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João Neves, um gigante dois em um que vê soluções e esconde problemas (a crónica do Benfica-Sporting)

Este artigo tem mais de 1 ano

Em vantagem e a controlar com menos um desde os 51', Sporting tinha tudo na mão menos o carisma de João Neves, o mais novo do dérbi que foi o catalisador para uma reviravolta nos descontos (2-1).

João Neves marcou o golo do empate no quarto minuto de descontos, abrindo espaço para uma histórica reviravolta aos 90+7' com um golo de Tengstedt
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João Neves marcou o golo do empate no quarto minuto de descontos, abrindo espaço para uma histórica reviravolta aos 90+7' com um golo de Tengstedt

FILIPE AMORIM/OBSERVADOR

João Neves marcou o golo do empate no quarto minuto de descontos, abrindo espaço para uma histórica reviravolta aos 90+7' com um golo de Tengstedt

FILIPE AMORIM/OBSERVADOR

O contexto era diferente, os momentos de ambos os conjuntos depois dos resultados de mais uma semana europeia adensaram essa disparidade, a própria classificação e rendimento médio acentuava as distinções. E as contas eram fáceis de fazer, como Rúben Amorim recordava de forma pragmática na antecâmara do jogo. Tendo três pontos de vantagem na liderança, o Sporting sabia que iria sempre sair da Luz como líder (isolado ou não, logo se veria) e era o próprio técnico que fazia questão de aumentar a “pressão” junto da equipa na perspetiva de evitar qualquer abrandamento numa época sem qualquer derrota no plano nacional. Tendo três pontos de atraso para a liderança, o Benfica sabia que poderia sair como líder ou com um fosso de seis pontos para o primeiro lugar tendo o FC Porto colado na segunda posição mas Roger Schmidt quase queria esvaziar qualquer “pressão” acumulada pelos últimos resultados. O dérbi passava muito por aquilo que os treinados seriam capazes de fazer, em conversas que foram desaguar… ao Marquês de Pombal.

Benfica vence Sporting com golos de João Neves e Tengstedt nos descontos e cola-se aos leões na liderança da Liga

No caso do alemão, a derrota frente à Real Sociedad com a consequente eliminação da Liga dos Campeões, a par de uma exibição na primeira parte que poderia ter acabado com números de derrocada, fez com que pela primeira vez desde que chegou a Portugal ouvisse a pergunta chave “Sente o seu lugar em perigo caso perca o próximo jogo?”. A resposta foi lacónica no País Basco mas transformou-se num rotundo “não” na antecâmara da receção aos leões. “Assumi a responsabilidade porque sou o treinador, sou responsável por tudo. De como treinamos, de como jogamos. Sou responsável se não jogarmos bem e se perdermos. No meu contrato não diz que temos de ganhar todos os títulos até 2026. Às vezes aparecem dificuldades, não pode ser razão para se perder confiança no Benfica e no treinador. Sinto a confiança do clube e o meu objetivo é ficar até 2026 e no Marquês de Pombal dizer adeus ao Benfica. É esse o meu objetivo”, salientou antes do dérbi.

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Depois das experiências ganhas com o 3x4x3 em Arouca e em Chaves, com exibições que globalmente não encheram o olho mas que foram capazes de dar alguma estabilidade à equipa depois da derrota na Luz com a Real Sociedad e do empate com o Casa Pia, a visita ao País Basco trouxe uma derrocada e várias dúvidas em relação a essa opção, entre os erros individuais no plano ofensivo, a colocação de João Neves à direita com a perceção geral de que faz mais falta à equipa ao meio, a entrada falhada de Jurásek ou a falta de ligação entre setores que não se desvaneceu com a alteração do sistema. Mesmo tendo tudo isso em cima da mesa, e com Bah, Kökçü e David Neres entregues ainda ao departamento médico, o alemão não teve dúvidas em tentar fazer uma “prova de vida” do seu plano B, alterando apenas o ‘9’ de Arthur Cabral para Musa. Pelo menos era isso que apontava no plano teórico, sendo que esse plano B trazia uma surpresa e era um A.

Do outro lado, Rúben Amorim, que ainda levantou alguma celeuma sobre uma frase sobre o futuro no final da época que esvaziou na intervenção pública seguinte, mantinha o mesmo registo que tem marcado a atual temporada: pressão em todos os jogos pela vitória, ideia do “tudo ou nada” em 2023/24, a garantia de que a reconstrução daquilo que deve ser o Sporting pelo seu histórico não pode ser travada depois do insucesso da última temporada. “Marquês em 2026? O que eu sei é que se não estiver antes no Marquês também não estarei em 2026. Espero é estar no fim deste ano no Marquês. Isso tenho a certeza: se não estiver antes de 2026, não estarei em 2026″, apontou o técnico a propósito da resposta que Schmidt tinha dado umas horas antes. Se quando agarrou numa equipa muito depauperada de um clube partido em 2020 não existia uma luz ao fundo do túnel, Amorim não abdica agora de fugir à ideia de banalização da não vitória.

