A companhia de teatro Artistas Unidos vai voltar a ter casa no antigo edifício d’A Capital, no Bairro Alto, em Lisboa, de onde foi obrigada a sair em 2002 por decisão da autarquia, então presidida por Santana Lopes.
“Tínhamos um projeto de renda acessível para o antigo edifício d’A Capital, no Bairro Alto, e conseguimos adaptar os pisos inferiores para um espaço [para os Artistas Unidos]”, confirma ao Observador o vereador da Câmara Municipal de Lisboa, Diogo Moura. “Temos andado a fazer esse trabalho durante o último ano, em conjunto com os Artistas Unidos, percebendo as necessidades de alteração do espaço, que era uma loja, para um equipamento cultural e para um espaço de apresentação. Já está estabilizado como é que vai ficar o espaço para começar a obra, agora estamos a ver quando é que conseguimos prever que esteja disponível”, acrescenta o vereador. “O que importa é que a Câmara conseguiu encontrar uma solução. Já temos essa solução pelo menos de futuro garantida, que é extremamente importante tendo em conta a necessidade que existe e a procura de espaços por parte das estruturas da cidade”, sublinha.
A morada dos Artistas Unidos tem sido, desde outubro de 2011, o Teatro da Politécnica, mas no ano passado, cinco dias antes da morte do diretor e fundador dos Artistas Unidos, Jorge Silva Melo, a companhia foi informada pelo reitor da Universidade de Lisboa, proprietária do espaço, de que a instituição não tinha pretensão de renovar o contrato de arrendamento do Teatro da Politécnica, alegando que necessitava do espaço para outros serviços. A companhia apelou à CML, que intercedeu junto da Universidade de Lisboa e conseguiu que o contrato fosse prorrogado até junho de 2024. Na época, a Time Out Lisboa avançou a possibilidade do regresso ao Bairro Alto, hipótese agora confirmada pelo Observador junto da autarquia.
Pedro Carraca, dos Artistas Unidos, diz que “está garantida a vontade” da Câmara de Lisboa, mas frisa que falta ainda perceber se o espaço tem o pé alto necessário para fazer a teia e uma bancada. “Já tivemos reuniões e acessos a algumas das plantas, mas não ao plano de corte que é o que nos dá a altura”, explica ao Observador, por telefone. “Vemos com alguma apreensão esta demora”, comenta, salientando que a questão da “altura é incontornável”.
“Faria todo o sentido para nós voltar à Capital 20 anos depois”, diz, aludindo ao facto de o espaço ser precisamente o “mesmo edifício” onde a companhia já esteve. Só que em vez de ocupar “três edifícios, até ao quarto andar”, como outrora, ocupará “a cave e o rés do chão de um edifício”, um espaço “com uma área simpática”, descreve. Situado entre as ruas do Norte e do Diário de Notícias, o edifício em causa está degradado há vários anos, praticamente desde que os Artistas Unidos saíram, em 2002, “por motivos de segurança”, disse-se então. Em 2012, a Câmara (então presidida por António Costa) fez um acordo com a sua empresa de estacionamento, a EMEL, que previa a construção de um silo automóvel, mas a Direção-Geral do Património Cultural (DGPC) acabaria por chumbar o projeto. Em 2020, soube-se que esse quarteirão ia, afinal, ter casas para arrendar a custos controlados. É no rés do chão e na cave de um desses prédios de renda acessível que ficará a companhia.
Artistas Unidos sem casa a partir de 1 de agosto
Se há um futuro a médio prazo à vista, o encenador e membro dos artistas Unidos Pedro Carraca alerta para o futuro próximo: a 31 de julho termina o contrato com a Universidade de Lisboa e a companhia tem de sair do Teatro da Politécnica. “Temos de sair em julho, ainda sem certeza de onde estaremos a 1 de agosto”, alerta.
“Até termos este espaço que a Câmara vai ter e resolver definitivamente a situação dos Artistas Unidos, temos de voltar a ter este contacto com a Universidade de Lisboa, e, se for preciso, com o ministério da Cultura, para perceber até lá como é que vamos resolver a sua permanência naquele espaço ou uma outra alternativa”, diz Diogo Moura. “Estamos a procurar alternativas”, garante o vereador da Cultura ao Observador, que escolhe focar-se no futuro: “Há um ano e meio conseguiu-se prorrogar esse contrato, vamos ver agora como é que vamos gerir num futuro próximo essa manutenção. O que importa é que a CML conseguiu encontrar uma solução.”
Para os Artistas Unidos, prologar a morada na Rua da Escola Politécnica seria a situação ideal. “Era muito mais fácil mantermo-nos na Politécnica até fazermos a mudança definitiva, seja do ponto de vista da bancada, da teia elétrica, etc”, justifica Pedro Carraca. Ir para um novo espaço temporário comportaria “um investimento financeiro”, “dinheiro que precisaremos para um futuro espaço”, aponta.
Caso seja necessário fazer uma mudança intermédia, é mais uma morada no já longo périplo da história dos Artistas Unidos. A companhia formada a partir do grupo que estreou, em 1995, António, um Rapaz de Lisboa, de Jorge Silva Melo, fixou-se em 1999 num enorme edifício em pleno Bairro Alto temporariamente cedido pela Sojornal, nessa altura ainda proprietária e com o acordo da Câmara Municipal de Lisboa que, num processo de permuta entretanto já assinado em 2001, passou a deter a sua posse. Ali, n’A Capital / Teatro Paulo Claro, apresentaram espetáculos ininterruptamente a partir de 27 de Janeiro de 2000 e até 29 de agosto de 2002, quando foram obrigados a sair do espaço por decisão da autarquia. Na década seguinte, sem sítio fixo, a companhia passaria por lugares como uns armazéns no Braço de Prata (2002-2003), o Teatro Taborda (até junho de 2005), o antigo Convento das Mónicas (até 2008), e muitos outros espaços e salas temporárias. Fixaram-se finalmente em 2011 no Teatro da Politécnica, na sequência de um contrato com a Universidade de Lisboa, que foi sendo renovado.