A qualificação para a fase de grupos da Liga dos Campeões Asiática teve contornos dramáticos, com um 2-1 de desvantagem a passar a vitória por 4-2 entre os 88′ e os 90+7′, mas o Al Nassr de Cristiano Ronaldo e companhia assegurou mesmo presença numa parte da competição onde todos os cubes gostariam de cruzar com a formação saudita. Essa “sorte” tocou ao Istiklol (Tajiquistão), ao Al-Duhail (Qatar) e ao Persepolis (Irão). E se em Doha já se começam a organizar os preparativos entre a comunidade portuguesa para receber o capitão da Seleção no início de novembro, em Teerão viveu-se uma autêntica loucura com o avançado.

Teerão. Milhares em euforia por Cristiano Ronaldo invadem hotel onde está hospedado o Al-Nassr

Largas centenas de pessoas foram esperar os autocarros que transportavam a comitiva da equipa saudita na chegada ao Irão e correram atrás dos mesmos em muitos casos (sobretudo entre os fãs mais novos) a fazer aquele gesto da celebração dos golos do número 7 antes de invadirem a zona circundante ao hotel onde os jogadores comandados por Luís Castro iriam pernoitar. A euforia com a presença do português levou mesmo a que o treino de habituação ao relvado fosse cancelado por questões de segurança, sendo que o próprio CR7 teve uma atitude que aproximou ainda mais o público iraniano da dimensão global que tem.

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Também houve algumas críticas (em surdina) na sociedade, nomeadamente o facto de o governo aceder ao pedido do presidente do Persepolis para que todos os elementos do Al Nassr tivessem cartões SIM de telefone sem limite de acesso à internet, algo que ficou ainda mais condicionado do que já era na sequência de todas as manifestações contra o regime que se multiplicaram após a morte de Masha Amini (e que levaram a muito mais mortes e detenções em confrontos com as forças de autoridade). No entanto, alheio a essa parte mais “política”, Ronaldo foi avisado por elementos do staff do Al Nassr de uma entrevista de uma criança à TV onde dizia a chorar que o pai alugara um quarto naquele hotel para conhecer o avançado e foi ter com o fã, oferecendo mesmo uma camisola autografada entre algumas fotografias e muitos agradecimentos.

Os anos passam mas a dimensão do avançado mantém-se a uma escala mundial. E era neste contexto, com a nuance de jogar num estádio com capacidade para quase 100.000 espectadores que não teria público pelo castigo aplicado ao Persepolis por uma publicação nas redes sociais feita em 2021, que Ronaldo se focava naquela que era mais uma estreia na longa carreira, neste caso na fase de grupos da Liga dos Campeões asiática onde o Al Hilal de Jorge Jesus, Neymar, Mitrovic, Rúben Neves e companhia provou das dificuldades que podem aparecer de onde menos se espera com um empate caseiro frente ao Navbahor, do Usbequistão, no décimo minuto de descontos (o Al Ittihad de Nuno Espírito Santo ganhou 3-0 ao AGMK, do Usbequistão).

Numa semana marcada pelo discurso de Marcelo Rebelo de Sousa aos emigrantes portugueses no Canadá com a famosa frase “Somos fado, somos bacalhau, somos caldo verde, somos cozido à portuguesa, somos o vira, o corridinho, o fandango, somos Cristiano Ronaldo”, também o Irão mostrou que é Ronaldo numa demonstração que não passou ao lado do jogador. “Ótima vitória que conseguimos hoje! Um agradecimento especial a todos os fãs e iranianos que fizeram esta visita tão especial para mim. Foi uma receção calorosa incrível”, escreveu o avançado após a partida que terminou com o triunfo do Al Nassr por 2-0 frente ao Persepolis mas que conseguiu colocar o número 7 acima de uma equipa e de uma competição.

Depois de uma primeira parte sem golos, uma grande oportunidade desperdiçada por Ronaldo num desvio de cabeça sozinho na área e um remate de Otávio para a baliza após assistência do número 7 que acabou anulado por fora de jogo, o Al Nassr conseguiria apenas materializar a sua superioridade no segundo tempo frente ao Persepolis que tinha o antigo guarda-redes do Boavista Alireza Beiranvand na baliza, abrindo o marcador num desvio para a própria baliza de Esmaeilifar após remate de Ghareeb (jogador saudita que mais evoluiu desde que a Liga passou a receber as estrelas do futebol europeu) aos 62′ e fixando o resultado final pelo lateral esquerdo Mohammed Qassem num grande remate já na área (72′). Ronaldo, sem marcar mas a sofrer a entrada que deixou o Persepolis reduzido a dez aos 52′ por expulsão de Milad Sarlak, acabou por ser substituído nos descontos… antes de ser o mais requisitado pelos jogadores iranianos.