Há cenários que, bem planeados, tentam ser perfeitos. Não entrando no debate do que é a perfeição, nem se ela existe ou não, a maior parte das pessoas que se julgam sequer dignas de imaginarem um mundo sem falhas, ficam pelo caminho logo nesse primeiro passo. Pior do que tentar excluir defeitos da atividade mundana e não conseguir é perceber que convivemos todos os dias com o fenómeno contrário, pois as coisas perfeitamente más andam soltas pelas ruas.

Apuramento para os oitavos de final da Liga dos Campeões: feito. Primeiro lugar do grupo assegurado: feito. Uma viagem a Belgrado era para o Manchester City chover no molhado. Além disso, Haaland, a recuperar de uma lesão no pé sem data para regressar à atividade, e Doku, com um problema muscular, não estavam disponíveis. Bernardo Silva e Rúben Dias ficaram no banco de suplentes. Ederson foi rendido por Ortega na baliza. Salvava-se a titularidade de Matheus Nunes num onze com nove mudanças face à visita ao Luton. Para o Estrela Vermelha também estava tudo decidido, visto ser impossível sair do fundo do grupo G. Aparentemente, os motivos de interesse para este jogo eram poucos.

É por isto que Pep Guardiola diz que é um dos melhores que treinou: Bernardo Silva volta aos golos e City quebra pior série com reviravolta

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“Vamos rodar alguns jogadores, porque temos três dias, viajamos cinco ou seis horas, três dias, uma semi-final e, potencialmente, uma final [do Mundial de clubes]”, avisou o treinador dos citizens, Pep Guardiola. “Estou muito satisfeito em ver muitos jogadores que não jogaram ultimamente envolvidos na equipa”. Uma das novidades apresentadas pelo técnico espanhol foi o lançamento do extremo de 20 anos, Micah Hamilton, em estreia na equipa principal do Manchester City, clube onde fez toda a formação e onde, há seis anos, era apanha-bolas.

Pep Guardiola confiou nas capacidades que lhe mereceram a nomeação para o prémio de Melhor Treinador do Ano da FIFA (onde concorre com Simone Inzaghi e Luciano Spalletti) para colocar um onze com Sergio Gómez, Oscar Bobb ou Rico Lewis a render na Liga dos Campeões. Nesse aspeto, Matheus Nunes podia ter uma rara oportunidade para ser protagonista no Manchester City e subir na hierarquia do plantel dos citizens. O médio ex-Sporting chegou aos quatro jogos a titular na Liga dos Campeões esta época, tantos quantos aqueles que tem na Premier League.

Frente ao Estrela Vermelha, Matheus Nunes posicionou-se como médio ofensivo, ligeiramente mais adiantado em relação a Kovacic e Kalvin Phillips. Foi daquela zona do terreno que o internacional português abriu para Micah Hamilton (19′) desenvolver a jogada individual com que inaugurou o marcador nos primeiros minutos da estreia com os citizens.

O Manchester City concedia alguns espaços ao Estrela Vermelha. Kosta Nedeljkovic, de apenas 17 anos, atirou por cima. A resposta chegou através de Matheus Nunes que, no decurso dos lances, acabava muitas vezes por ser o jogador mais adiantado da equipa inglesa, quase como um falso nove. O médio apareceu no coração da grande área, mas não teve sucesso no remate que aplicou após um cruzamento enrolado vindo da esquerda. Se provas faltavam de que Matheus não é propriamente um finalizador, no início da segunda parte, tentou um pontapé de bicicleta que ia um pouco além das suas capacidade, sendo que, na queda, quase estilhaçou o ombro, acabando por ficar no relvado estendido durante alguns minutos.

As dores do português eram as dores do Manchester City que não conseguia ter um domínio total do encontro fruto de estar um nível abaixo do habitual em vários aspetos do jogo. Apesar de Micah Hamilton ter entrado na segunda parte a criar perigo, foi o Estrela Vermelha que esteve duas vezes perto do empate. Cherif Ndiaye forçou Ortega a uma defesa ao estilo do voleibol. Na sequência, Guélor Kanga também tentou a sorte.

Se o Manchester City não estava a ser avassalador em alguns aspetos, a capacidade de atacar a baliza nas chegadas ao último terço não era um deles. Oscar Bobb (62′), norueguês de 20 anos, conduziu a bola dentro de área e construiu com o pé esquerdo o 2-0 que deixava os campeões em título mais confortáveis. Ainda assim, os sérvios continuaram em busca do golo. Jovan Mijatovic foi quem esteve mais perto do conseguir ao atirar ao poste da baliza de Ortega.

Guardiola estreou também o espanhol de 18 anos, Mahamadou Susoho, e, momentos depois da entrada do médio, o Estrela Vermelha reduziu. Hwang In-beom (76′), um dos melhores em campo na equipa de Belgrado, apanhou a defesa do Manchester City em contrapé e colocou de novo um ponto de interrogação no resultado. Para segurar a vantagem em posse, Bernardo Silva entrou aos 82 minutos para o lugar de Matheus Nunes. O impacto do pequeno maestro foi imediato. Micah Hamilton foi derrubado por Nasser Djiga dentro da área e Kalvin Phillips (85′), apenas no segundo jogo a titular esta época, converteu. Aleksandar Katai (90+1′) correspondeu positivamente ao canto batido por Hwang In-beom e deixou o marcador na margem mínima.

O citizens, com a vitória por 2-3 sobre o Estrela Vermelha, alcançaram os 18 pontos, os 18 golos marcados e sete sofridos. A equipa de Guardiola fez o pleno de vitórias e avança com para os oitavos de final sem marcas que possam ferir a candidatura à revalidação do título. Os sérvios contentaram-se com um ponto. Ao mesmo tempo que se realizava esta partida, o Leipzig, segundo classificado no grupo G, batia o Young Boys, terceiro colocado, com direito a permanecer nas competições europeias, por 2-1.