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No princípio do fim de "The Crown" há (outra vez) Diana em todo o lado ao mesmo tempo e pouco mais

Este artigo tem mais de 6 meses

O charme inicial da série estava na forma como usava a narrativa televisiva para revelar detalhes reais pouco conhecidos. Neste início de última temporada, vemos sobretudo uma novela repetitiva.

A relação entre Dodi Fayed e Diana (interpretados por Khalid Abdalla e Elizabeth Debicki, respetivamente) tem muito do protagonismo destes quatro episódios
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A relação entre Dodi Fayed e Diana (interpretados por Khalid Abdalla e Elizabeth Debicki, respetivamente) tem muito do protagonismo destes quatro episódios

A relação entre Dodi Fayed e Diana (interpretados por Khalid Abdalla e Elizabeth Debicki, respetivamente) tem muito do protagonismo destes quatro episódios

[Este artigo pode conter spoilers. Se ainda não viu os primeiros quatro episódios do final de “The Crown” e não quer saber absolutamente nada, não leia mais]

Tal como todos sabemos o que estávamos a fazer no 11 de setembro, muitos de nós lembram-se do momento em que as televisões anunciaram que a princesa Diana tinha morrido. Choque, incredulidade, consternação e dezenas de teorias analisadas até à exaustão durante semanas. Como assim, Lady Di estava morta? Aquela figura angelical, com ar tímido e olhos penetrantes, uma mulher real que quebrava padrões num mundo irreal. Não tinha já sofrido o suficiente?

Casada com um homem que nunca a amou, enfiada num palácio cheio de regras e onde mostrar emoções era defeito, humilhada publicamente pelo marido e a respetiva amante, perseguida por fotógrafos, enganada por jornalistas, largada por homens incapazes de lidar com tanta pressão mediática. A descrença transformou-se em revolta, que virou dor e fez dela quase-santa, tornando todos os outros membros da família real ainda mais diabólicos e desumanos.

Se a memória desses tempos não for suficiente, The Crown dedica quatro episódios inteirinhos a rever a matéria. A sexta e última temporada está dividida em duas partes. A primeira tem quatro episódios e já está disponível na Netflix (os restantes seis estão guardados para 14 de dezembro). Três são sobre as últimas oito semanas da vida de Diana, enquanto o quarto se debruça sobre os dias após o acidente fatal, culminando no funeral.

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[o trailer da primeira parte da temporada final de “The Crown”:]

Só saberemos se partir a temporada em dois foi uma decisão acertada no final disto tudo. Porém, fazendo as contas neste momento, não parece. Estamos perante uma mini temporada em que só se respira Diana — tudo o resto é bastante secundário. Só que a série não se chama Diana, chama-se The Crown e, embora o período em que aquela que ficou conhecida como “a princesa do povo” fez parte da família real britânica fosse dos mais aguardados para ver no ecrã, não era preciso tanto. Até porque aqui só cabem as suas últimas semanas de vida.

De repente, parece que estamos a ver uma sequência dos momentos que foram intensamente fotografados e publicitados quando Diana era viva. É como se alguém estivesse a apresentar-nos uma série de fotos das férias: “Aqui está a Diana com um fato de banho leopardo no meio do oceano”; “Aqui é Diana no meio de um campo de minas na Bósnia”; “Nesta, Diana estava a pensar na vida no meio do mar. Olha este fato de banho azul, que lindo”; “Ah, falta esta, olhai Diana a comer gelado em Monte Carlo”.

Por entre estas recriações da vida real (já sabemos que a equipa de adereços de The Crown é exímia a copiar roupa) dão-se momentos privados, imaginados obviamente pelo criador, Peter Morgan, e é aqui que a história é eficaz e cativante.

Muito se escreveu e especulou sobre a relação de Diana e Dodi Fayed (interpretados por Elizabeth Debicki e Khalid Abdalla, respetivamente). Após as fotos dos dois num iate que pareciam confirmar um romance, as teorias escalaram depois do acidente que vitimou os dois: estavam loucamente apaixonados, estavam noivos, Diana estava grávida, etc, etc. Porém, Morgan escolhe outro caminho, bem mais interessante e, provavelmente, credível.

Dominic West — ator cujas qualidades são inegáveis, o que ainda é mais frustrante — continua completamente desajustado no papel de Carlos

O que fica desta ligação é amizade e, acima de tudo, compreensão. Diana sempre tentou agradar aos outros (ao pai, ao marido, à rainha), nunca conseguindo a aprovação que tão desesperadamente perseguia. Quanto a Dodi, nada do que fazia era suficientemente bom para o pai, o milionário Mohamed Al Fayed (Salim Daw). Dono do Ritz, do Harrods e de outros negócios de sucesso, vive obcecado com o objetivo de ser aceite pela realeza e pela sociedade britânica, que o despreza até depois da morte do filho.

Dodi é empurrado para Diana pelo pai. A princesa vê nele um amparo que raramente encontrava. Porém, os dois sabiam que não eram o amor da vida um do outro (embora essa versão fosse bem mais romântica). São duas pessoas com traumas e problemas de confiança que se reconhecem no meio da dor e que, tendo em conta a série (que não é um documentário, recorde-se), estavam no caminho para serem a bengala uma da outra. Nada mais do que isso.

