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O mundo vai acabar, mas Carol só quer continuar a tirar fotocópias

Este artigo tem mais de 6 meses

"Carol & The End of the World" é uma série de animação sobre criar e manter uma comunidade, sobre o que nos faz únicos e o que nos faz, felizmente, iguais aos nossos pares. Para ver na Netflix.

No fundo, Carol só quer dar valor às coisas medianas e banais que subitamente desapareceram — o que faz lembrar os nossos próprios fantasmas dos confinamentos por alturas da pandemia
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No fundo, Carol só quer dar valor às coisas medianas e banais que subitamente desapareceram — o que faz lembrar os nossos próprios fantasmas dos confinamentos por alturas da pandemia

No fundo, Carol só quer dar valor às coisas medianas e banais que subitamente desapareceram — o que faz lembrar os nossos próprios fantasmas dos confinamentos por alturas da pandemia

Nesta altura do ano, as pessoas dividem-se essencialmente em duas grandes categorias: quem veste a camisola do Natal com intensidade, todo ele Mariah Carey e hálito a azevias; e quem encontre desconforto na quadra, muitas vezes até uma certa tristeza. Carol & The End of The World, a nova série de animação para adultos com a chancela da Netflix, chega para agradar claramente para o segundo grupo. É uma ode ao melancólico, ao banal, ao cinzento que pinta logo as imagens da primeira cena do episódio inaugural, com a protagonista a bordo de um comboio suburbano.

Ao longo de 10 episódios, a rondar a meia hora cada, acompanhamos o fim do mundo, que chega com hora marcada. No início da trama descobrimos que faltam sete meses e 13 dias para um planeta chocar com a Terra e nos aniquilar de vez. Há vários modos de lidar com a extinção em massa, que vão de filas para escalar finalmente o Everest, até igrejas cheias, tumultos nas ruas com saques em lojas ou apenas questionar se os cães sabem que vamos morrer todos. Nunca a icónica frase de José Rodrigues dos Santos fez tanto sentido.

[o trailer de “Carol & The End of The World”:]

A nossa cicerone neste fim dos tempos é Carol, uma mulher em contraciclo. Não só não tem interesse em libertar os seus pensamentos mais hedonistas (ao contrário dos pais, um casal de idosos sempre nu que se envolve sexualmente com o enfermeiro que cuida deles), como tudo o que quer é paz, sossego e, acima de tudo, normalidade. O mundo pode está a rachar as suas fundações até desabar numa catástrofe final, que tudo o que Carol gostaria era de poder voltar a comer no Applebee’s — uma cadeia norte-americana de pratos corriqueiros, especializada em costeletas, e que já fechou, tal como a maioria do comércio (subsistem supermercados, cuja gestão foi entregue aos militares). No fundo, Carol só quer dar valor às coisas medianas e banais que subitamente desapareceram — o que faz lembrar os nossos próprios fantasmas dos confinamentos por alturas da pandemia.

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Da autoria de Dan Guterman (que tem no currículo Colbert Report, Community ou o mais semelhante Rick e Morty), Carol & The End of The World encontra algumas parecenças com outro desenho animado para adultos da Netflix: a série de culto Bojack Horseman, também ela um tratado sobre melancolia e até depressão. Carol & The End of The World às vezes faz sorrir, raramente faz gargalhar, mas cumpre o seu propósito: fazer sentir. Guterman descreve-a como “uma carta de amor à rotina, uma série sobre os confortos da monotonia”. E o que é mais natalício, afinal, do que a ideia de que as pequenas coisas, os pequenos gestos, os pequenos prazeres contam tão mais do que os grandes?

A questão aqui é que Carol precisa tanto da banalidade, recusa de tal modo o grandioso, que tem dificuldades em funcionar neste novo status quo. Logo no primeiro episódio, há uma ótima cena em que a protagonista descobre, com consternação, que já não tem uma dívida ao banco. É o próprio CEO, agora um hippie, que lhe escreve a explicar que “só tem uma dívida perante ela própria”, num discurso a fazer lembrar o Everybody’s Free To Wear Sunscreen popularizado por Baz Luhrmann. Daí Carol só encontrar a paz quando descobre The Distraction, um escritório cheio de cubículos onde pessoas podem trabalhar como numa grande e impessoal multinacional e no qual o ponto alto é poder ter o prazer de trocar o toner da impressora. Um sítio feito para quem não quer ou não consegue lidar com o mundo lá fora. E é aqui que, de um modo sempre banal, Carol se pode revelar como uma verdadeira rebelde, mesmo sem se aperceber.

"Carol & The End of The World" é a série ideal para a depressão sazonal. Janeiro vai ser duro, é sempre o mês do ano em que o mundo parece que vai acabar

A voz da personagem principal é de Martha Kelly, comediante de stand up e atriz, conhecida sobretudo por Baskets e por ser a traficante de droga Laurie na série Euphoria. A animação é do estúdio Bardel Entertainment Inc, os mesmos de Rick and Morty, Teen Titans Go! ou Solar Opposites — mas também da nostalgia de Ren & Stimpy e Rugrats, marcos dos anos 90 e pioneiros na ponte “desenhos para putos que afinal quem vê são os adultos”.

Na verdade, esta aposta da Netflix é uma série sobre criar e manter uma comunidade, sobre o que nos faz únicos e o que nos faz, felizmente, iguais aos nossos pares. Seja aprendendo o nome dos colegas de trabalho, dando uma oportunidade ao surf ou celebrando o Natal e o Halloween em Abril. O carro de Carol tem um grafitti onde se lê Carpe Diem, que na verdade o oposto do que ela quer. Mas será que agarrar o dia não pode ser simplesmente conversar sobre como se adoram agrafadores e bolo de banana?

Estreada com 2023 quase a acabar, Carol & The End of The World é a série ideal para a depressão sazonal. Janeiro vai ser duro, é sempre o mês do ano em que o mundo parece que vai acabar. Não vai, mas o alento para aguentar essa sensação pode estar aqui.

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