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"Fúria": a ficção de um verdadeiro medo norueguês (e não só)

Este artigo tem mais de 6 meses

Com a memória do massacre em Utoya bem presente, a primeira temporada desta série (na FilmIn) imagina a propagação de ideias extremistas pela Europa e o plano de um ataque terrorista em larga escala.

A violência de "Fúria" é marcante, mas mais marcante é a forma como vai de umas pinturas com frases de ódio numa parede, para um homicídio e, depois, para um ataque em grande escala
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A violência de "Fúria" é marcante, mas mais marcante é a forma como vai de umas pinturas com frases de ódio numa parede, para um homicídio e, depois, para um ataque em grande escala

A violência de "Fúria" é marcante, mas mais marcante é a forma como vai de umas pinturas com frases de ódio numa parede, para um homicídio e, depois, para um ataque em grande escala

Os acontecimentos na ilha de Utoya, a 22 de julho de 2011, surgem muitas vezes descritos como um “11 de setembro europeu“, mas também são recambiados para uma parte distante da memória. Haverá razões para essa espécie de esquecimento forçado: aconteceu na Europa, mas numa Europa distante; o terror foi protagonizado por cidadãos noruegueses, não foi um ataque externo; e forma como a cultura norueguesa lidou com a situação está relacionada com os hábitos sociais do país, feitos de silêncio, contenção, reserva máxima. Morreram 69 pessoas em Utoya, grande parte delas crianças e adolescentes, depois de Anders Breivik ter disparado para matar na ilha onde acontecia um acampamento de uma associação política juvenil. Quase em simultâneo, houve um ataque bombista em Oslo (perto de um edifício governamental, oito pessoas morreram, mais teriam morrido se aquele não fosse um período de férias). Os ataques foram planeados e executados por fanáticos de extrema-direita com ideais radicais.

O evento pode não estar tão presente na memória coletiva mas tem sido relembrado no audiovisual. Em 2018 dois filmes saíram quase em simultâneo e com títulos muito parecidos: a versão Netflix por Paul Greengrass, chamada 22 de julho (inspirado no livro One Of Us, de Åsne Seierstad); e Utoya, 22 de julho, do norueguês Erik Poppe (que fez um melhor trabalho, ao expor e dramatizar a tragédia humana daquele dia). Isto além de documentários, como Rekonstruktion Utøya (também de 2018, de Carl Javér). Fúria (2021), cujos oito episódios (da primeira temporada, entretanto este ano já foi estreada uma segunda na Noruega) estão agora disponíveis na plataforma Filmin, é uma série que lida com a ideia desse trauma no abstrato, reimaginando uma Europa nas mãos de uma insurgência de extrema-direita.

[o trailer de “Fúria”:]

Aquele 22 de julho de 2011 está presente em vários momentos. Tal como os filmes de Poppe e o documentário de Javér, Fúria sente-se como uma forma de, através da ficção, perceber um evento e tentar reviver a ideia de trauma para saber lidar com ele e evitá-lo. Ou seja, não se trata de uma glorificação patriótica, nem de uma tentativa de relativizar os problemas destas ameaças. Aliás, se há coisa que Fúria faz bem — apesar de toda a bagagem de thriller internacional — é a sensação de mostrar o quão próxima esta realidade pode estar, o quão presente o ódio está na sociedade ocidental contemporânea, neste caso a europeia.

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Utoya é então uma abstração em Fúria, mas pensa-se imediatamente na ilha quando se vê um dos protagonistas a conduzir, com a filha no carro, em direção a um sítio muito bonito para o norte. Nas entrelinhas percebe-se que estão a mudar, que se estão a esconder e há uma breve sugestão de que estarão a ser perseguidos. Asgeir (Pål Sverre Hagen) é um polícia que se refugia numa pacata cidade norueguesa para escapar à máfia russa, que matou a sua mulher. Em pouco tempo a cidade essa pacatez revela-se fugaz, o ataque a um centro de refugiados traz ao de cima uma cultura de ódio de extrema-direita que existe entre alguns membros da comunidade.

A pequena comunidade na extremidade da Europa é metáfora para a volatilidade da sensação de segurança que a contemporaneidade vive e que cabe na perfeição num thriller de fórmulas clássicas

Pouco depois, há um homicídio. Na investigação, Asgeir conhece Ragna (Ine Marie Wilmann), uma propagandista de extrema-direita com uns quantos segredos na manga. Partindo, daqui Fúria expande-se com relativa facilidade. Deixa de ser um dramazinho policial numa pequena comunidade — ao princípio tem um travo disso, talvez pela quantidade de policiais nórdicos que vimos na última década — para vestir o equipamento de thriller internacional. Do idílico norte da Noruega passa por Oslo até chegar a Berlim. Asgeir e Ragna descobrem um complexo plano de radicais para afetar eleições na Alemanha que envolve um ataque terrorista em grande escala.

A violência de Fúria é marcante, mas mais marcante é a forma como vai de umas pinturas com frases de ódio numa parede, para um homicídio e, depois, para um ataque em grande escala. É um salto alucinante que estranhamente resulta, que desloca a audiência de um certo estado de espírito para outro. A rápida cavalgada para thriller obedece a uma série de regras básicas deste género de entretenimento, mas fá-lo sem perder a consciência de que há aqui uma certa contemporaneidade — até um certo medo pela contemporaneidade.

Fúria vê-se como ficção de uma cultura a lidar com um trauma. Talvez a Europa — sobretudo — não lembre aquele dia em Utoya como deve ser recordado, mas em vários momentos da primeira temporada desta série está presente o peso e o medo de algo semelhante voltar a acontecer. A pequena comunidade na extremidade da Europa é metáfora para a volatilidade da sensação de segurança que a contemporaneidade vive e que cabe na perfeição num thriller de fórmulas clássicas.

 
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