O projeto “É uma casa”, inspirado no modelo Housing First, que procura garantir casa para pessoas sem-abrigo em Lisboa, vai apresentar os resultados de dez anos de experiência num congresso que reunirá dezenas de especialistas em novembro.

Organizado pelo projeto Lisboa Housing First, gerido pela associação Crescer, “É um congresso” vai juntar 50 oradores de vários países nos dias 08 e 09 de novembro, na Nova School of Business and Economics, em Carcavelos, no concelho de Cascais.

O objetivo do congresso é mostrar os resultados de uma década de trabalho, reunindo especialistas e pessoas que estiveram em situação de sem-abrigo para troca de experiências.

O princípio do modelo Housing First é dar uma casa, antes de mais, a pessoas que estão em situação de sem-abrigo.

“A primeira coisa de que as pessoas precisam é de uma casa e depois então é que se trabalha tudo o resto”, explicou Américo Nave, diretor executivo da Crescer, em declarações à Lusa.

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“Não há qualquer exigência para que a pessoa pare de consumir ou adira a tratamentos para ter uma casa”, salientou, considerando que a metodologia, de “bastante sucesso”, é o que distingue esta abordagem da resposta pública existente.

“Temos de admitir que falhámos nos últimos 40 anos nesta área. […] Investimos milhões todos os anos, todos os meses, e o número de pessoas em situação de sem-abrigo continua a aumentar”, assinalou.

“As respostas não estão adequadas às necessidades destas pessoas”, considerou, comentando que tem havido uma abordagem a este tema assente na “boa vontade” e trabalhada “de coração”, quando devia ser “técnica”, com estudos e avaliação de impacto, que mostram os caminhos a seguir.

“Até agora todas as pessoas que encontrámos aceitaram sair da situação de sem-abrigo e ir para uma casa e 90% das pessoas que estão nas habitações não voltaram à situação de sem-abrigo”, detalhou Américo Nave.

A Crescer tem neste momento “à volta de 130 casas”, onde as pessoas podem estar sozinhas ou como casal, com ou sem animais de estimação.

“Se tivéssemos colocado a tónica na habitação, em relação a estas pessoas, hoje não estaríamos a viver o problema de habitação que toda a sociedade está viver”, salientou Américo Nave, recordando “o estigma enorme” sobre as pessoas sem-abrigo.

“O problema delas é porque são preguiçosas, é porque não querem sair da rua, é porque têm doença mental, é porque têm comportamentos aditivos”, elencou.

O Housing First foi criado em 1992, nos Estados Unidos, como uma resposta combinada à situação de sem-abrigo e à doença mental.

O fundador do modelo, o psicólogo Sam Tsemberis, será orador no congresso da Crescer, bem como Michael Tompkins, que gere um projeto Housing First na Nova Zelândia, ou Lígia Teixeira, diretora executiva do Centre for Homelessness Impact, no Reino Unido.

Em Portugal, a Housing First arrancou em 2009, com outra organização, mas depois deixou de ter apoio da Segurança Social.

A Crescer voltou ‘à carga’ em 2013, com um projeto-piloto de sete casas na zona da Mouraria, que depois foi ganhando dimensão e que conta com o apoio da Câmara Municipal de Lisboa.

Hoje, o Housing First é política nacional e muitas outras organizações além da Crescer têm projetos por todo o país.