A presidente da Mesa do Congresso, Francina Armengol, comunicou, esta terça-feira, a decisão do Rei Felipe VI, indicando que o monarca decidiu propor a investidura do segundo candidato mais votado nas eleições gerais espanholas, o socialista Pedro Sánchez. A responsável não adiantou, no entanto, quando é que seria a data do próximo debate de uma possível futura formação de governo.

Minutos após a decisão do monarca, o secretário-geral do PSOE aceitou a proposta do Rei e referiu que é com “entusiasmo” que quer “avançar para um governo progressista”. “É uma enorme responsabilidade. Sinto-me honrado e responsável perante o conjunto da sociedade espanhola”, afirmou Pedro Sánchez, acrescentando que a alternativa de direita “falhou” no seu objetivo de formar governo.

O líder socialista adiantou que vai começar esta quarta-feira uma ronda de conversa com todos os partidos políticos no Congresso dos Deputados, à exceção do VOX. O primeiro partido a reunir-se com Pedro Sánchez será o Sumar, liderado pela antiga ministra do Trabalho e vice-presidente do governo espanhol, Yolanda Díaz. “É com esta formação que se aspira reeditar um novo governo de coligação progressista.”

“Vamos trabalhar para o progresso”, afirmou Pedro Sánchez, indicando que não procura apenas ser investido; também quer “estabilidade” para enfrentar uma legislatura de quatro anos tendo como base um “projeto de país claro, ambicioso e comprometido com as classes médias”, em que se dá relevo à prossecução de “avanços sociais e civis”.

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Adicionalmente, nunca referindo a palavra amnistia, Pedro Sánchez lembrou que, quando chegou ao poder, Espanha vivia “a pior crise institucional e territorial” de sempre. Quatro anos volvidos, o socialista frisou que houve “passos firmes” rumo à “concordância” na sociedade espanhola. “Hoje as tensões territoriais retrocederam”, saudou o líder do PSOE, assegurando: “Vamos continuar com essa rota que tem como norte a convivência e a concórdia”.

Não obstante, Pedro Sánchez garantiu que qualquer acordo futuro terá de ser “dentro das marcas da Constituição espanhola”, parecendo recusar, ainda que nunca o diga explicitamente, um referendo. O socialista vincou que manterá “conversações discretas e acordos transparentes” com os partidos independentistas, com um “fim em comum”.

“É a hora do compromisso com o país. É a hora da generosidade para que possamos encontrar entre todos uma maioria parlamentar não para uma investidura, mas para uma legislatura. É a hora da liderança. Temos de a exercer todos”, disse o secretário-geral do PSOE relativamente a uma amnistia, acrescentando que não quer viver numa “sociedade fragmentada” — mas antes numa “sociedade de convivência”.

Para formar governo, Pedro Sánchez terá de contar com os apoios dos partidos independentistas catalães, galegos e bascos, assim como do Sumar. “Não vai ser uma investidura postiça, vai ser uma investidura real”, reforçou o secretário-geral dos socialistas, se bem que tenha ressalvado que as “negociações serão complicadas” — mas que quer formar governo “o mais cedo possível”. Se o PSOE não conseguir reunir os apoios necessários numa futura investidura, Espanha terá de ir novamente a votos, numas eleições marcadas para 14 de janeiro de 2024.

Feijóo tem “respeito absoluto” por decisão do Rei

Por sua vez, logo após a reunião com o Rei Felipe VI, o candidato do Partido Popular (PP), Alberto Núñez Feijóo, referiu que mantém o “respeito absoluto” por qualquer decisão que tome o monarca. “Respeitaremos a proposta do Rei, apesar de [a oposição] não ter respeitado a minha”, lamentou o líder popular.

Mesmo assim, Alberto Núñez Feijóo não deixou de notar que Pedro Sánchez “conta com menos apoios do que há um mês”, aludindo às palavras da líder do Sumar, Yolanda Díaz, que indicou que um acordo com o PSOE “está longe”. “É uma humilhação que nenhum chefe do governo espanhol devia suportar. Nem os antigos sócios de governo o apoiam”, disparou o presidente do Partido Popular.

Além disso, Alberto Núñez Feijóo apontou para três “contrariedades” da possível investidura do candidato do PSOE. “O senhor Sánchez criticou a minha candidatura quando tinha 172 deputados a favor. Hoje, tudo parece indicar que [a coligação progressista] não chega a 130. É uma incoerência incontestável”, expôs. Para além disso, o líder do PP enfatizou que os futuros apoios dos socialistas não “aceitam a legitimidade da monarquia constitucional de Espanha, nem a Constituição”, acrescentando que os acordos que alegadamente estarão a ser feitos permanecem “opacos”.

“A candidatura de Sánchez à investidura parte de uma derrota eleitoral clara”, atirou Alberto Núñez Feijóo, criticando novamente as “negociações opacas” que os socialistas mantêm com uma “amálgama de partidos populistas de esquerda e de extrema-esquerda e partidos independetistas cujo objetivo é a liquidação do regime constitucional”.

Defendendo que a direita tem um “projeto de governo e de país”, Alberto Núñez Feijóo lamentou que uma “maioria negativa” possa governar Espanha e espera que as próximas semanas tragam ainda mais “negociações obscuras, uma teatralização da política e mentiras”. Neste cenário, o líder partidário garantiu que o PP vai encetar uma “enorme defesa das instituições, da constitução espanhola e da igualdade dos espanhóis perante a lei”.