Depois de 24 horas de combates no enclave de Nagorno-Karabakh, as forças da Arménia concordaram com os termos de um cessar-fogo com o Azerbaijão proposto pelas forças de paz russas. A cessação imediata das hostilidades tem efeito a partir das 13h00 (10h00 em Lisboa) desta quarta-feira.

Na terça-feira, o Azerbaijão lançou uma operação militar na região de Nagorno-Karabakh que afirmava levar “até ao fim”. A administração presidencial de Ilham Aliyev garantiu que as operações “antiterroristas” só iriam parar caso as forças arménias na região se rendessem e entregassem as armas, avançou a Al-Jazeera. Os ataques do exército azeri já terão provocado 25 mortos (entre os quais dois civis) e 138 feridos, entre os quais mulheres e crianças, segundo o responsável pelos direitos humanos da região.

Apesar de a administração presidencial azeri ter garantido que estava disponível para conversações com os representantes arménios que controlam o enclave, o Azerbaijão sublinhava que, “para as medidas antiterroristas pararem, as formações arménias ilegais devem elevar a bandeira branca, todas as armas devem ser entregues e o regime ilegal deve ser dissolvido”. Caso contrário, avisava Baku, “as medidas antiterroristas vão ser levadas até ao fim”.

O Azerbaijão exige a retirada “incondicional e total” da Arménia de Nagorno-Karabakh e a dissolução do “chamado regime separatista” para alcançar a paz na região azeri.

O enclave de Nagorno-Karabakh faz parte do Azerbaijão mas é habitado cerca de 120 mil arménios e disputado há décadas por arménios e azeris. Na madrugada de terça-feira, uma explosão de minas nesta região provocou a morte a quatro polícias azeris e a dois civis. As vítimas morreram quando os veículos em que viajavam foram atingidos por minas numa estrada entre Shusha e Fizuli — os dois civis eram funcionários da Agência de Estradas do Azerbaijão.

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Horas depois do incidente, o Azerbaijão decidiu intervir militarmente, culpando os separatistas arménios pelas mortes. “Começaram as operações antiterroristas na região”, disse o Ministério da Defesa do Azerbaijão num comunicado, citado pela agência francesa AFP.

Azerbaijão diz estar a usar “armas de alta precisão”. Duas pessoas morreram e oito crianças ficaram feridas

O Ministério referiu que as posições das forças arménias estavam “a ser desativadas com armas de alta precisão na linha de frente e em profundidade”. Um jornalista da AFP na região disse ter ouvido detonações em Stepanakert, a capital e principal cidade do enclave situado no sul do Cáucaso.

Stepanakert e outras cidades e vilas estão sob fogo intenso, assegurou o governo pró-arménio do enclave, descrevendo as ações do Azerbaijão como o início de uma “ofensiva militar em larga escala”. Os ataques do exército azeri já terão provocado 25 mortos e 138 feridos (29 civis, entre os quais mulheres e crianças), segundo o responsável pelos direitos humanos da região, Gegham Stepanyan, citado pela Reuters.

O anúncio da operação azeri surge três anos após o início da anterior guerra de Nagorno-Karabakh, em setembro de 2020, que as forças do Azerbaijão venceram ao fim de seis semanas.

Entretanto, o primeiro-ministro arménio, Nikol Pashinyan veio garantir que o país não vai lançar operações militares no enclave, descartando a hipótese de um conflito direto com o país vizinho. “A Arménia não participa em operações militares, e não tem militares em Nagorno-Karabakh”, disse Pashinyan, citado pela agência russa Tass, acrescentando que o país “não vai realizar ações precipitadas”.

Perante esta posição do governo arménio, centenas de pessoas começaram a concentrar-se no centro de Yerevan, em protesto contra a decisão do governo de não intervir em Nagorno-Karabakh. Os manifestantes gritam “Nikol é um traidor” e “Artsakh”, numa referência à não reconhecida República de Artsakh, proclamada pelos separatistas arménios em 1991, aquando da dissolução da União Soviética. A independência da região nunca foi reconhecida pelo Azerbaijão mas é apoiada pela Arménia.

Os manifestantes conseguiram mesmo invadir o edifício do governo arménio, depois de alguma tensão com as forças policiais, noticia a agência RIA. Os confrontos continuam. Os protestos tinham sido convocados pelos partidos da oposição. A oposição arménia fez várias tentativas nos últimos três anos para afastar Pashinyan do poder, acusando-o de ser responsável pela derrota militar da Arménia na guerra do outono de 2020 em Nagorno-Karabakh.

Por outro lado, dezenas de manifestantes arménios concentraram-se hoje em frente à embaixada russa em Yerevan, na terça-feira, para denunciar o fracasso da Rússia em impedir a ofensiva armada do Azerbaijão em Nagorno-Karabakh. A Rússia tem cerca de dois mil soldados na zona sul do enclave desde 2020, quando Moscovo mediou o acordo de cessar-fogo que pôs fim às hostilidades nesse ano.

A Rússia, que apoia a Arménia, apelou já à contenção em Nagorno-Karabakh e disse que foi informada do início da operação “alguns minutos” antes, depois de Baku ter anunciado que avisou as forças russas. “A parte russa apela urgentemente ao fim do derramamento de sangue (…) e ao regresso a uma solução pacífica”, disse a porta-voz da diplomacia russa, Maria Zakharova, aos jornalistas em Moscovo.

Entretanto, a Reuters avança que o secretário de Estado norte-americano Antony Blinken vai envolver-se nos esforços diplomáticos entre o Azerbaijão e a Arménia, dentro de 24 horas, segundo informação dada por fonte do Departamento de Estado.

Atualizada as 10h55 com o acordo do cessar-fogo