Para isso também contribuiu e muito aquilo que foi o regresso do Sporting à melhor versão com o treinador desde que chegou a Alvalade. Os leões ainda mostram alguns erros defensivos que não são normais e às vezes não conseguem traduzir em oportunidades a capacidade de se imporem em jogo mas a afirmação plena de Diomande, as contratações cirúrgicas de Gyökeres e Hjulmand, o crescimento de Morita e o maior número de opções para as três posições ofensivas trouxe uma consistência de exibições e resultados como não se viu na última temporada. Foi à luz disso mesmo, fiel ao que tem sido o rendimento da equipa, que Rúben Amorim não promoveu surpresas também no seu 3x4x3, com o regresso de Morita após lesão, a aposta em Edwards pela direita do ataque e a permanência de Matheus Reis na esquerda em vez de Nuno Santos.

No final, não ganhou o melhor e os três pontos ficaram por quem menos fez por isso entre os dois técnicos. Após uma primeira parte equilibrada nas oportunidades mas que ficou definida com mais um grande golo de Gyökeres, a expulsão de Gonçalo Inácio mudou por completo o cariz da partida e quase colocou a decisão da partida nas mãos de Schmidt. O alemão, quando mexeu, em nada melhorou. No entanto, saiu-lhe a sorte grande, uma taluda chamada João Neves. E não foi apenas pelo golo nos descontos que deu o empate antes da explosão com o 2-1 de Tengstedt mas sim pelo enorme jogo feito ao longo dos 90 minutos coroado por um statement quando marcou o 1-1 e festejou a puxar os companheiros em busca de mais. Essa é a grande virtude do mais novo e mais pequeno em campo: ao mesmo tempo que vê soluções onde muitos não as imaginam e com isso consegue esconder problemas. No entanto, e apesar da derrota, ficou também mais uma prova de como Gyökeres, o avançado que passou ao lado do Benfica, é o principal reforço da Liga.

Ficha de jogo

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Benfica-Sporting, 2-1

11.ª jornada da Primeira Liga

Estádio da Luz, em Lisboa

Árbitro: Artur Soares Dias (AF Porto)

Benfica: Trubin; António Silva, Otamendi, Morato; João Neves, Florentino Luís (Tengstedt, 64′), João Mário (Gonçalo Guedes, 86′), Aursnes; Di María, Rafa e Musa (Arthur Cabral, 64′)

Suplentes não utilizados: Samuel Soares, Jurásek, João Victor, Tomás Araújo, Chiquinho e Tiago Gouveia

Treinador: Roger Schmidt

Sporting: Adán; Diomande, Coates, Gonçalo Inácio; Ricardo Esgaio, Hjulmand, Morita (Paulinho, 85′), Matheus Reis (Nuno Santos, 73′); Marcus Edwards (St. Juste, 57′), Pedro Gonçalves (Trincão, 73′) e Gyökeres

Suplentes não utilizados: Franco Israel, Luís Neto, Dário Essugo, Daniel Bragança e Afonso Moreira

Treinador: Rúben Amorim

Golos: Gyökeres (45′), João Neves (90+4′) e Tengstedt (90+7′)

Ação disciplinar: cartão amarelo a Coates (15′), Gonçalo Inácio (22′ e 51′), Marcus Edwards (57′), João Mário (66′), Hjulmand (69′), João Neves (75′) e Luís Neto (após o jogo); cartão vermelho por acumulação de Gonçalo Inácio (51′)

A partida começou com essa confirmação de que Amorim tinha razão quando suspeitava num regresso dos encarnados a uma linha de quatro defesas. Ou seja, os intérpretes eram os mesmos do plano B, a estratégia passava por um plano A com alínea b), que recolocava João Neves no seu habitat natural a tentar controlar o meio-campo e João Mário como falso ala esquerdo no apoio ao lateral Morato. E a opção nesse regresso ao 4x2x3x1 era assumida a 100%, com Aursnes na direita da defesa mesmo sendo o médio com mais perfil para cair numa das alas e ajudar o lateral em situações de 1×1. Resultados? Positivos. E se o primeiro sinal de um relativo perigo surgiu pelo Sporting num canto desviado pela defesa encarnada para nova bola parada, foi o Benfica que abriu a porta do jogo a mostrar ao que vinha tendo Rafa como principal intérprete: primeiro, na sequência de uma insistência de Musa a ganhar entre os centrais leoninos, falhou um penálti em andamento devido a um toque providencial de Esgaio (9′); depois, numa jogada individual, fletiu para o lado esquerdo, fez a diagonal, arriscou o remate em jeito a bater ainda num adversário e acertou na trave (12′).

