O novo presidente argentino admite como inevitável um choque orçamental para resolver a pior crise económica do país em muitas décadas, marcada por uma inflação a caminho dos 200%. Durante a tomada de posse, e num discurso curto dirigido à multidão que assistia às portas do Congresso Nacional em Buenos Aires, Javier Milei avisou:
“Não existe alternativa a um tratamento de choque” que resultará no curto prazo num agravamento das condições económicas porque “não há dinheiro (no hay plata).
O plano envolve um ajustamento de 25 mil milhões de dólares (23 mil milhões de euros), o que representa 5% do Produto Interno Bruto da Argentina, especialmente focado na despesa dos setores do Estado.
Palavras foram ditas também perante líderes internacionais como o rei de Espanha, Filipe VI, o presidente ucraniano Volodomir Zelensky e presidentes de vários países da América Latina, como o Paraguai e o Chile. Mas do Brasil em vez de Lula da Silva — que foi um dos alvos de Milei na campanha eleitoral —, veio o ex-Presidente Jair Bolsonaro. O primeiro-ministro húngaro Viktor Orban também esteve na cerimónia.
Também foi notado o protagonismo dado à ex-Presidente argentina Cristina Kirchner. A política que foi vice-presidente até 2019, chegou vestida de vermelho, cor conotada com a esquerda, e reagiu com um gesto obsceno aos assobios que recebeu dos apoiantes do Presidente eleito.
O economista ultra-liberal que ganhou as eleições presidenciais na Argentina acusa o anterior governo de ter deixado o país “na rota da hiper-inflação. Vamos fazer tudo o que pudermos para evitar a catástrofe”. E a “catástrofe” seria uma inflação de 15.000% ao ano.
Apesar de antecipar medidas duras, o novo Presidente saudou a vontade de mudança dos argentinos que lhe deram a vitória com 56% dos votos e prometeu um “ponto de viragem na história” recente do país que comparou à queda do Muro de Berlim.
“Hoje enterramos décadas de fracasso e disputas sem sentido. Hoje começa uma nova era na Argentina, uma nova era de prosperidade, uma era de crescimento e desenvolvimento, de liberdade e progresso”.
Durante a campanha eleitoral, Javier Milei que se tornou conhecido como comentador televisivo, acenou com medidas económicas radicais como o fecho do Banco Central da Argentina — que aponta como um dos responsáveis pela hiper-inflação devido à emissão” “descontrolada” de moeda durante o anterior governo — e a adoção do dólar como moeda.
Milei venceu contra o candidato de uma coligação peronista que era o ex-ministro da Economia, Alberto Fernández. O governo de centro esquerda é acusado pelo novo presidente de ser um dos responsáveis pela situação económica da Argentina.
O choque prometido passa por cortes acentuados na despesa para fazer face à enorme dívida pública do país e à desconfiança dos investidores, mas apesar da vitória expressiva Milei terá de negociar para conseguir fazer passar as suas propostas no congresso. A Argentina recebeu em 2018 um resgate de 44 mil milhões de euros do Fundo Monetário Internacional que tem de ser renovado, para além de uma dívida internacional de 100 mil milhões de dólares.