A presidente do Banco Central Europeu (BCE) defendeu, esta segunda-feira, que a zona euro ainda não pode “declarar vitória” relativamente à inflação, apesar de decréscimos, salientando a “incerteza considerável” sobre as projeções e pedindo acordo sobre novas regras orçamentais.

“Não é altura de começar a declarar vitórias. Temos de permanecer atentos às diferentes forças que afetam a inflação e firmemente concentrados no nosso mandato de estabilidade dos preços”, disse Christine Lagarde, intervindo numa audição na comissão dos Assuntos Económicos e Monetários do Parlamento Europeu, em Bruxelas.

Fazendo uma previsão sobre o decurso da inflação, após a taxa ter recuado em outubro para 2,9%, o valor mais baixo desde agosto de 2021, a presidente do BCE disse estimar-se que “o enfraquecimento das pressões inflacionistas continue, embora a inflação global possa voltar a subir ligeiramente nos próximos meses, principalmente devido a alguns efeitos de base”.

“No entanto, as perspetivas a médio prazo para a inflação continuam rodeadas de uma incerteza considerável”, ressalvou, numa alusão ao contexto geopolítico de guerra na Ucrânia causada pela invasão russa e no Médio Oriente.

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Por essa razão, “à medida que entramos numa nova era de tensões geopolíticas acrescidas e de uma crise climática em curso, temos de intensificar os nossos esforços para tornar as nossas economias mais resilientes”, apelou Christine Lagarde.

Numa altura em que a União Europeia (UE) discute a reforma das regras de governação económica, com apertados tetos para dívida pública e défice, a responsável elencou que “o aprofundamento da união dos mercados de capitais, a obtenção de um acordo sobre um quadro orçamental sólido e a eliminação dos obstáculos regulamentares são igualmente cruciais para promover o investimento e acelerar o desenvolvimento das energias renováveis”.

A posição surge quando se prevê a retoma destas regras orçamentais da UE em 2024, após a suspensão devido à pandemia e à guerra da Ucrânia, com nova formulação apesar dos habituais tetos de 60% do Produto Interno Bruto (PIB) para a dívida pública e de 3% do PIB para o défice.

“Para navegar neste ambiente em mudança, os decisores políticos devem ter uma mente aberta. Simultaneamente, é fundamental que os bancos centrais proporcionem uma âncora de estabilidade, cumprindo os seus mandatos de estabilidade de preços”, adiantou Christine Lagarde, concluindo que “o BCE desempenhará o seu papel, assegurando, em primeiro lugar”, que a inflação regresse ao objetivo de médio prazo da instituição de 2%.

A taxa de inflação tem vindo a baixar nos últimos meses após registar valores históricos devido à reabertura da economia pós-pandemia de covid-19, à crise energética e às consequências económicas da guerra na Ucrânia, mas ainda assim acima do objetivo de 2% fixado BCE para a estabilidade dos preços.

Para o atingir, o BCE tem apertado a política monetária com sucessivos aumentos das taxas de juro, agora a um ritmo mais lento. Apesar de se estimar que a zona euro já tenha atingido o pico de inflação, as novas tensões no Médio Oriente vieram trazer novos apelos de cautela dado que um eventual conflito mais alargado pode colocar em risco os fluxos energéticos e, dessa forma, pressionar os preços.