As agências de viagens antecipam um ano de desaceleração em 2024 depois “dos fantásticos números entretanto alcançados”, o que não deixará de impactar o setor do turismo. O aviso do presidente da APAVT (Associação Portuguesa das Agências de Viagens) marca o arranque do congresso da associação, que reúne anualmente os principais operadores turísticos em Portugal.
A partir do Porto, onde se realiza este ano 0 48.º congresso da associação, Pedro Costa Neves realçou o bom ano de 2o23, em que as empresas trabalharam a um ritmo superior ao de 2019, o último ano antes da Covid-19. Isto quando ainda estão a pagar as dívidas que contraíram durante os dois anos afetados pela pandemia.
“A verdade é que uma realidade complexa se desenha perante nós quando olhamos para 2024”, afirmou o presidente da associação destacando fatores como a “guerra que se alonga e alastra”, a inflação, as taxas de juro, sem esquecer “a instabilidade política internacional, e agora também nacional. Julgo que, por tudo isso, ninguém se espantaria se 2024 fosse um ano de desaceleração”.
Os dados do terceiro trimestre sobre a evolução da economia, divulgados esta quinta-feira pelo Instituto Nacional de Estatísticas (INE) apontam para uma queda de 3,9% das exportações de serviços face ao trimestre anterior, uma rubrica onde o turismo tem um papel central.
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Na abertura do congresso, o secretário de Estado do Turismo preferiu focar-se em 2023, naquele que será, “quase de certeza”, o melhor ano de sempre para o turismo depois da incerteza que marcava há um ano a recuperação do setor para os níveis pré-pandemia. Nuno Fazenda remeteu para os dados do INE para afirmar que “estamos a caminhar para o melhor ano de sempre para o turismo e isso deve-se, essencialmente, às empresas, aos agentes do setor – também às políticas públicas para o setor -, mas, por isso, quero deixar uma palavra agradecimento para todos os que têm feito para que isto [desempenho] aconteça: muito obrigada”, disse perante agentes de várias atividades do setor do turismo.
Mas é são as incertezas que continua, a marcar as grandes opções que afetam o turismo em Portugal, a começar pela muito antecipada decisão sobre o novo aeroporto (cujo estudo da comissão técnica independente será conhecido a 5 de dezembro), passando pelas privatizações da TAP (que não chegou a arrancar) e da SATA Internacional, esta última mais avançada, que deverão encalhar na crise política no continente e nos Açores.
Num congresso em que a inteligência artificial será tema central, o setor aguarda para perceber como vai correr o processo de implantação da new distribution capacity (nova tecnologia de distribuição de oferta pelas companhias aéreas) por parte da transportadora nacional.
O presidente da APAVT não deixa passar ao lado a crise política e as suas causas, lamentando que a “turba mediática” não contribua para distinguir entre os políticos que têm culpas e os que são “responsáveis e preparados”. E pede a “todos os políticos” que “sejam responsáveis como alguns não têm sido, criando assim condições para que se saia das próximas eleições, com uma solução política viável, e com uma relação com a coisa pública que não envergonhe a classe política, mas, sobretudo, que não nos envergonhe a todos”.