Ninguém se pode queixar de fadiga de ganhar. No entanto, o cansaço para quem tem que fazer mais do que estalar os dedos para vencer jogos é real. Há competições que podem ficar definidas logo nos primeiros meses da temporada e há outras em que as contas só se fazem no encerramento da época. Por isso, e com mérito por estar envolvido em quase todas as frentes, o Manchester City de Pep Guardiola tem oscilado de desempenho entre as várias provas.

Se na Premier League os resultados não têm sido constantes e os citizens chegavam à receção ao Crystal Palace após dois jogos sem ganhar em casa e na quarta posição na tabela, na Liga dos Campeões a situação é diferente. Na competição europeia, que já filtrou as 16 melhores equipas, o Manchester City conseguiu terminar o grupo G só com vitórias e com o respetivo primeiro lugar. Como o calendário desportivo não deixa as equipas terminarem um serviço antes de avançarem para outro, os citizens defrontavam o Crystal Palace a pensar no Mundial de clubes que se avizinha e onde se vão cruzar com os japoneses do Urawa Red Diamonds.

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“Nos últimos 12 jogos, perdemos um. Não é mau. É bastante decente”, disse Guardiola na antevisão ao encontro com os Eagles ao mesmo tempo que destacou as vantagens que a época gloriosa que a equipa realizou no ano passado dá ao Manchester City para inverter o arranque menos fulgurante. “Às vezes, quando vencemos, vencemos, vencemos, sabemos exatamente o que temos que fazer [para voltar a vencer]. Sentimos o cheiro. Temos as sensações. Sabemos exatamente o que temos que fazer, como nos devemos comportar. Isso também ajuda. Se ganhamos títulos pode haver a tendência para se dizer ‘ok’ e acreditarmos que somo algo que não somos e caímos, mas tenho a sensação de que vencer ajuda, porque sei exatamente o que tenho que fazer. Os jogadores sabem como foi difícil ganhar todos os títulos [na época anterior] e sabem exatamente os padrões que exigimos de nós mesmos para continuarmos lá [no topo], porque as equipes inglesas estão cada vez melhores”.

Pep Guardiola não estava isento de preocupações no jogo com o Crystal Palace, pois, além da má posição na tabela, o Manchester City ainda não tinha conseguido recuperar Erling Haaland da lesão no pé. De qualquer forma, aos campeões ingleses não falta flexibilidade, quer ao nível das opções no plantel, quer ao nível dos recursos financeiros para adquirir reforços, tal como o próprio treinador da Roma, o português José Mourinho, já comentou. “Não é que eu esteja com inveja, mas o Manchester City pagou 80 milhões pelo Kalvin Philips em janeiro e vai mandá-lo embora para contratar outro”.

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O exemplo da maleabilidade foram as nove alterações no onze que o Manchester City operou em relação à viagem à Sérvia, onde defrontou o Estrela Vermelha. Para defrontar o Crystal Palace, Matheus Nunes caiu das escolhas iniciais, mas Bernardo Silva e Rúben Dias regressaram ao lote de titulares. Entre tantos jogadores de qualidade, foi um abre-latas que teve que entrar em ação. Phil Foden recebeu a bola de Rúben Dias e, num espaço equivalente à área útil de um T0 em Lisboa, colocou-se cara a cara com a defesa e assistiu para o golo. Contra um Crystal Palace num bloco curto e baixo, Jack Grealish (24′) obteve um visto de passagem na fronteira do fora de jogo, que o VAR teve que validar, e marcou pelo terceiro jogo consecutivo na Premier League, algo que o internacional inglês nunca tinha conseguido.

O jogo disputava-se numa porção do campo muito curta. O Crystal Palace posicionava-se perto da sua própria baliza e nem com o golo isso se alterou. Por isso, era natural que os defesas do Manchester City se tornassem quase avançados. Na tentativa de desenrolar aquele emaranhado, Josko Gvardiol teve duas ocasiões por sua conta. Tivessem aqueles lances caído nos pés de um finalizador diferente e talvez o resultado fosse mais volumoso ao intervalo. No final da primeira parte, o guarda-redes dos Eagles, Dean Henderson segurava a margem mínima.

O Crystal Palace precisava de fazer mais para tentar levar algo do Etihad. O Manchester City sabia disso e no reatar do encontro ofereceu como prenda de Natal um embrulho de falsa confiança. O jogadores de Roy Hodgson, como poucas vezes o tinham feito, posicionaram-se tendo em conta visar a baliza de Ederson e caíram no engodo. Quando os Eagles ficaram sem a bola, o sentido de urgência levou a um alívio incompleto que ficou no pés de Rico Lewis (54′) que fez os citizens festejarem de novo. Antes do segundo golo dar ainda mais conforto à equipa de Guardiola, Julián Álvarez tinha introduzido a bola dentro da baliza, mas a intervenção de Rodri levou a que o lance fosse anulado por fora de jogo.

Ate ao sexto minuto de compensação, o Manchester City não tinha realizado qualquer substituição então os jogadores autogeriam-se fisicamente através do ritmo que colocaram no jogo e esse, a determinado ponto, começou a ser francamente baixo. O Crystal Palace acabou por surpreender. Schlupp ganhou as costas de Rúben Dias e assistiu Mateta (76′) para o golo. O momento em que o central português vacilou no duelo direto causou problemas maiores aos citizens que, com um resultado tão nivelado, se expuseram ao risco. Já no tempo de descontos, Phil Foden derrubou Mateta na área e Michael Olise (90+4′) deixou tudo empatado da marca de grande penalidade (2-2). Pela primeira vez desde de 2016, o Manchester City soma o terceiro jogo sem vencer em casa. Apesar de passarem a somar 34 pontos, os jogadores de Pep Guardiola podem ver a liderança da Premier League ficar ainda mais longe no final da jornada 17.