Eram esperadas 10 mil, o Partido Popular (PP) começou por dizer que eram 45 mil, depois subiu para 60, e o governo veio informar que estiveram apenas 40 mil pessoas no centro de Madrid a manifestar-se contra a possível amnistia aos dirigentes políticos condenados pelo referendo de 2017 na Catalunha. Mas a quantidade de pessoas que protestaram este domingo contra a decisão do Partido Socialista Operário Espanhol (PSOE), liderado por Pedro Sánchez, pouco importa. O que mais preocupa o partido são os eleitores que votariam na oposição caso houvesse eleições antecipadas.
Uma sondagem divulgada pelo jornal El Español revelou que, em caso de novas eleições, o resultado seria muito diferente das de julho deste ano, que deram vitória ao PP, liderado por Alberto Núñez Feijóo, mas sem capacidade de formar maioria.
Neste novo cenário, o PP continua a ser o vencedor, mas com mais quatro pontos percentuais (37%), elegendo assim 149 deputados, mais 12 do que nas eleições oficiais. Já o PSOE teria menos votos, passando para 30,9% e elegendo menos dois deputados — passando a ter apenas 119 —, assim como o partido Sumar, que teria menos cinco do que nas eleições em julho, contando com 26.
Isto significa que, se este cenário acontecesse realmente, bastaria ao PP coligar-se com o Vox e juntos teriam 177 lugares na Assembleia, apesar de o partido de extrema-direita também ver cair o número de deputados eleitos para 28 (menos cinco do que em julho).
Numa aparente contradição com os resultados atingidos pelo PP, que se manifestou contra a independência da Catalunha, o partido Juntos pela Catalunha (Junts), de CarlesPuigdemont, que conduziu o referendo em 2017, também sairia a ganhar, com mais um deputado — fortalecendo assim a estratégia de Puigdemont, que se encontra exilado em Bruxelas. Pelo contrário, a Esquerda Republicana da Catalunha (ERC) perderia um deputado.
Esta sondagem revelou exatamente o oposto da primeira que surgiu após as eleições legislativas, publicada pelo Centro de Investigaciones Sociológicas (CIS), um instituto público, na passada quinta-feira. Esta mostrou que, se fosse hoje, o PSOE venceria as eleições, com 1,8 pontos percentuais de vantagem sobre o PP.
De acordo com o instituto, citado pelo jornal El País, o partido liderado por Sánchez conseguiria 33,5% de eleitores (+2,6), comparando com os 31,7% do partido de Feijóo, que descia quase 6 pontos percentuais na tabela. Já o Sumar conseguiria 11,9% (+1,1) e o Vox 11,1% (-0,5).
A manifestação que encheu as ruas de Madrid no domingo aconteceu apenas dois dias antes da votação da a investidura do próximo governo de Espanha. No discurso com que encerrou a onda de protestos, Feijóo acusou Sánchez de “irresponsabilidade” e de “absoluta falta de integridade moral e política” por pretender anular um governo chefiado pelos conservadores, apesar de este não ter o número de deputados necessário para poder ser eleito presidente do executivo.
“Mesmo que isso me custe a presidência do Governo, vou defender que Espanha é uma nação de cidadãos livres e iguais”, disse, citado pelo Público, acrescentando ser “rotundamente falso que o independentismo tenha de ser decisivo para a governabilidade”.
“É mais uma falácia socialista. Nenhum espanhol votou (…) por uma mudança de regime constitucional. Fomos 94% a votar para manter a Constituição”, exclamou, apoiado pelos ex-presidentes do governo Mariano Rajoy e José María Aznar, e da atual presidente da Comunidade de Madrid, Isabel Díaz Ayuso.
Durante o discurso de Feijóo ouviram-se diversos gritos que ecoavam a frase “Puigdemont para a prisão”, referindo-se ao ex-presidente da Catalunha, que foi destituído em 2017, após ter declarado a independência da região, algo que vai contra a constituição nacional.
“Numa Espanha de cidadãos livres e iguais não se pode dar mais valor ao voto de uns sobre o voto de outros. A lei e a Justiça têm de ser iguais para todos, começando pelos políticos. Porque se os políticos não são iguais perante a lei, isso é uma cacicada inqualificável num Estado de direito”, alertou.
Pedro Sánchez encontrava-se num comício em Barcelona, com cerca de 15 mil pessoas, quando a “celebração”, como fez questão de descrever, do PP estava a acontecer na capital. “Estão a manifestar-se contra um governo socialista. Mas, lamento, haverá um”, gozou.
“Vamos ter uma investidura falhada, de um candidato falhado”, rematou.
Apesar das declarações do Presidente do governo em funções, o PP considera que a manifestação de domingo foi um “sucesso”. “Foi uma demonstração de que a Espanha está acordada e que não se rende aos rebeldes”, disse a secretária geral do partido, Cuca Gamarra, citado pelo jornal El País.