Já tinha ganho “sem espinhas”, já tinha perdido em encontros com muitos golos, já tinha caído em partidas de margem mínima. José Mourinho experimentara quase todos os resultados no dérbi de Roma (menos o empate) mas o encontro frente à Lazio tinha sempre condimentos especiais além de todo o tempero que os jogos entre rivais da cidade já comportam ou não existisse uma “relação especial” entre o técnico português e o homólogo Maurizio Sarri além do presidente dos laziale, Claudio Lotito, com quem se “pegou” no último encontro entre ambos no Estádio Olímpico em que esteve na bancada por cumprir castigo.
Agora, o jogo das palavras começou com Mourinho a queixar-se do maior período de descanso que a Lazio teve após os compromissos nas competições, por defrontar antes o Feyenoord na Champions do que a Roma o Slavia de Praga na Liga Europa. “A Roma pode jogar um amigável na quinta-feira e nós travámos uma guerra esta noite [quarta-feira]. Mas se me pergunta se é inteligente agendar um dérbi na semana em que as duas equipas jogam na Europa, vou dizer que não. Parece-me que quem decide é gente estranha ao futebol e que não sabe o que é o dérbi”, disse Sarri. “Se alguém se deve sentir ofendido com as suas declarações são os adeptos do Slavia, não eu. É como se ele tivesse dito que é uma equipa sem qualidade, eu respeito sempre os meus adversários. Talvez o que faz a diferença entre treinadores é a maneira de pensar os jogos, talvez a diferença seja um treinador que conquistou 26 títulos e outro que ganhou apenas alguns. A nossa mentalidade é esta: todos os jogos são sérios, não há particulares. Gostaria de ouvir a reação da Serie A às palavras de Sarri. Foi uma crítica direta e objetiva, agora estou à espera”, apontou Mourinho.
Havia pontos em comum na campanha das duas equipas na Serie A que adensava o peso do resultado deste dérbi: 1) ambos os conjuntos começaram muito mal o Campeonato, com cinco pontos da Roma e quatro da Lazio nas cinco jornadas iniciais; 2) ambos os conjuntos foram conseguindo superar o cansaço “normal” das competições europeias para melhorarem e manterem os objetivos intactos na Champions e na Liga Europa a nível de passagem à fase a eliminar; 3) ambos os conjuntos chegavam ao primeiro duelo da época com alguns resultados menos conseguidos depois do melhor período na fase A, com os laziale a perderem fora com o Bolonha após três vitórias seguidas e os giallorossi a ganharem com dois golos nos descontos ao Lecce após a derrota em Milão com o Inter que sucedeu a uma série de três vitórias seguidas. Perante este cenário, um triunfo valia a aproximação a lugares da Champions e uma derrota acentuava o caminho irregular. Ninguém se ficou a rir. E o empate sem golos deixou a Roma no sétimo lugar e a Lazio na décima posição.
O início do encontro apresentou talvez a melhor versão da Roma e uma das piores faces da Lazio. O nulo não foi alterado nesse período mas o jogo quase de sentido único teve os giallorossi a condicionar por completo a primeira fase de construção dos visitados, a não permitir mais do que três/quatro toques que raramente eram em progressão e a criar oportunidades para marcar entre um desvio de cabeça de Lukaku após centro de Cristante que saiu por cima (5′), um remate cruzado de Karsdorp travado por Ivan Provedel que acabou com Cristante a marcar fora de jogo (13′) e mais um tiro de Karsdorp que saiu pouco ao lado (14′). Durante uma interrupção na partida, os jogadores da Lazio deslocaram-se ao banco e falavam com Maurizio Sarri quase que a perguntar o que poderiam fazer para saírem da autêntica teia montada por Mourinho.
Aos poucos, os pratos da balança foram ficando mais equilibrados. Por um lado, e de forma quase natural, a Roma perdeu força perante o arranque a todo o gás com e sem bola no dérbi; por outro, a Lazio encontrou os caminhos para conseguir saltar linhas de pressão e chegar em posse ao último terço, criando mesmo aquela que foi a melhor oportunidade até esse momento com uma “bomba” que bateu no poste da baliza de Rui Patrício (24′). Também a bola parada começava a criar desequilíbrios, com Romagnoli a aproveitar um livre lateral descaído sobre a direita para desviar de cabeça para uma grande defesa do internacional português (28′). O jogo estava eletrizantes, sendo que até ao intervalo houve ânimos mais exaltados por mais do que uma ocasião, num toque sul-americano a um dérbi que não poderia ter mais contornos de latino.
O segundo tempo trouxe uma partida com menos de tudo. Menos intensidade, menos agressividade quando havia a reação à perda, menos remates, menos situações claras de golo, menos capacidade de sair do encaixe tático das equipas entre todas as substituições que iam sendo feitas sobretudo pela Lazio. O encontro entrava sem golos no período em que a Roma faz mais golos, a partir dos 75 minutos (nove, mais um do que o Inter e mais dois do que o Nápoles). Era o momento da verdade mas um momento que chegou com uma completa quebra física de ambos os conjuntos, o que impediu que alguém arriscasse mais em busca dos três pontos. Assim, o nulo foi um desfecho natural. E a “vitória” de José Mourinho e Maurizio Sarri foi mesmo a “paz” depois das declarações no lançamento da partida, com abraços antes e depois do encontro.