Começam a ser desvendados os contornos do ataque que esta quinta-feira provocou a morte de, pelo menos, 13 pessoas (informação inicial era de 14, mas o número foi revisto esta sexta-feira em baixa pela polícia) numa universidade na capital da República Checa, assim como a teia em que se movimentou o atirador nos últimos dias e horas. A polícia está a investigar a ligação do atacante à morte de um homem — o próprio pai — na manhã de quinta-feira, assim como ao homicídio de duas outras pessoas, incluindo uma bebé de dois meses, na semana passada, perto de Praga.

Numa conferência de imprensa ao final da tarde desta quinta-feira, a polícia procurou encadear os acontecimentos das últimas horas. O corpo do pai do atacante, cujo nome a polícia pediu que não fosse divulgado, foi encontrado numa casa em Hostouň, uma localidade pequena a ocidente de Praga, onde os dois morariam, pelas 12h40 (menos uma hora em Portugal continental). O filho era, já na altura, suspeito — o chefe da polícia de Praga, Martin Vondrasek, viria a indicar aos jornalistas que saiu da localidade “a dizer que queria matar-se” — e a polícia, sabendo que teria uma aula na universidade pelas 14h00, ordenou a evacuação do edifício para onde acreditava que se deslocaria. No entanto, o suspeito entrou noutro edifício, subiu para o telhado e, a partir daí, começou a disparar. A polícia não confirmou, mas também não desmentiu, o envolvimento do atirador na morte do pai.

Atirador faz 13 mortos e 25 feridos em universidade de Praga. Autor dos disparos morreu

PUB • CONTINUE A LER A SEGUIR

O primeiro alerta para os desenvolvimentos na universidade foi recebido pela polícia às 14h59 (13h59 em Lisboa), para um ataque com tiros na Praça Jan Palach, perto de vários pontos turísticos de Praga, como a ponte de Charles. Os primeiros agentes chegaram ao local em poucos minutos (já uma equipa Swat demorou 12 minutos). Pelas 15h20, as autoridades receberam a informação de que o corpo do atirador estava caído num parapeito do edifício. Não é, ainda, claro se se suicidou ou se foi abatido pela polícia — segundo o The Guardian, embora pareça que o atirador se terá suicidado, a polícia também disparou tiros.

O que a polícia já descartou foi a ligação a terrorismo internacional e a hipótese de não ter agido sozinho. Em cima da mesa, segundo Martin Vondrasek, está a possibilidade de o atacante se ter inspirado por um acontecimento semelhante “no estrangeiro” — concretamente na Rússia. A polícia adianta que obteve essa informação através de uma “conta numa rede social”. Meios de comunicação local dizem que poderá tratar-se de um ataque em Bryansk, no sul da Rússia, perpetrado por uma jovem de 14 anos que disparou sobre colegas na escola.

A polícia também revelou que o atirador estava na posse de armas de forma legal, mas não deu mais detalhes sobre o assunto. Segundo o The Guardian, a legislação checa reconhece o “direito de adquirir, manter e carregar armas de fogo”.

Além da ligação do atirador à morte do pai, a polícia investiga a ligação a outras duas mortes — uma bebé de dois meses e o progenitor — que aconteceram na semana passada, na floresta de Klanovicky, perto de Praga.

As alegadas mensagens no Telegram

Com 24 anos, o jovem estudava História na Faculdade de Letras da Charles University, em Praga, e, segundo as autoridades, tinha um elevado aproveitamento escolar. A BBC escreve que, no início do ano, um homem com o mesmo nome venceu um prémio do Instituto Polaco de Praga por uma tese de licenciatura sobre a revolta de Cracóvia de 1846.

Vários meios de comunicação social publicaram uma fotografia do homem, com uma arma preta no telhado de um edifício. Durante o ataque, professores e alunos da universidade receberam um email onde pediam que se abrigassem enquanto decorria uma operação policial. Sugeriam mesmo que se estivessem nas salas de aula trancassem a porta, incluindo com móveis que dificultassem a entrada, e que desligassem as luzes. Esse foi o cenário visível em várias fotografias publicadas durante o ataque nas redes sociais por estudantes. Um deles disse que estava a aguardar para ser retirado do local mesmo já sabendo que o atirador tinha morrido.

Houve, também, quem se tivesse escondido nos estreitos parapeitos do lado de fora das janelas superiores. Os meios de comunicação da República Checa noticiaram que se ouviu uma explosão antes de o homem ter começado a disparar do topo do edifício. As autoridades fecharam a Praça Jan Palach e a área adjacente ao edifício da universidade.

O ministro da Administração Interna, Vit Rakusan, disse em conferência de imprensa que várias armas foram encontradas no edifício da universidade.  Segundo a polícia, o ataque foi “violento” e “premeditado”.

Uma testemunha, citada pelo The Telegraph, explicou que viu o atirador a erguer as mãos e a deixar cair a arma a certa altura. “Em cima, no parapeito da Faculdade de Letras, vi um homem de pé com uma arma na mão e a disparar em direção à ponte de Mánes. Depois levantou as mãos e atirou a arma para o chão, que ficou caída junto à faculdade de filosofia. Depois apareceu muita gente lá em cima, não sei se era a polícia. Saí da janela e vi a polícia retirar as pessoas da Faculdade de Filosofia, com as mãos atrás da cabeça, em diferentes direções, um grande número de carros, pessoas a correr”.

A polícia checa já disse que as embaixadas estrangeiras ainda estavam a trabalhar para verificar as identidades das vítimas, cuja nacionalidade não é ainda conhecida. Os meios de comunicação locais falam num ataque “sem precedentes” na história do país.

Alguns meios de comunicação citam, ainda, mensagens que serão alegadamente da autoria do atacante, no serviço de mensagens Telegram, onde, em russo, terá escrito que tinha o sonho de levar a cabo um “ataque numa escola e possivelmente suicídio” e mostrava admiração pelo ataque ocorrido na Rússia. Mas a informação não foi confirmada pela polícia.

O Presidente checo, Petr Pavel, diz-se chocado e enviou condolências às famílias das vítimas. O primeiro-ministro, Petr Fiala, cancelou uma viagem ao leste do país e regressou a Praga. Vários líderes europeus enviaram condolências, incluindo Ursula Von der Leyen, presidente da Comissão Europeia, o primeiro-ministro dos Países Baixos, Mark Rutte, o primeiro-ministro húngaro, Viktor Orban, ou o Presidente português, Marcelo Rebelo de Sousa — que “expressou solidariedade para com as vítimas e as suas famílias, após o hediondo ataque ocorrido numa universidade em Praga, desejando a rápida recuperação de todos os feridos”.

Segundo a polícia, do ataque resultaram 13 mortos e 25 feridos, dos quais dez são graves.

(Notícia atualizada no dia 22 de dezembro às 12h56 com o novo balanço do número de vítimas mortais feito pela polícia)