O projeto ReBOOT, lançado em junho pelo município do Porto com o objetivo de recuperar computadores avariados ou em fim de vida, já permitiu reparar 66 equipamentos que vão ser, entretanto, doados a instituições sociais da cidade.
Desde adolescente que Inês Lopes, engenheira biomédica de 34 anos, procurava recuperar os equipamentos elétricos e eletrónicos que tinha em casa.
Apesar do gosto, Inês nunca se aventurou muito, pois não eram vastas as competências que detinha na área da reparação, mas quando soube que o projeto ReBOOT estava a recrutar participantes sem experiência para recuperar computadores não hesitou em se inscrever.
A Inês juntam-se outros participantes como Vasco Costa que, aos 60 anos e com experiência na área de gestão de empresas, se inscreveu “por curiosidade” e para tentar perceber como poderia arranjar um computador que tem “encostado em casa”.
“É como um jogo”, comparou Vasco Costa, enquanto se debruçava sobre a placa gráfica de um computador já deteriorada.
Também Daniel Oliveira, de 48 anos, e com experiência na área de recursos humanos, comparou o computador que estava a reparar a um “dador de órgãos”, pois já se encontrava em fim de vida, mas as suas peças “darão vida a outros equipamentos”.
“Não gosto de deitar nada fora e acima de tudo revejo-me nos fins da iniciativa”, contou à Lusa, destacando que esta é também uma forma de adquirir mais conhecimentos.
Lançado em junho pelo município do Porto, o projeto ReBOOT conta com o apoio dos fundadores da startup Recycle Geeks, que, nas sessões, que decorrem na entrada da UPTEC da Asprela, ajudam os participantes a diagnosticar os problemas.
“O nosso propósito é garantir que os equipamentos têm um ciclo de vida mais prolongado, para evitar o grande esforço que colocamos nos recursos limitados do planeta“, afirmou João Botelho, cofundador da startup incubada na UPTEC.
Em cada sessão de capacitação, os participantes têm acesso a um manual e às ferramentas necessárias para realizar as reparações que, para quem não tem experiência, parecem impossíveis de concretizar.
“O manual ajuda a estruturar as sessões porque queremos que as pessoas não dependam de nós para encontrar as respostas e o objetivo é encorajá-las a reparar os equipamentos com as ferramentas que têm em casa”, destacou João Botelho.
Qualquer empresa ou pessoa pode participar no projeto, seja através da reparação dos equipamentos, seja da entrega de computadores avariados, sendo que só instituições sociais podem solicitar a entrega dos computadores reparados.
Desde o lançamento do ReBOOT, que integra o programa “Asprela + Sustentável”, já foram reparados 66 computadores e recolhidos 336 equipamentos informáticos. Nas sessões de capacitação inscreveram-se, até ao momento, 118 pessoas e o município já recebeu 36 pedidos por parte de instituições sociais.
Para o vice-presidente da Câmara do Porto, que detém o pelouro do Ambiente, este projeto reveste-se de significativa importância, sobretudo face ao atual “mundo de desperdício”.
“O maior desafio nesta sociedade de consumo exacerbado é conseguir passar a mensagem de que as pessoas devem ter a perceção de que, tudo o que usam, recorre a recursos naturais”, afirmou Filipe Araújo, destacando a necessidade de dar uma segunda vida aos equipamentos e se, em último caso tal não for possível, depositá-los nos devidos locais.
Os equipamentos podem ser entregues diretamente ao município do Porto ou às empresas de gestão de resíduos parceiras, nomeadamente a Porto Ambiente, a LIPOR e a European Recycling Platform.
“A questão da reparabilidade foi-se perdendo na nossa sociedade e temos de recuperar isso”, acrescentou o vice-presidente.
Promovido pelo município do Porto, o projeto conta com a colaboração da Porto Digital, European Recycling Platform Portugal, LIPOR, Circular Economy Portugal, Porto Ambiente, UPTEC, Faculdade de Engenharia da Universidade do Porto e Instituto Superior de Engenharia do Porto.