilómetro percorrido, e é ligeiramente melhor para os consumos”, partilha o CEO.

Porque o futuro se faz um dia de cada vez, mas sem nunca deixar que o hoje seja um dia a mais, fica a certeza de que para o futuro, ainda há muito por fazer. “Do lado da mobilidade há ainda muita coisa por fazer. Nós ainda temos uma pegada carbónica muito grande, precisamente porque trabalhamos, em grande parte, com base em combustíveis fósseis”. Nas palavras de Emanuel Proença, o caminho “é chegar a um dia em que nós podemos dizer adeus à última molécula de combustível fóssil. E esse caminho é feito recorrendo a todas as soluções que há hoje e tentando escalá-las, torná-las melhores, mais utilizadas, disponíveis, de mais fácil acesso. Fazer mais, e cada vez melhor, para que Portugal possa ir para a frente, ter mais emprego, ter melhor qualidade de vida, ter mais valor gerado na sua economia e contribuir muito mais para um mundo sustentável”.

Com a conversa a chegar ao fim, fica a certeza de que o trabalho ainda é extenso e de que os braços nunca poderão ser baixados. Afinal, na equação da sustentabilidade, é a soma de todas as partes que pode, efetivamente, fazer a diferença.