Pelo menos 10 pessoas ficaram feridas e outras 70 foram detidas esta sexta-feira durante marchas de protesto contra os resultados das sextas eleições autárquicas em Moçambique, anunciou a polícia moçambicana.
Na cidade de Nampula, [norte de Moçambique], houve registo de 10 feridos, sendo nove civis e um membro da Polícia da República de Moçambique [PRM]. Estas vítimas foram prontamente socorridas e estão fora de perigo”, disse Orlando Modumane, porta-voz do Comando-Geral da PRM, durante uma conferência de imprensa, em Maputo.
Segundo a polícia moçambicana, um total de 70 pessoas foram detidas durante os protestos, das quais 60 na cidade de Nampula, quatro em Nacala Porto, ambas no norte de Moçambique, outras quatro em Maputo, zona sul, e duas na cidade de Quelimane, no centro do país.
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Os indiciados foram devidamente processados e as respetivas peças de expediente remetidas ao Ministério Público para os posteriores tramites legais que culminarão com a responsabilização criminal dos respetivos autores morais, que, das provas dos factos no terreno e segundo os relatos dos detidos, são os respetivos cabeças de lista da Renamo nas autarquias já mencionadas”, referiu Orlando Modumane.
A polícia moçambicana fez esta sexta-feira vários disparos de gás lacrimogéneo sobre milhares de pessoas que se manifestavam em Maputo contra os resultados das eleições autárquicas anunciados pela Comissão Nacional de Eleição (CNE).
Sem abrir espaço para questões, o porta-voz do Comando-Geral da PRM avançou que a polícia foi obrigada a “usar a força para repor a ordem pública”, ao registar casos de colocação de barricadas e queima de pneus, vandalização de montras de lojas e arremesso de objetos contundentes nas cidades onde decorreram as manifestações, situações que perturbaram a ordem e condicionaram a circulação de pessoas e bens.
Orlando Modumane reiterou que a corporação “reconhece e respeita” o direito à manifestação, pedindo, entretanto, que os partidos políticos se conformem “escrupulosamente com os ditames da legislação” sobre a matéria.
A PRM alerta que não irá tolerar atos subversivos, com enfoque ao vandalismo, violência e desordem pública generalizadas e, sempre que for necessário e justificável, a polícia tomará todas as medidas coercitivas, sempre alicerçadas nos princípios de legalidade e proporcionalidade”, declarou o porta-voz.
As sextas eleições autárquicas em Moçambique decorreram em 65 municípios do país no dia 11 de outubro, incluindo 12 novas autarquias, que pela primeira vez foram a votos.
A Comissão Nacional de Eleições (CNE) de Moçambique anunciou na quinta-feira a vitória da Frente de Libertação de Moçambique (Frelimo), partido no poder, em 64 das 65 autarquias do país, enquanto o MDM, terceiro maior partido, ganhou apenas na Beira.
Partidos da oposição, sobretudo a Resistência Nacional Moçambicana (Renamo), principal partido da oposição, têm promovido, um pouco por todo o país, marchas de contestação aos resultados das eleições de 11 de outubro, juntando milhares de pessoas que denunciam uma alegada “megafraude” no escrutínio.
Na quarta-feira, os presidentes da Renamo, Ossufo Momade, e do Movimento Democrático de Moçambique (MDM, terceira força política) — que manteve a autarquia da Beira —, Lutero Simango, asseguraram que vão lutar “juntos para poder salvar a democracia”, insistindo que as eleições autárquicas do dia 11 foram o “cúmulo” da fraude eleitoral