Quanto mais vemos Eddie Murphy em deprimentes filmes “para a família” como este Candy Cane Lane, mais saudades temos do Eddie Murphy truculento, sarcástico, estoira-vergas e transgressor da comédia de “stand up” e de fitas como 48 Horas, Os Ricos e os Pobres, O Caça-Polícias ou O Sem-Vergonha. E que muito, muito esporadicamente, entre um O Professor Chanfrado 2 e um Dr. Doolitle 2, se manifesta, como foi o caso em Alta Golpada (2011) e Chamem-me Dolemite (2019). (E é melhor nem falarmos na decepção que foi O Príncipe Volta a Nova Iorque, isto enquanto se anuncia um quarto O Caça-Polícias, depois de duas continuações insípidas).
Realizado por Reginald Hudlin para a Prime Video, Candy Cane Lane é um daqueles filmes de Natal que supostamente nos vão trazer entretenimento, fantasia, boa disposição e uma “mensagem” bem integrada na essência da quadra. Mas que são tão maus que quase nos tiram a vontade de a celebrar – ou então, de alguma vez voltar a cair no erro de ver uma produção destas. Já houve uma altura em que Hollywood sabia fazer muito bem – ou, pelo menos, aceitavelmente – este tipo de fitas natalícias, para o cinema e para a televisão. Agora, nem sequer as que são realizadas para o streaming se aproveitam.
[Veja o “trailer” de “Candy Cane Lane”:]
Eddie Murphy interpreta Chris Carver, um morador de Los Angeles determinado em ganhar o prémio das decorações e iluminações de natal do seu bairro, mesmo tendo sido despedido poucos dias antes do Natal. Quando anda com a filha mais nova à procura de mais decorações, deparam com uma estranha loja de artigos natalícios, propriedade do que se revela ser uma duende, Pepper, que foi despedida da fábrica de brinquedos do Pai Natal por excesso de zelo e abriu este estabelecimento. Carver compra lá um vistoso artigo alusivo à canção 12 Days of Christmas, sem notar que fez um pacto com a duende que lhe poderá sair muito caro. E quando as figuras da canção que o decoram ganham vida, o caos instala-se.
Escrito com os pés, realizado em piloto automático, cheio de efeitos especiais pirosos – a animação digital dos bonecos da casa em miniatura da loja de Pepper é particularmente tosca —, sem uma piada, um “gag”, uma sequência cómica que desperte um sorriso que seja, e com a mesma capacidade de encantamento de um exaustor industrial, Candy Cane Lane é tão frenética como inutilmente laborioso, tão artificial, tão cheio de corantes e conservantes e tão fake como o espírito natalício que invoca e a mensagem da quadra que pretende deixar (e que, na indispensável nota woke, nos revela que o Pai Natal afinal é negro). E se estivesse lá outro ator qualquer em vez de Eddie Murphy, não fazia a menor diferença. Candy Cane Lane parece um mau filme da Disney feita fora da Disney, e Eddie Murphy continua a marcar passo numa carreira cinematográfica que flutua entre a banalidade e a mediocridade.
(“Candy Cane Lane” estreia-se na Prime Video a 1 de dezembro)