O ex-secretário de Estado da Saúde, António Lacerda Sales, ter-se-á reunido várias vezes com o filho do Presidente da República, Nuno Rebelo de Sousa, avança a TVI, no âmbito do caso das gémeas luso-brasileiras que vieram a Portugal em 2020 receber tratamento com o medicamento Zolgensma, – um dos mais caros do mundo — para a atrofia muscular espinhal Segundo a mesma televisão, as reuniões entre Lacerda Sales e Nuno Rebelo de Sousa decorreram no Ministério da Saúde.

Relatório oficial diz que secretário de Estado da Saúde marcou consulta para gémeas. Lacerda Sales já pediu documentos ao Governo

Confrontado pela estação de televisão sobre as reuniões, Lacerda Sales recusou-se a fazer comentários, reforçando a ideia de que só prestará esclarecimentos “em sede própria”, isto é, no DIAP e na Inspeção Geral das Atividades em Saúde. “Corre inquérito em sede própria e só responderei aos detalhes do processo em sede própria, o IGAS e o DIAP, respeitando aquilo que são os tempos da justiça”, disse.

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Recorde-se que, no boletim clínico das crianças feito pela equipa médica do Hospital de Santa Maria, a que a SIC teve acesso, os médicos referem que foi o então secretário de Estado da Saúde da altura — António Lacerda Sales — a pedir a consulta para as crianças, que teve lugar no dia 2 de janeiro de 2020.

Ex-chefe de gabinete de Marta Temido também pediu documentação sobre o caso das gémeas. Só depois poderá falar sobre intervenção no processo

À TVI, o diretor da Unidade de Neuropediatria do Santa Maria, António Levy Gomes, revelou esta quarta-feira que a consulta foi solicitada diretamente à diretora do Departamento de Pediatria do hospital (que abarca a Unidade de Neuropediatria), por Lacerda Sales. Já antes Levy Gomes tinha revelado que a diretora do serviço, Ana Isabel Lopes, referira que “houve pressões do secretário de Estado” para as crianças serem acompanhadas no Santa Maria.

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Perante esta informação, o Presidente da República emitiu um comunicado garantindo não ter tido conhecimento de quaisquer diligências junto do Ministério da Saúde no caso das gémeas luso-brasileiras com atrofia muscular espinhal após o envio do respetivo dossier para o Governo. “Na sequência das notícias hoje surgidas, o Presidente da República reafirma que não teve conhecimento de quaisquer diligências junto do Ministério da Saúde no caso das gémeas luso-brasileiras, após o envio do dossier para o gabinete do primeiro-ministro a 31 de outubro de 2019”, lê-se numa nota publicada no sítio oficial da Presidência da República.

Este caso foi revelado por reportagens da TVI, transmitidas desde 3 de novembro, que relatam que duas gémeas residentes no Brasil, filhas de mãe luso-brasileira e que entretanto adquiriram nacionalidade portuguesa, vieram a Portugal em 2019 receber o medicamento Zolgensma para a atrofia muscular espinhal, o que representou um custo total de quatro milhões de euros.

A PGR confirmou, em 24 de novembro, em resposta à agência Lusa, que instaurou um inquérito sobre este caso. O caso está também a ser analisado pela Inspeção-Geral das Atividades em Saúde (IGAS) e a ser objeto de uma auditoria interna no Centro Hospitalar Universitário de Lisboa Norte, do qual faz parte o Hospital de Santa Maria.