O ex-Presidente moçambicano Joaquim Chissano disse esta quinta-feira que a reflexão sobre a viabilidade do sistema socialista começou com Samora Machel, apontando a transição para um sistema democrático como um dos principais desafios da sua governação.

“Nós estávamos a construir o socialismo e era preciso saber como posicionar o socialismo naquele contexto (…) Este foi um debate longo e que começou com o próprio Presidente Samora Machel”, declarou Joaquim Chissano, durante um “Masterclass Seasons” sobre liderança, realizado esta quinta-feira em Maputo.

Samora Machel, o primeiro Presidente de Moçambique, morreu em 19 de outubro de 1986 num acidente aéreo em Mbuzini, na África do Sul, e, se estivesse vivo, completaria, na sexta-feira, 90 anos.

Segundo Joaquim Chissano, sucessor de Machel na Presidência moçambicana, um dos principais desafios que enfrentou na sua governação foi dar continuidade a este “desvio”.

“O Presidente Samora era um líder pragmático e que sabia dirigir o país tendo em conta as situações internas e externas. Ele teria certamente tomado várias opções e o desafio era saber qual seria a opção (…) o que podia fazer era continuar aquele desvio que o Presidente Samora Machel iria fazer por força das circunstâncias. Não era uma decisão fácil”, declarou Joaquim Chissano.

PUB • CONTINUE A LER A SEGUIR

Chissano acrescentou que a necessidade de uma reflexão sobre o sistema socialista também era uma ideia do antigo Presidente russo Mikhail Gorbachev, que mandou uma mensagem para Samora Machel a propor um debate que juntasse partidos socialistas de todo mundo para analisar os desafios do modelo na década de 1980.

O antigo chefe de Estado lembra que a transição para um modelo democrático exigiu uma análise ampla, que incluiu opiniões internas e externas, numa altura em que o debate sobre a unidade nacional ganhava forma.

“Era preciso ir às bases e até ao cidadão que vive nos pontos mais recônditos”, declarou o antigo chefe de Estado, que admitiu, entretanto, que a necessidade de pôr fim à guerra, que opunha o Governo e a Resistência Nacional Moçambicana (Renamo), também acelerou a reflexão para a Constituição multipartidária, de 1990, abrindo espaço para as primeiras eleições, em 1994.

A guerra entre o Governo moçambicano e a Renamo durou 16 anos, tendo terminado com a assinatura do Acordo Geral de Paz, em Roma, em 1992, entre Chissano e Afonso Dhlakama, líder histórico da Renamo, que morreu em maio de 2018.