Antes de acompanharmos a evolução desta relação, a temporada começa em Paris, na noite de 31 de agosto de 1997. Um homem sai de casa para passear com o cão e, durante a caminhada, vê um carro a entrar a grande velocidade num túnel. Ouve-se um estrondo e o homem liga para o 112 alertando para o acidente. “Parece grave”, diz ele, a largos metros de distância do despiste. Tal como os produtores tinham garantido, não há imagens do acidente e muito menos de Diana no hospital ou na morgue (Dodi morreu no local, a princesa acabaria por morrer no hospital).

A dada altura, é como se estivéssemos a ver uma sequência dos momentos que foram intensamente fotografados e publicitados quando Diana era viva

A história recua então oito semanas para acompanharmos o verão da realeza. Primeiro, Diana viaja para Saint-Tropez para passar dez dias de férias com os filhos na mansão e nos iates dos Fayed. É aí que a ligação com Dodi começa realmente. Quando os miúdos regressam a casa para passar tempo com o pai em Balmoral, na Escócia, ela está livre para explorar o que possa sair dali. Seja lá o que isso signifique, tendo em conta que tem sempre dezenas de paparazzi à perna.

Confirma-se que Elizabeth Debicki é das melhores contratações deste elenco, apesar de ser por vezes doloroso vê-la sempre com o pescoço de lado e o olhar revirado, copiando os trejeitos da verdadeira Diana. A personagem continua envolta em solidão, mas já não está num buraco negro como na última temporada. Debicki interpreta-a com uma calma que parece encaminhá-la para o trajeto certo, que continua a tentar decifrar (o desejo de sossego e a paixão por causas que têm de ser públicas fazem-na travar uma luta interior constante), que vai intercalando com um olhar quase infantil e ingénuo quando prega partidas aos filhos ou simplesmente se deita junto deles em busca do próprio conforto.

As perseguições dos paparazzi, os amuletos da rainha e “aquele fato de banho azul”: o que traz a última temporada de The Crown?

Também Imelda Staunton continua a ser uma rainha muito credível, apesar de lhe ser roubado o protagonismo neste início de temporada. Firme na sua posição de ficar barricada em Balmoral com a família e os netos após a morte de Diana, mostra-se impassível perante as imagens de milhares de pessoas destroçadas nas ruas de Londres ou a formarem um gigantesco tapete com as flores depositadas às portas do Palácio de Buckingham. Até que lhe aparece Diana e ela muda de ideias, deixando o refúgio e regressando à capital para fazer o luto com os seus súbditos.

O verbo “aparece” é válido porque, nesta fase, este encontro está apenas na imaginação da rainha (estamos nos dias após o acidente em Paris). A cena — que já foi comentada em todo o lado, portanto não conta como spoiler — foi altamente criticada nos meios de comunicação britânicos, que classificam a opção do “fantasma” como sendo de “mau gosto”. No entanto, olhando de forma objetiva, não é minimamente chocante nem descabida. Da mesma forma, Carlos vê Diana quando está no avião a regressar com o corpo a Inglaterra e Dodi fala com o pai. É uma maneira de fechar o círculo das personagens, deixando os respetivos assuntos arrumados e as pazes feitas. Não é comum as pessoas imaginarem conversas que deveriam ter tido com alguém que acaba de morrer de forma inesperada?

Imelda Staunton continua a ser uma rainha muito credível, apesar de lhe ser roubado o protagonismo neste início de temporada

Isto leva-nos a falar de Carlos, ou neste caso, de Dominic West. O ator (cujas qualidades são inegáveis, o que ainda é mais frustrante) continua completamente desajustado. Será “bebé chorão” um exagero? O facto é que o homem passa grande parte destes episódios à beira das lágrimas ou efetivamente a chorar — uma imagem à qual é muito difícil associar a Carlos, pelo menos nesta escala desmesurada. Acrescenta-se a isso o facto de ir pedir muito à “mummy” (este homem de 60 anos a chamar mamã à rainha parece o início de um sketch de comédia) que vá à festa de aniversário de Camilla e de ficar muito irritado (como se estivesse a começar uma birra) perante a sua equipa de conselheiros quando vê que Diana continua a ganhar na guerra dos jornais, que pouco ou nada querem saber da nova mulher do príncipe. De repente, Diana morre e ele é o seu mais feroz defensor, sendo genuinamente o mais destroçado com a perda — parece que falta sempre uma peça no puzzle desta personagem e a oportunidade para corrigir isso está a terminar.

A quinta temporada tinha-se dispersado em diversos arcos narrativos sem grande fio condutor entre eles. Desta vez, The Crown faz o oposto e dedica quatro episódios a um único acontecimento. É difícil prever, para já, se a sexta temporada será mais consistente como um todo, ainda há seis episódios para ver. Mas, apesar de sabermos que abordam sobretudo o romance de William e Kate e o casamento de Carlos e Camilla, ainda nos faltam demasiados detalhes.

Por exemplo, ainda não fomos apresentados aos atores que interpretarão William e a namorada, não sabemos se serão bons. Camilla era uma personagem cheia de nuances na última temporada mas está completamente apagada nestes quatro primeiros capítulos, terá ela espaço para mostrar mais da sua personalidade? E Carlos, continuará a desencadear alarmes de “erro de casting” cada vez que Dominic West aparece no ecrã? Se calhar, podemos pedir ao senhor que chama o 112 no primeiro episódio para se manter alerta no caso de ser preciso ligar para as autoridades ou para uma linha qualquer de apoio que resgate atores em apuros.

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