O dérbi de Madrid foi quente do início ao fim. O Real, favorito a vencer em casa do Atlético no jogo da 6.ª jornada da La Liga, acabou por sair do relvado a ouvir olés dos adeptos rojiblancos e com uma derrota por 3-1. O minutos finais do encontro tiveram a emoção especialmente latente com os jogadores a realizarem algumas entradas duras uns sobre os outros, o que acabou com a lesão Ángel Correa após uma entrada dura de Jude Bellingham.
Tudo isto começou a ser cozinhado antes da bola rolar. Nos dias de jogo, o exterior do Estádio Metropolitano cedo se enche de pessoas. A (enorme) loja do clube e letras a dizer Atleti colocadas propositadamente junto ao estádio para servirem de fundo às fotografias dos adeptos costumam ser as maiores atrações. Os bocadillos de calamares (uma espécie de sandes com aros fritos recheados com lulas) a 10€ cada um oferecem concorrência. As opções para fazer a festa são várias, mas, no dia do dérbi, um grupo de adeptos do Atlético escolheu outro caminho.
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Uma criança de oito anos circulava no amplo perímetro do estádio com a tia. A menina trazia vestida uma camisola do Real Madrid com o nome de Vinícius, jogador do Real Madrid que não atuou neste encontro devido a lesão. “Estávamos a passear no Metropolitano”, explicou a tia à Cadena SER. “Estava a haver uma reunião da Frente Atlético [grupo ultra da equipa rojiblanca]. Sou do Atlético desde que nasci. Começaram a cantar ‘vinkings [alcunha que se refere ao Real Madrid] não’, ‘macaco’, ‘preta de m****’. No início, não sabíamos que era por nossa causa. Até olhei para trás a pensar que estivessem a chamar vinkings a algum grupo de rapazes que estivesse a passar atrás. Nunca imaginei que fosse por causa da menina. Até que um rapaz me tocou no braço. ‘Sai daqui ou vamos matar a miúda de m****'”.
Vinícius tem-se tornado num símbolo da luta anti-racista em Espanha. O jogador brasileiro já foi insultado várias vezes no decorrer de jogos, sendo que uma das primeiras ocasiões em que isso aconteceu, em setembro de 2022, o episódio verificou-se no Metropolitano. Em janeiro do ano seguinte, adeptos do Atl. Madrid ‘enforcaram’ um boneco de Vinícius numa ponte da capital espanhola junto da mensagem “Madrid odeia o Real”. Mais recentemente, num jogo contra o Valência, no Mestalla, o extremo voltou a ser alvo de insultos que levaram quatro pessoas a serem constituídas como arguidas devido a crimes de ódio.
“Estava uma multidão muito grande a apontar para a menina, a insultá-la, a cantar para ela”, continuou Silvia, a mulher que estava com a criança no momento em que tudo aconteceu. “Ela teve um ataque de ansiedade terrível. Tirei-a de lá o mais rápido possível enquanto ela cobria o símbolo e a camisola. Na primeira noite ela acordou várias vezes a pensar que eles estavam a vir atrás dela. Ela teve muitos pesadelos. Ela não sabe por que é que tudo aconteceu. Ela disse-me para não a levar a um estádio de novo”. A mãe e a tia da criança apresentaram queixa junto da polícia espanhola.