Se o Boxing Day é quase uma tradição natalícia para quem gosta de futebol, com um lugar confortável e o comando ao lado no sofá no dia 26 para ligar a TV, o aparecimento de um jogo da Premier League em plena véspera de Natal não constitui propriamente a coisa mais normal do mundo. Pelo contrário. Aliás, desde que nasceu a competição enquanto Premier “substituindo” a antiga Primeira Liga inglesa, só mesmo na época de de 1995 houve algo do género, com o Manchester United de Alex Ferguson a perder frente ao Leeds. Bem ou mal, pela primeira vez este século jogava-se em Inglaterra no dia 24 para fechar a 18.ª jornada da prova, com um Wolverhampton em crescendo a defrontar um Chelsea que é sempre uma incógnita. Não sendo o grande jogo da ronda, permitia perceber em que ponto estão os londrinos antes de mais uma janela de mercado.

200 milhões em vendas, saídas a custo zero e muitos negociáveis: como o Chelsea está a arrumar a casa depois da época de terror

Mauricio Pochettino, o “corajoso” que assumiu o comando técnico de um clube que entrou numa espiral de gastar, gastar e gastar sem qualquer resultado desportivo desde que o consórcio liderado pelo americano Todd Boehly comprou o capital social a Roman Abramovich, já foi deixando algumas “dicas” em relação à necessidade de reforços em janeiro, mesmo tendo em conta que o saldo voltou a ser negativo em mais de 200 milhões entre os 467 milhões investidos para apenas 269 milhões realizados em vendas (sendo que pelo meio houve uma cláusula quase anti-Chelsea que permite que existam contratos por mais de cinco anos, por forma a que os valores de transação não fiquem diluídos em termos contabilísticos no tempo). Problema? Continua a não existir um fio condutor em Stamford Bridge. Um fio condutor no projeto desportivo, um fio condutor para o futuro do clube, um fio condutor na ideia de jogo. E o argentino “explodiu” em conferência.

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“Os jogadores têm de perceber que o Chelsea não é uma instituição de caridade, onde vamos brincar e jogar futebol. Nós precisamos de ganhar. É por isso que, por vezes, fico tão desapontado com alguns dos profissionais. É difícil entender quem rodeia os jogadores, pessoas que se queixam quando eles não jogam. Eu é que fico dececionado com um jogador que devia ser importante para a equipa e que não nos está a ajudar. Isto incomoda-me. As pessoas queixam-se… O clube é que fica dececionado porque investiu muito dinheiro em jogadores para terem bons desempenhos e marcarem golos. Quando eles não marcam, dizemos: ‘Ok, pagamos o salário todos os meses, mesmo que não joguem, ou joguem mal, ou estejam lesionados'”, atirou o treinador dos blues, comentando as queixas de agentes e familiares de jogadores menos utilizados.

Na última partida o Chelsea até teve um raro momento de felicidade, com o triunfo nas grandes penalidades frente ao Newcastle a valer uma passagem às meias-finais da Taça da Liga onde irá defrontar a duas mãos o Middlesbrough, do Championship (na outra eliminatória há Liverpool-Fulham). No entanto, o percurso na Premier League continua a ser um autêntico calcanhar de Aquiles. As ausências em nada ajudam (só para este encontro estavam de fora Caicedo, Enzo Fernández, Chukwuemeka, Ben Chilwell, Cucurella, Fofana, Chalobah, Reece James e Robert Sánchez) mas os resultados continuavam a ser curtos para tanto dinheiro investido, com os londrinos a chegarem ao Molineux com apenas duas vitórias e três derrotas nos últimos seis jogos na Premier League, que deixavam a equipa na décima posição. Assim ficaram, agora com o Wolves com os mesmos 22 pontos. E aqueles chapéus de Pai Natal distribuídos pelos adeptos visitantes antes do encontro mais não eram do que a caricatura de uma equipa com demasiado barretes…

A primeira parte acabou por ser sobretudo reflexo de um dos principais problemas do Chelsea: onde fazer, quando fazer e como fazer a diferença no último terço. Gallagher conseguia linhas de saída que deixavam a recuperação do Wolves sem reação, Sterling e Cole Palmer provocavam os desequilíbrios antes de fazerem as assistências mas Nicolas Jackson e Broja, por uma ou outra razão, não marcavam. Ou recebiam mal, ou iam no sentido errado, ou procuravam novo passe em vez do remate, aconteceu de tudo um pouco. Nem mesmo em situações de 3×0 contra José Sá o Chelsea conseguia marcar, com João Gomes a ter um erro crasso que permitiu a Sterling surgir isolado com companheiros ao lado mas a permitir a defesa do português (32′).

Depois, surgiu o problema habitual em equipas que enfrentam um contexto como aquele que os londrinos têm agora: não marcam, não conseguem ficar mais confortáveis no encontro, começam a tremer ao mínimo sinal de ameaça do adversário. Foi isso que aconteceu ainda na primeira parte, com Pablo Sarabia a lançar na profundidade Hwang para o remate que saiu por cima. Foi isso que aconteceu no arranque da segunda parte, com João Gomes a ter um tiro de meia distância que passou a rasar o poste depois de bater na mão de Lesley Ugochukwu, Toti Gomes a ver Petrovic defender na linha num desvio de cabeça ao segundo poste após centro da direita e Lemina a inaugurar o marcador de cabeça na sequência de um canto (51′).

O Chelsea tinha apesar de tudo uma parte quase inteira para encontrar a força e a razão para tentar ainda uma reação que pudesse no mínimo evitar nova derrota na Premier League. Pochettino, que assistiu com um ar desolado no banco ao 1-0 do Wolverhampton, não demorou a lançar em campo Mudryk e Nkunku, uma espécie de reforço antecipado de janeiro após recuperar de uma lesão grave no joelho. Sobretudo devido à influência do francês, os blues melhoraram e foram criando oportunidades entre um corte em cima da linha de Toti Gomes e uma defesa de José Sá a remate de Sterling. No entanto, a pausa para assistência a Dawson acabou com esse ímpeto, voltando o total deserto de ideias até ao vagaroso caminhar até nova derrota sentenciada em período de descontos por Matt Doherty, em mais um erro crasso de Badiashile (90+3′). O máximo que o Chelsea conseguiu ainda foi reduzir pouco depois com a estreia a marcar de Nkunku (90+6′).