A maior parte do território europeu — onde vive 98% da população — apresentou níveis de poluição com partículas acima da recomendação da Organização Mundial de Saúde (OMS), de acordo com uma investigação do jornal The Guardian. Os níveis de poluição por partículas são mais altos nos países de leste e no norte da Itália, ultrapassando quatro a seis vezes a recomendação.

Isto é uma crise de saúde pública grave. O que vemos claramente é que quase toda a gente na Europa respira ar prejudicial à saúde”, disse Roel Vermeulen, professor de epidemiologia ambiental na Universidade de Utrecht e coordenador da equipa que compilou os dados.

O jornal britânico criou um mapa interativo onde se pode explorar cada país e região ao pormenor. Pode mesmo procurar a concentração de partículas medida na sua freguesia. Portugal tem muito poucas localidades abaixo da recomendação da OMS, ao contrário dos países do norte da Europa.

A recomendação da OMS é de que a concentração média anual de partículas finas, inferiores a 2,5 micrómetros, não exceda os cinco microgramas por metro cúbico (mg/m3). Praticamente todo o território português continental está acima desse limite, com as áreas metropolitanas de Lisboa e do Porto a chegarem aos 10 a 12 mg/m3 (duas vezes a recomendação). A faixa litoral da Figueira da Foz e Coimbra, passando por Aveiro, até ao Minho (e continuando até à costa norte da Galiza), é a que apresenta níveis mais altos de poluição. Não foram apresentados dados para as ilhas.

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A Europa apresenta um aumento dos níveis de poluição por partículas finas de oeste para este e de norte para sul. São, regra geral, os países de menores rendimentos que registam concentrações mais altas destes poluentes e, dentro da generalidade dos países, são as comunidades mais desfavorecidas que vivem nos ambientes de pior qualidade ambiental, o que representa uma injustiça ambiental, disse Barbara Hoffmann, professora de epidemiologia ambiental na Universidade de Düsseldorf, ao jornal The Guardian

A limpeza do ar, especificamente na Europa de Leste, é urgentemente necessária para proporcionar oportunidades iguais de se ter uma vida saudável em toda a Europa”, disse Barbara Hoffmann.

As partículas com menos de 2,5 micrómetros são, naturalmente, invisíveis a olho nu, mas nem por isso menos prejudiciais. Têm a capacidade de penetrar profundamente nos pulmões — e não provocam os acessos de tosse que nos ajudam a expulsar as partículas maiores — e são o principal fator ambiental a desencadear a morte precoce. Morrem 400 mil pessoas por ano na Europa devido à exposição a este tipo de partículas, mas metade destas mortes podiam ser prevenidas se a recomendação da OMS fosse respeitada, dizem os especialistas ouvidos pelo The Guardian.

O Parlamento Europeu vai adotar, depois de uma votação na semana passada, o limite recomendado pela OMS (5 mg/m3) e descartar os atuais 25 mg/m3. No entanto, a legislação só entrará em vigor a partir de 2035, em vez de 2030 como inicialmente proposto. A queima de combustíveis fósseis e outros (para aquecimento, produção de energia ou nos veículos) e os incêndios florestais são as principais fontes destas partículas finas, que podem passar dos pulmões para a corrente sanguínea e causar problemas nos pulmões e em outros órgãos, como o coração, desencadear diabetes e cancro, prejudicar a função cerebral e provocar doença mental ou ser responsável por partos prematuros.

Qualidade do ar nos Estados Unidos diminuiu por causa dos incêndios florestais

Os dados foram compilados por investigadores da Universidade de Utrecht, nos Países Baixos, e do Instituto Suíço de Saúde Pública e Tropical, como parte do projeto europeu Expanse sobre o impacto da exposição a fatores ambientais na saúde humana. Os dados compilados e apresentados referem-se às médias anuais medidas entre 2000 e 2019, mas os investigadores acreditam que os dados atuais não serão muito diferentes.