[Clique nas imagens para ver os melhores momentos do Benfica-Sporting em vídeo]

Ainda houve mais uma boa saída de Musa para o ataque que “custou” um amarelo a Coates mas, entre um João Neves que pautava a batuta de todo o jogo com e sem bola do Benfica, o meio-campo do Sporting foi conseguindo estabilizar a equipa. A dar mais jogo para os corredores laterais, a ter outra capacidade de fazer zonas de pressão mais assertivas, a conseguir agarrar nos momentos de jogo mesmo que de perigo tivesse só um cruzamento de Matheus Reis a partir da esquerda que atravessou a área com perigo mas sem finalização. Neves, quem mais, não “gostou”. E foi na sequência de duas recuperações fantásticas pelo chão nos dois meio-campos que nasceu mais uma oportunidade de golo e para o Benfica, com António Silva a assistir João Mário numa segunda bola após livre lateral para um chapéu de João Mário que saiu um pouco ao lado da baliza de Adán e viu ainda Florentino não conseguir fazer o desvio de cabeça por pouco (24′). Na resposta, num canto aberto de Pedro Gonçalves à direita, Trubin tirou o primeiro golo do jogo a Diomande (29′), numa fase em que o Sporting conseguia ter mais bola, mais critério e mais capacidade de chegar ao último terço.

O jogo nem sempre estava bonito mas estava bom. Vivo, intenso, disputado, correto, com critério largo de Artur Soares Dias com vários lances de toques e empurrões com menor veemência que evitou apitar (algo que nem sempre se vê). Entre os principais artistas, era quase 10×10 perante os eclipses de Ángel Di María e Pedro Gonçalves, sendo que o português teria a melhor oportunidade do Sporting na primeira parte com um remate de primeira isolado na área após uma grande assistência de Marcus Edwards para nova defesa de Trubin (33′) e o argentino pouco depois surgiria isolado a partir da direita para rematar ao poste da baliza de Adán numa jogada anulada por fora de jogo (40′). O dérbi parecia encaminhar-se sem golos para o intervalo até que Gyökeres apareceu também pela primeira vez com um palmo de espaço e enquadrado com a baliza mesmo não estando na melhor posição. Resultado? 1-0: João Mário perdeu a bola, Edwards deixou Morato de voltas trocadas e a assistência do inglês terminou com uma “bomba” na passada do sueco (45′).

O Benfica sofria o primeiro golo numa primeira parte em jogos da Liga, adensando os problemas que teria por resolver no balneário após 45 minutos em que sobretudo imperou eficácia entre três oportunidades para cada equipa. Aliás, havia esse ponto comum de ambos os conjuntos terem como principal pecha a “fatura” de como estavam a jogar – no caso dos encarnados, e apesar de Morato não estar a fazer um mau jogo, mais uma adaptação para disfarçar aquilo que não correu bem no mercado e que permitiu que Edwards abrisse o livro quando deambulava da direita para o meio; da parte dos leões, e apesar de uma exibição globalmente positiva sem bola, a maneira como muitas vezes permitia que Rafa recebesse nos espaços sem dono para agitar o ataque. E esses seriam temas de conversa durante o descanso, com essa mudança de abordagem ao encontro que a vantagem do Sporting e uma nova alteração pela expulsão de Gonçalo Inácio (51′).

Numa primeira instância, Pedro Gonçalves ainda fechou à esquerda com Matheus Reis pelo meio, algo que durou apenas cinco minutos para St. Juste aquecer bem e entrar para o lugar de Marcus Edwards, deixando Gyökeres a fazer um papel de dois por um na frente como o Sporting nunca teve na era Amorim. Contudo, e apesar dessa vantagem numérica, a única coisa que mexeu mesmo foi a posse de bola, com os encarnados a terem mais domínio ainda que sem chances a não ser um remate de João Mário ainda desviado por Adán mas que erradamente não deu canto (62′). Schmidt mexia na equipa ao som de muitos assobios que vinham das bancadas, abdicando de Florentino e Musa para as entradas de Arthur Cabral e Tengstedt, e eram os leões que criavam perigo na bola parada, com Trubin a afastar com uma palmada na área (63′).

Contra tudo o que se pudesse esperar, nem o Benfica melhorou a nível de último terço, nem o Sporting sentiu mais problemas para defender um estilo mais direto mas inconsequente dos encarnados. Assim, os minutos foram passando sem que as águias conseguissem sequer rematar, num marasmo que foi que quebrado numa ação individual de Di María que obrigou Adán à primeira defesa do encontro a fazer a bola tocar ainda na trave antes de sair para canto (77′). Aliás, a única mudança mais visível era a forma cada vez mais confortável com que os leões encaravam a inferioridade numérica em vantagem, com Amorim a querer dar mais um passo em frente com a entrada de Paulinho para o lugar do esgotado Morita e Schmidt a abdicar de João Mário para lançar Gonçalo Guedes. O internacional conseguiu mexer um pouco mais na partida até ao golpe de teatro nos descontos: João Neves empatou na sequência de um canto com desvio de Morato ao primeiro poste (90+4′) e Tengstedt fez o 2-1 validado pelo VAR após um cruzamento de Aursnes (90+7′).

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