A cidade de Maputo está esta segunda-feira a funcionar quase normalmente, condicionada pela forte chuva que caiu logo cedo, apesar do apelo da Resistência Nacional Moçambicana (Renamo, maior partido da oposição), para paralisar a capital, contestando os resultados eleitorais.

Numa ronda feita pela Lusa esta manhã foi possível observar que os serviços públicos funcionam normalmente, o mesmo acontecendo com alguns transportes e comércios, apesar de alguns centros comerciais, na baixa da capital, estarem encerrados, enquanto a chuva que há praticamente três dias afeta Maputo condiciona a habitual venda na rua, esta segunda-feira mais calma face a outros dias.

Em alguns locais, como a Praça dos Combatentes, é visível um forte reforço policial, mas sem registo de ocorrências, enquanto outros pequenos comércios optaram por não abrir.

A Renamo apelou na sexta-feira a que todos ficam em casa esta segunda-feira, e afirmou que “não se responsabiliza” pelas consequências para quem não o fizesse.

Carolina Manhique, 43 anos, vendedora ambulante de badjias, típico pastel de feijão, confessou à Lusa que estranhou encontrar pouco movimento na cidade, mas não sabia do apelo da Renamo.

“Quando soube fiquei com medo, mas graças a Deus vendi e acabei e já estou a ir para casa”, contou a vendedora, mãe de dois filhos, que os sustenta com este negócio.

“Venho de Magoanine e lá também não havia movimento pela manhã. Se eu soubesse da greve não teria saído de casa, apesar de a vida estar difícil para ficar em casa, mas arriscar também não é bom”, contou ainda Carolina, enquanto aguardava pelo transporte na paragem Guerra Popular, na cidade, para regressar a casa.

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Manuel Marrengula, eletricista, disse à Lusa que ouviu “falar da greve” desta segunda-feira, mas teve de sair: “Mesmo com medo não há como não sair de casa, se o patrão diz que tenho de trabalhar não há como”.

Enquanto aguardava na Praça dos Trabalhadores para ir a kaTembe, para uma obra, admitia a dificuldade em apanhar transporte: “Não apareceu ainda. Em dias normais já teria apanhado um”.

Num comunicado divulgado no domingo, a Renamo afirma que a adesão a esta paralisação “é voluntária, pelo que declinar a mesma é legítimo, mas o partido Renamo na cidade de Maputo não se responsabiliza por quaisquer impactos sociais”.

“No âmbito da luta pela justiça eleitoral”, a Renamo “comunica a todos os munícipes, empresários, estudantes, trabalhadores do setor informal, residentes ou utentes de serviços na circunscrição da cidade de Maputo” que esta segunda-feira “haverá uma mega revindicação popular visando repudiar os resultados apresentados pelo Conselho Constitucional, denominada “Segunda-feira Paralisada: Maputo Faça Justiça Eleitoral””.

Em 28 de novembro, numa das dezenas de marchas em Maputo de contestação aos resultados anunciados, centenas de apoiantes da Renamo voltaram a dizer nas ruas que a Frente de Libertação de Moçambique (Frelimo) “não vai governar” a capital e com o candidato do partido, Venâncio Mondlane, a apelar à paralisação da cidade.

“Chegou a altura de o povo provar que é o povo que está no poder”, avisou Venâncio Mondlane, ao dirigir-se à multidão que o aguardava à saída daquela que foi então a primeira marcha de protesto na capital após a proclamação dos resultados eleitorais pelo Conselho Constitucional (CC), quatro dias antes.

“Vamos todos combinar para dois dias parar com tudo nesta cidade”, disse na altura, num apelo a todas as classes profissionais, garantindo que é necessária a “paralisação da economia” para contestar a “fraude” nas eleições autárquicas e “devolver a vitória ao povo”.

O Conselho Constitucional, a última instância de recurso em processos eleitorais em Moçambique proclamou em 24 de novembro a Frelimo, partido no poder, vencedora das eleições autárquicas em 56 municípios, incluindo Maputo, contra as anteriores 64 anunciadas pela Comissão Nacional de Eleições, com a Renamo a passar de nenhuma para quatro, e mandou repetir eleições em outros quatro.